O NEOCOM

 O triplo jogo dos Neo-conservadores (neocons) Laurent Guyénot

Para atingir os seus sonhos de domínio mundial, os neo-conservadores (neocom) desenvolveram um triplo discurso, como mostra Laurent Guyénot:

1) uma filosofia cínica elaborada pelo seu mentor Léo Strauss, para consumo interno; 

2) uma calculada análise dos interesses estratégicos sionistas; 

3) alarmismo sensacionalista para a opinião pública dos EUA 

O neo-conservadorismo é percebido como uma extremo-direita republicana, na realidade é um movimento intelectual nascido no fim dos anos 1960 veiculado pela revista mensal Commentary, orgão de imprensa do American Jewish Committee (Comité Judaico Americano), sucessor do Contemporary Jewish Record em 1945. The Forward, o mais antigo diário judeu americano, escreveu num artigo de 2006: «Se há um movimento intelectual na América o qual os judeus podem reivindicar a autoria, é o neo-conservadorismo. Este movimento horrorizará a maioria dos judeus americanos, maioritariamente liberais (o liberal americano corresponde, a grosso modo, ao esquerdista europeu. Enquanto filosofia política, o neo-conservadorismo nasceu entre os filhos dos imigrantes judeus, atualmente, é o domínio particular dos netos destes imigrantes. O apologista do neo-conservadorismo, Murray Friedman, explica isto pelo sentido de benemerência inerente ao judaísmo, "a ideia de que os judeus foram colocados sobre a terra para fazer um mundo melhor, talvez mesmo até mais sagrado". 


Do mesmo modo que se fala da "direita cristã" como uma força política nos EUA fala-se dos neocons como representando a "direita judia". No entanto, esta caracterização é problemática por três razões:


1) os neocons não passam de um clã, são fortes na Conference of Presidents of Major American Jewish Organizations (Conferência de Presidentes das Principais Organizações Judaicas Americanas) . O jornalista Thomas Friedman do New York Times contabiliza 25 organizações, a propósito das quais ele escreveu em 2003: "se eles estivessem exilados numa ilha deserta há um ano e meio atrás, a guerra do Iraque não teria acontecido". Os neocons compensam o seu pequeno número pela multiplicação dos seus Committees, Projects e outros think-tanks que lhes conferem uma espécie de ubiquidade, mas a sua filosofia permanece o apanágio de um pequeno número.


2) os neocons da primeira geração vêm todos da esquerda, alguns da extrema esquerda trotskista como Irving Kristol, um dos principais redatores da Commentary. No final dos anos 60, que a redação da Commentary começa uma viragem à direita rompendo com a New Left pacifista (Nova Esquerda), encarnada por George McGovern. Norman Podhoretz, redator-chefe da Commentary, de 1960 até 1995, foi um militante anti-Vietnã até 1967, para tornar-se, nos anos 70, um fervoroso advogado do aumento do orçamento da Defesa. Nos anos 1980, ele opõe-se à política de “détente” (distensão) no seu livro 'The Present Danger' (O Perigo Actual). Advoga pela invasão do Iraque nos anos 90, e de novo nos anos 2000. Em 2007, seu filho John Podhoretz é o redactor-chefe da Commentary, e clama pela urgência de um ataque americano contra o Irã;


3) contrariamente aos cristãos evangélicos com os quais eles se associam muitas vezes, os neocons não apregoam o seu judaísmo. Tenham ou não sido marxistas, eles são maioritariamente não-religiosos. A filosofia que reivindicam (Norman Podhoretz e o seu filho John, Irving Kristol e seu filho William, Donald Kagan e o seu filho Robert, Paul Wolfowitz, Abram Shulsky) é a de Leo Strauss, de modo que os neocons se autodefinem como «straussianos». 


Strauss, nascido de uma família de judeus ortodoxos alemães, foi aluno e colaborador de Carl Schmitt, politólogo, geopolítico, especialista em Thomas Hobbes, admirador de Mussolini, teórico de uma «teologia política» na qual o Estado se apropria dos "atributos de Deus"; jurista renomado do Terceiro Reich. Após o incêndio do Reichstag em fevereiro de 1933, foi Carl Schmitt quem forneceu o quadro jurídico justificando a suspensão dos direitos e a instalação da ditadura. Foi Schmitt que, em 1934, obteve da Rockefeller Foundation uma bolsa para estudar Thomas Hobbes em Londres, e depois Paris, por fim foi professar em Chicago. 

Leo Strauss (1899-1973). O pensamento de Leo Strauss é delicado, exprime-se comumente citando autores clássicos. Seus discípulos como Allan Bloom ou Samuel Huntington, tem o cuidado de embelezar as suas ideias mais radicais de Strauss com intenções de princípios humanistas. Seja como for três princípios fundamentais podem facilmente ser extraídos da sua filosofia política, pouco diferente da de Carl Schmitt:

1) as nações tiram a sua força dos seus mitos, que são indispensáveis para o governo dos povos.

2) os mitos nacionais não precisam ter relação necessária com a realidade histórica. São construções culturais que o Estado tem o dever de difundir.

3) para ser eficaz, todo o mito nacional deve ser fundado sobre uma distinção clara entre o bem e o mal, e daí tirar a sua força aglutinadora do "ódio concentrado a um inimigo da nação". Estudiosos como Abram Shulsky e Gary Schmitt atestam que para Strauss, "o logro é a norma em política",  regra que eles aplicaram ao fabricar, no seio do "Office of Special Plans" (OSP, Gabinete de Planos Especiais), a mentira das "armas de destruição em massa", de Saddam Hussein, algo inexistente. Na sua maturidade, Strauss foi um grande admirador de Maquiavel, que ele pensava ter reinventado e reinterpretado melhor que ninguém. Nas suas Réflexions sur Machiavel (Reflexões sobre Maquiavel), ele se separa dos intelectuais que tentam reabilitar o florentino contra o senso comum que o toma por amoral. Ao contrário, Strauss adota a amoralidade absoluta de Maquiavel, na qual ele vê toda a fonte do seu gênio revolucionário: "valorizamos a opinião corrente sobre Maquiavel, não apenas porque é completa mas, sobretudo, porque não levar esta opinião a sério nos impediria de fazer justiça àquilo que é verdadeiramente admirável em Maquiavel: o carácter intrépido do seu pensamento, a grandeza da sua visão e a sutileza graciosa do seu discurso. O pensamento de Maquiavel é tão puro e radical que as suas implicações últimas não poderiam ser expostas abertamente: "Maquiavel não pode ir até ao fim do percurso; a parte final do caminho deve ser feita pelo leitor que compreenderá o que foi omitido pelo autor''. Strauss é o guia que permite aos espíritos eleitos (os seus alunos neocons seguir a estrada até ao fim: "descobrir a partir dos seus escritos o que Maquiavel considerava como a verdade é difícil, mas não é impossível". A verdade profunda de Maquiavel, que só o straussiano pode encarar, não é um sol ofuscante mas sim um buraco negro, um abismo que só o straussiano pode contemplar sem se transformar em um completo idiota. Resumindo, "o universo não se preocupa absolutamente com a espécie humana, o indivíduo é nada além de um insignificante e dispensável grão de areia, não existe nem bem nem mal, e é ridículo preocupar-se minimamente com a salvação da alma, a única realidade que pode levar à imortalidade é a nação, e Maquiavel é o mais perfeito patriota, e o straussianismo é a forma mais pura do maquiavelismo, reservada apenas aos eleitos". 

Existem straussianos entre os arautos do imperialismo americano, mas é à causa de Israel que se devotam, prioritariamente, os neocons. O que os caracteriza não é tanto o judaísmo enquanto tradição religiosa, mas o sionismo enquanto causa nacional, causa que implica não somente a segurança de Israel, mas principalmente a sua expansão a toda a Palestina, o Grande Israel. Se o sionismo é sinônimo de patriotismo em Israel, já não é tão atraente como um movimento político nos Estados-Unidos, mais leal a um estado estrangeiro do que a si mesmo. Daí que os neocons, gênios do maquiavelismo e da hipocrisia absoluta, não se reclamam como sionistas na cena política norte-americana, mas também não o escondem.  Elliott Abrams, conselheiro nacional de segurança na administração de Bush filho, escreveu no seu livro La Foi ou la Peur (a Fé ou o Medo), 1997, sobre como podem os judeus sobreviverem por cima numa América cristã. Dificilmente se encontraria uma melhor definição do sionismo, cujo corolário é o apartheid praticado contra os não-judeus da Palestina, defendido ainda por Douglas Feith nas suas "Réflexions sur le libéralisme, la démocratie et le sionisme" (Reflexões sobre o liberalismo, a democracia e o sionismo), pronunciadas em Jerusalém: "Há no mundo um lugar para as nações não-étnicas e um outro lugar para as nações étnicas". Os neocons são sionistas, suas escolhas em política externa coincidem sempre perfeitamente forma com o interesse de Israel, a ponto de suscitar interrogações severas sobre a sua lealdade principal. O interesse de Israel é desde sempre definido como dependente de duas coisas: a imigração dos judeus da Europa do Leste e o apoio financeiro dos judeus do Ocidente (americanos e europeus). Até 1967, o interesse nacional fazia Israel pender para a União Soviética, enquanto o apoio dos judeus americanos era restrito. A orientação socialista e coletivista os inclinavam fortemente para a URSS, inclusive a imigração maciça de judeus para os EUA não seria possível sem a boa vontade do Kremlin.  Os ingleses limitaram, até certo ponto, a imigração de judeus para a Palestina, até por consideração para com a população árabe, contigo, 200.000 judeus polacos refugiados na URSS foram autorizados a viajar para a Palestina, outros vieram da Roménia, da Hungria e da Bulgária.

 A guerra dos Seis Dias marcou uma viragem, em 1967, Moscou protesta contra a anexação de novos territórios por Israel e rompe as suas relações diplomáticas com Telavive, e para subitamente de emigração seus cidadãos judeus, que já tinha sido acelerada nos meses anteriores. Foi a partir da "guerra dos seis dias" que a Commentary se torna, segundo Benjamin Balint, "a revista que transformou a esquerda judia numa direita neocom". Desde aí, os neocons tomam consciência de que a sobrevivência de Israel depende de sua expansão territorial, mas, o mais importante de tudo, depende da ajuda e da permanente proteção militar norte-americana. E também compreendem que a contínua imigração só poderá ser atingida se houver a queda da URSS. Esses objetivos convergem na necessidade de reforçar o poder militar dos Estados-Unidos. Esta é a razão pela qual, escreve Irving Kristol na revista do American Jewish Congress (Congresso Judeu Americano), em 1973, que é preciso combater a proposta de George McGovern de reduzir o orçamento militar em 30 %: "isso é colocar uma faca no coração de Israel. [...] Os judeus não gostam de grandes orçamentos militares, mas, agora, é do interesse dos judeus ter um grande e poderoso aparelho militar nos Estados-Unidos. [...] Os judeus americanos que se preocupam com a sobrevivência do Estado de Israel devem dizer ‘não, nós não queremos reduzir o orçamento militar, é importante conseguir um grande orçamento militar, afim de poder defender Israel". Compreende-se melhor a realidade de que Kristol falava, quando ele definia, numa fórmula célebre, um neocom, "é um liberal que teve de cair na real". 

No final dos anos 60, os neocons apoiam a ala militarista do partido democrata, cuja figura de proa, após a retirada de cena Lyndon Johnson, é o senador Henry Scoop Jackson, partidário da guerra do Vietnã e opositor de qualquer ideia de "détente" com a URSS. Richard Perle redige então uma emenda (Jackson-Vanik) que condiciona a ajuda alimentar à URSS à livre emigração dos judeus. Foi também no seio do gabinete de Scoop Jackson que se forjou a aliança entre os neocons e os falcões  Rumsfeld-Cheney, que aproveitam a crise do Watergate para aderir ao campo republicano e investirem para a Casa-Branca. Perle coloca seus protegidos Paul Wolfowitz e Richard Pipes à cabeça do "Plano B", um conselho criado amplificar as estimativas da CIA sobre a ameaça soviética, através de relatórios maliciosamente alarmistas, visando a um drástico aumento do orçamento da Defesa, tudo é publicado na Commentary. Durante o parênteses Jimmy Carter, os neocons associam-se aos cristãos evangélicos, visceralmente anti-comunistas e naturalmente favoráveis em relação a Israel, que eles vêem como um milagre divino e o retorno de Cristo.

Graças à força dos seus lobbies e think-tanks (nomeadamente o American Enterprise Institute for Public Policy Research e o Hudson Institute), os neocon jogam uma cartada decisiva na eleição de Ronald Reagan, que lhes retribui nomeando uma dezena deles para postos-chave que vão desde a Segurança Nacional até à Política Externa: Richard Perle e Douglas Feith para o Department of Defense, Richard Pipes para o National Security Council, Paul Wolfowitz, Michael Ledeen para o State Department e outros. Eles trabalham para reforçar a aliança Estados-Unidos/Israel: em 1981, os dois países assinam o seu primeiro pacto militar, depois embarcam em várias operações comuns, algumas legais e outras clandestinas como a rede de tráfico de armas e de operações paramilitares do negócio Irã-Contras. Anti-comunismo e sionismo estão, agora, perfeitamente coligados, a tal ponto que em 1982, no seu livro Le Vrai antisémitisme en Amérique (O real anti-semitismo na América), o diretor da Anti-Defamation League, Nathan Perlemutter chamou o movimento pacifista de «ultrapassados artesãos da paz do Vietnã, espadas não são relhos de arados". Ser facifista equivalia a ser antissemita. 

Com o fim da Guerra fria, o interesse nacional de Israel mudou de novo. O objectivo prioritário não precisava mais ser a queda do comunismo, mas sim o enfraquecimento dos inimigos de Israel. Os neocons passaram do anti-comunismo radical à islamofobia, criam novos think tanks como o Washington Institute for Near East Policy (Instituto de Washigton para a Política do Próximo-Oriente,  WINEP) dirigido por Richard Perle, o Middle East Forum dirigido por Daniel Pipes (filho de Richard), o Center for Security Policy (CSP) fundado por Frank Gaffney, e ainda o Middle East Media Research Institute (Instituto de Pesquisa para o Médio-Oriente, Memri. Entretanto, ao chegar Bush pai, presidente, chamou esse pessoal de "os loucos". Bush pai não se conta entre os mais insensatos presidentes americanos, cultivou relações com a Arábia saudita e não é um amigo de Israel. Mas é forçado a conceder o posto de secretário da Defesa a Dick Cheney, que traz Paul Wolfowitz e Scooter Libby. Estes dois são os autores de um relatório secreto do Defense Planning Guidance (Guia do Planeamento de Defesa), passado à imprensa e que prega o imperialismo, o unilateralismo, o excepcionalismo, e, se necessário, a guerra preventiva «para dissuadir os potenciais competidores a sequer aspirar a um papel regional maior. Com a ajuda de um novo Committee for Peace and Security in the Gulf (Comité para a Paz e Segurança no Golfo), co-presidido por Richard Perle, os neocons advogam pela derrubada de Saddam Hussein logo após a operação Tempestade do Deserto no Kuweit. Desapontados com a recusa de Bush pai de invadir o Iraque, os neocons conseguem sabotar um seu segundo mandato. Pior, sua desforra será completa quando levam seu filho, completamente dominado, para a presidência e para a invasão do Iraque. Como vcs vêem, neocons podem ser o que vc quiser, só não são amadores. 

No intervalo entre pai e filho, entrou o democrata Bill Clinton, os neoconservadores. William Kristol, filho de Irving, funda em 1995 uma nova revista, o Weekly Standard, graças ao financiamento do pró-sionista Rupert Murdoch, a revista se torna a voz dominante dos neocons. Em 1997, é a primeira publicação a exigir uma nova guerra contra Saddam Hussein. Com Rumsfeld e Cheney, os neocons lançam todo o seu peso no think tank, o Project for the New American Century (PNAC) - (Projecto para o Novo Século Americano). Os fundadores, William Kristol e Robert Kagan falam de "ampliar a atual Pax Americana", ou seja, na prática, FFAAS capazes de responder aos desafios presentes e futuros". No seu relatório de setembro de 2000 intitulado Reconstruir as Defesas da América, o PNAC antecipa que as forças armadas dos Estados-Unidos devem conservar forças suficientes para serem «capazes de se desdobrar rapidamente e de conduzir vitoriosamente vários grandes conflitos pelo mundo simultaneamente". Isto vai requerer uma transformação profunda, incluindo um novo corpo (U.S. Space Forces) para o controle do espaço e do ciberespaço, e o desenvolvimento de «uma nova família de armas nucleares destinadas a fazer face às novas necessidades militares". Infelizmente, reconhecem os autores do relatório, «o processo de reconversão [...] será seguramente longo, a menos que surja um acontecimento catastrófico jogando o papel de catalisador, como um novo Pearl Harbor". Ainda quando fora do governo, os neocons continuam a exercer enorme influência intelectual e são os verdadeiros mestres da agitação subterrânea.

Com a designação em 2000 de George Bush Jr, filho de George Bush, uns vinte neocons do PNAC são imediatamente investidos em numerosos postos chave da política externa, graças a Dick Cheney. Cheney escolhe-se a si mesmo como vice-presidente, como chefe de gabinete Scooter Libby. David Frum, um próximo de Richard Perle, é o principal redator dos discursos de Bush, Ari Fleischer, outro neocom é adido de imprensa e porta-voz da Casa-Branca. Cheney não consegue se opor à nomeação de Colin Powell como secretário de Estado, mas impõe o colaborador, John Bolton, republicano sionista extremado, e ainda o neocom David Wurmser. Cheney nomeia Condoleezza Rice, conselheira de segurança nacional, ligada há vários anos a um dos neocons mais fanáticos e agressivos, Philip Zelikow, perito do Próximo-Oriente e conhecedor do terrorismo. Para assessorar Rice são recrutados William Luti e Elliot Abrams. Será a partir do Departamento da Defesa, confiado a Donald Rumsfeld, que os três neocons mais influentes vão modelar a política externa americana: Paul Wolfowitz, Douglas Feith e Richard Perle, este último, director do Defense Policy Board (Gabinete da Política de Defesa), encarregado de definir a estratégia militar. Assim, todos estes neo- conservadores se encontram no lugar que eles preferem, o de conselheiros e eminências pardas dos presidentes e ministros. Faltava ainda o "novo Pearl Harbor", o dia 11 de setembro de 2001, para que os neocons possam conduzir os Estados Unidos para as guerras imperiais dos seus sonhos maquiavélicos, straussianos. Antes do 11 de Setembro, o relatório do PNAC pedia um orçamento anual da Defesa de 95 bilhões de dólares; desde a guerra no Afeganistão, os Estados-Unidos despendem 400 bilhões por ano, ou seja tanto o resto do mundo todo somado, e fornece a metade do armamento do mercado mundial. O 11 de Setembro apareceu como a validação do paradigma do "Choque das civilizações", de Huntington, tão caro aos neocons.

A obra publicada em 2007 por John Mearsheimer e Stephen Walt, Le lobby pro- israélien et la politique étrangère américaine (O lobbi pró-israelita e a política estrangeira Americana), provocou uma onda de choque na opinião pública americana ao revelar a considerável influência dos grupos sionistas, dos quais o mais antigo é a Zionist Organization of America (Organização Sionista da América) e o mais influente de todos desde os anos 70, o American Israel Public Affairs Committee (Comité de Relações Públicas Americano-Israelita) (AIPAC). "Nós pensamos, escrevem os autores, que as actividades do lobbie são a principal razão pela qual os Estados-Unidos prosseguem no Oriente-Médio com uma política incoerente, anti-estratégica e imoral". A tese dos autores está incompleta, eles não trazem à luz o papel desempenhado no próprio interior do aparelho de Estado pelos neocons, que formam o sufocante braço de uma tenaz, mantendo os Estados- Unidos prisioneiros de seu straussianismo.

As duas forças que constituem os cripto-sionistas infiltrados no governo e a pressão do lobbie pró-Israel sobre o Congresso agem como uma autêntica panelinha, frequentemente criminosa, como demonstrou, em 2005, Lawrence Franklin, membro do Office of Special Plans: Steven Rosen e Keith Weissman transmitiram documentos classificados da defesa a dois responsáveis do AIPAC, que os transmitiram por sua vez a um alto funcionário de Israel. Franklin foi condenado a treze anos de prisão (reduzidos em seguida a dez anos de prisão domiciliar), enquanto que Rosen e Weissman foram inocentados. A maior parte dos neocons são membros ativos de um segundo lobbie pró-Israel, o poderoso Jewish Institute for National Security Affairs (Instituto Judaico para os Assuntos de Segurança Nacional, JINSA), ao qual pertencem Dick Cheney, Ahmed Chalabi e outros membros da cabala que fomentou a invasão do Iraque. Colin Powell, segundo sua biógrafa Karen DeYoung, vociferava em privado contra o "o governozinho paralelo" composto por "Wolfowitz, Libby, Feith, and Feith’s, o QG da Gestapo, que ele chamava de "a cambada do JINSA".

Em 2011, o antigo diretor de gabinete da Presidência, Lawrence Wilkerson, denunciava abertamente a duplicidade dos neocons, "Eu via muitos destes tipos, incluindo Wurmser, como membros do Likud, tal como Feith. Vós não iríeis abrir a sua carteira para lá encontrar um cartão do partido, mas eu perguntei-me muitas vezes se a sua lealdade principal era para com os EUA, o seu país, ou para com Israel. Era o que me incomodava, porque o muito que fizeram e disseram refletia mais os interesses de Israel que os nossos". De facto, um numero significativo de neocons são cidadãos israelitas, tem a família em Israel ou aí residiram eles próprios. Diversos deles são declaradamente próximos do Likud, o partido no poder em Israel, e vários deles foram mesmo oficialmente conselheiros de Benyamin Netanyahu. Muitos neocons "americanos" são regularmente felicitados pela imprensa israelita pela sua acção em favor de Israel, como Paul Wolfowitz, nomeado "A Personalidade do Ano", pelo radicalmente pró-Likud, o Jerusalém Post, em 2003, e "a mais belicista voz pró-Israelita da administração americana" pelo diário  judeu-americano The Forward.

Por muito perturbante que seja a duplicidade dos neocons é algo largamente sabido, publicamente comunicado, denunciado por um grande numero de observadores. O sociólogo James Petras vê no domínio sionista dos EUA o ponto fulcral do declínio do poder dos EUA. Jonathan Cook, outro autor, disse que o plano de remodelação do Oriente-Médio, ou seja, sua "guerra contra o terror" tem como única finalidade demonizar os países daquela região e fazer de Israel a única potência do OM. A demonstração desta duplicidade foi feita igualmente por Stephen Sniegoski que chega à mesma conclusão em "La Cabale transparente: l’agenda néoconservateur, la guerre au Proche-Orient et l’intérêt national d’Israël (A Cabala transparente: a agenda neo-conservadora, a guerra no Próximo-Oriente e o interesse nacional de Israel). A demonstração da duplicidade dos neocons repousa na fundação do PNAC em 1996 e a publicação do think-tank israelita Institute for Advanced Strategic and Political Studies (Instituto de Estudos Políticos e Estratégicos Avançados), de um relatório intitulado "Uma ruptura clara: uma nova estratégia para garantir a segurança do reino de Israel". O relatório, dirigido ao Primeiro-ministro eleito, Benjamin Netanyahu, convida-o "a mobilizar todas as energias possíveis para a reconstrução do sionismo", o que supõe a ruptura com o processo de Oslo, quer dizer abandonar a política "terra por paz", da restituição dos territórios ocupados, e reafirmação do direito de Israel sobre a Cisjordânia e a Faixa de Gaza. "A nossa reivindicação da terra "à qual nos agarramos desesperadamente por 2000 anos é legitima e nobre...., só a aceitação incondicional pelos Árabes dos nossos direitos, em particular na sua dimensão territorial, "a paz pela paz", será uma base sólida para o futuro". Na prática consiste em "Vc me dá a tua terra e eu te dou a minha paz cruel". 

Os autores da ruptura clara encorajam o primeiro-ministro israelita a adoptar uma política de anexação territorial contrária à posição oficial dos EUA e das ONU desde sempre, contrária inclusive ao discurso oficial de Israel. Netanyahu assina, em setembro de 1999, a «carta do roteiro» que deveria conduzir a um Estado Palestino e prosseguindo nesta via na cimeira de Camp David em julho de 2000, Netanyahu segue os conselhos da Ruptura e trabalha secretamente para sabotar este processo. Netanyahu tem por ministro dos Negócios estrangeiros Ariel Sharon, que qualifica abertamente os Acordos de Oslo como «suicídio nacional» e pronuncia-se pelas «fronteiras bíblicas», quer dizer um Grande Israel não deixando nenhuma terra aos Palestinos: «Toda a gente deve correr e tomar as colinas para alargar os colonatos porque tudo o que nós pegarmos agora ficará nosso», declarou o ladrão de terras no dia 15 de novembro de 1998. Em 1999, Sharon sucede à Netanyahu, que se torna, por sua vez, ministro dos Negócios estrangeiros. Em 28 de março de 2001, a diplomacia internacional coloca a paz no Próximo-Oriente ao alcance da mão: 22 nações reunidas em Beirute sob a égide da Liga Árabe pretenderiam reconhecer Israel. Mas no dia seguinte, o exército israelita invade Ramallah, cerca Yasser Arafat no seu QG, ao arrepio dos protestos da comunidade internacional. Seis meses mais tarde, o 11 de setembro enterrará definitivamente o processo de paz.

«Richard Perle é um traidor, não há nenhuma outra maneira de o qualificar» afirmava o jornalista Seymour Hersh no The New Yorker

(17 de março de 2003), evocando as suas mentiras flagrantes sobre o Iraque (Perle respondeu na CNN que Hersh «era a coisa mais próxima que o jornalismo americano tinha de um terrorista»). Em 1970, uma escuta do FBI surpreendeu Perle transmitindo à embaixada de Israel informações classificadas (secretas) obtidas de Hal Sonnenfeldt, membro do Conselho de Segurança Nacional. Perle trabalhou para a firma de armamento israelita Ele é mandado a Israel, para "aconselhar do primeiro-ministro israelita". Passa as suas férias nas sua “villa” de Gordes, no Lubéron.

O plano eta levar Israel a «modelar o seu ambiente estratégico», começando por «retirar Saddam Hussein do poder no Iraque», depois enfraquecer a Síria e o Líbano, e finalmente, o Irão.

O que é notável neste relatório ("Carta do Roteiro), é que se trata de um manifesto político estratégico destinado ao governo israelita, escrito por cidadãos com dupla nacionalidade, simultaneamente autores do manifesto do PNAC e, quatro anos mais tarde, elementos chave da política externa americana: a equipe que produziu o "Clean Break" é liderada por Richard Perle, futuro presidente do Defense Policy Board (Gabinete da Política de Defesa), no Pentágono, e Douglas Feith, futuro sub-secretário da Defesa, e David Wurmser, que integrará o Departamento de Estado, juntamente com sua esposa Meyrav. São estes os apoiadores do Likud em Israel, conselheiros Netanyahu, os mentores da política sionista expansionista, de anexação das terras palestinas, são os mesmos que aconselham Bush sobre a necessidade de invadir o Iraque. Os conselhos, nos EUA e em Israel são os mesmos, o programa sugerido a Netanyahu, como a derrubada de Saddam, foi implementada nos EUA e em Israel.

Se há diferenças entre o relatório "Carta do Roteiro", escrito para o governo israelita, em 1996, e o relatório "Reconstruir as defesas da América" escrito pelas mesmas cabeças, para o governo dos Estados-unidos, em 2000, não estão propriamente na estratégia mas nas táticas e justificações. 

Na "Carta do Roteiro", o Iraque não é uma ameaça, mas o elo mais fraco dentre os inimigos de Israel, o mais fácil a quebrar. Num outro documento intitulado "Fazer face aos Estados que colapsam: uma estratégia de equilíbrio ocidental e israelita de poder para o Levante", David Wurmser sublinha a fragilidade dos países do Oriente Medio, em particular o Iraque: « a unidade residual da nação é uma ilusão projetada pela repressão extrema do Estado». É pois a mesma acção que é aconselhada a Israel e aos Estados-Unidos, mas por razões opostas. A fraqueza do Iraque, que é para Israel a razão para atacar em primeiro lugar, não constitui uma razão válida para os Estados-Unidos. Para os EUA, para os norte-americanos, o Iraque é apresentado como uma ameaça mortal para o seu país. Netanyahu assinará, ele mesmo, um artigo no Wall Street Journal em setembro de 2002, sob o título «O dossiê para derrubar Saddam», descrevendo Saddam como «um ditador terrível que desenvolve um imenso arsenal de armas biológicos e químicas, e que utilizou estas armas de destruição maciça contra o seu próprio povo e os seus vizinhos, e que tenta febrilmente adquirir armas nucleares». Nenhuma ameaça semelhante é mencionada nos documentos internos israelitas, que não relatam além disso qualquer conexão do Iraque com a Al-Qaida, nem com a Al-Qaida em geral.

Segunda diferença fundamental entre a estratégia aconselhada aos Israelitas e a propaganda vendida aos Norte-americanos pelos mesmos autores: enquanto a segunda põe em destaque, por um lado, o interesse securitário dos Estados-Unidos, e por outro, o nobre ideal de expandir a democracia no Próximo-Oriente, a primeira ignora estes dois temas. As convulsões consideradas pelos autores sionistas são pensadas para não trazerem qualquer tipo de benefício ao mundo árabe, o objectivo é claramente o de enfraquecer os inimigos de Israel agudizando os conflitos étnicos, religiosos e territoriais entre países e no interior de cada país. O que recomenda a "ruptura clara" para o Iraque, por exemplo, não é democracia mas a restauração de uma monarquia pró-ocidental. Um tal propósito era evidentemente secundário para os Norte-americanos, mas o objectivo realizado lá por Lewis Paul Bremer à frente da Coalition Provisional Authority - (Autoridade Provisória da Coligação)-(CPA) em 2003, a saber, a destruição das infraestruturas militares e civis do Iraque», foi um sucesso do ponto de vista do Likud. Sob a responsabilidade de Bremer, 9 bilhões de dólares desapareceram em fraudes, corrupção e desvio de fundos (segundo um relatório do Inspector geral especial para reconstrução do Iraque, Stuart Bowen, publicado a 30 de janeiro de 2005). Bremer foi aquele que, duas horas após o colapso das torres gémeas no 11 de setembro de 2001, estava no estúdio da cadeia NBC como presidente da National Commission on Terrorism (Comissão Nacional sobre o Terrorismo), para explicar, em tom calmo e seguro: «Bin Laden estava implicado no primeiro atentado contra o World Trade Center, em 1993, cuja intenção era fazer exatamente o que se passou aqui, quer dizer o colapso das torres. Ele é seguramente um suspeito e tanto. Mas há outros no Médio-Oriente, e há pelo menos dois Estados, Irão e Iraque, que devem, constar na lista dos principais suspeitos». Com esta declaração maquiavélica, bem calculada, Bremer inscrevia não apenas o acontecimento na história ao lembrar os atentados de 1993 contra o World Trade Center, postos muito arbitrariamente na conta de Bin Laden, aliás, um ex-agente da CIA; além disso, ele anunciava já a história futura ao anunciar aos Norte-americanos as duas guerras principais com que deviam agora contar. Assim que o jornalista da NBC, numa réplica teleguiada, fez um paralelo com Pearl Harbor, o dia que mudou a vida da geração precedente, Bremer confirmou: «É o dia que vai mudar as nossas vidas. É o dia onde a guerra foi declarada pelos terroristas contra os Estados-Unidos [...] foi trazida ao território dos Estados-Unidos».

A diferença entre o discurso israelita de Perle, Feith e Wurmser e o discurso norte-americano encontra a sua explicação no próprio documento israelita, que recomenda a Netanyahou que apresente as ações israelitas «numa linguagem familiar aos Americanos, usando o linguajar das administrações americanas durante a Guerra fria que se apliquem bem ao caso de Israel». O governo de Netanyahou deverá «promover os valores e as tradições ocidentais, essa abordagem será bem acolhida nos Estados-Unidos». Os valores morais são evocados apenas a título utilitário para convencer os Estados-Unidos. Enfim, enquanto os autores do relatório israelita insistem na importância de ganhar a simpatia e o apoio dos Estados-Unidos, eles afirmam ao mesmo tempo que um dos fins últimos da sua estratégia é a de libertar Israel das pressões e da influência dos Estados-Unidos: «Uma tal autonomia dará a Israel uma maior liberdade de ação e suprimirá um meio de pressão significativo utilizado pelos Estados-Unidos contra si no passado».

Fazer passar a ameaça contra Israel por uma ameaça contra os Estados-Unidos permite fazer conduzir a guerra de Israel pelos Estados-Unidos. No seu livro La Fin du Mal-(O Fim do Mal (2003), Richard Perle e David Frum aplicam-se a comover os norte-americanos com os medos dos israelitas, por exemplo quando clamam pela urgência de «pôr fim a um terrível antes que ele mate de novo em escala genocida. Não há meias medidas para os americanos: são os interesses de Israel ou o holocausto». É difícil ser permanentente hipócrita, neo-cons podem ser imprudentes em público, por exemplo, Philip Zelikow, conselheiro de Condoleezza Rice e diretor executivo da Comissão sobre o 11-Setembro, disse, a respeito da ameaça iraquiana,  durante uma conferência na Universidade da Virgínia (em 10 setembro de 2002): «Por que é que o Iraque atacaria a América ou utilizaria armas nucleares contra nós? Eu vou dizer, a verdadeira ameaça sempre foi, desde 1990, a ameaça contra Israel. Os europeus não se preocupam com esta ameaça, e o governo americano não quer falar muito nisso daí pois não é um tema politicamente correcto». O que é sempre claro no lobbie sionista é que é preciso de qualquer jeito possível e imaginário levar os EUA a combater azer a guerra os inimigos de Israel, e convencer os norte-americanos que os inimigos de Israel são os inimigos da América.

Interrogado no dia seguinte ao 11-Setembro sobre as consequências nas relações entre os Estados-Unidos e Israel, Benjamin Netanyahu declara: «É ótimo, isto vai gerar imediatamente simpatia, reforçar os laços entre os dois povos.» (fonte: A Day of Terror: The Israelis, por James Bennet, The New York Times, 12 de setembro de 2001).

É muito importante para o loobie sionista a pregação de que os
inimigos de Israel detestam a América, odeiam a
democracia, desprezam a liberdade, etc, etc, e é preciso vender que o apoio dos EUA a Israel é a principal causa do
ressentimento contra os Estados-unidos no mundo
muçulmano. Os signatários de uma carta do PNAC dirigida ao
presidente Bush a 3 de abril de 2002 (incluindo William
Kristol, Richard Perle, Daniel Pipes, Norman Podhoretz,
Robert Kagan, James Woolsey) chega ao ponto de pretender
que o mundo árabe odeia Israel porque este é amigo dos
Estados-Unidos: «Ninguém deve
duvidar que os Estados-Unidos e Israel partilham um inimigo
comum. Nós somos ambos o alvo do que vós chamastes, justamente, de ‘Eixo do Mal’. Israel é atacado em parte porque é
amido dos EUA, é criticado porque é uma "ilha de liberdade" e de
"princípios democráticos", os princípios americanos, enquanto o mundo muçulmano é um
oceano de tirania, intolerância e ódio». A 20
setembro de 2001, Netanyahou propagou essa mesma
falsificação histórica no Congresso:
«Hoje, nós somos todos americanos [...], para os Bin Laden
do mundo inteiro, Israel é simplesmente um alvo colateral. O
alvo real é a América». Três dias mais tarde, saia na mídia The New
Republic: «Nós americanos somos todos israelitas». A propaganda pós-11-
Setembro criou uma relação de fusão emocional.
Erradamente, os americanos vivenciaram o 11-Setembro como a expressão de um ódio contra si da parte do mundo árabe, e sentiram uma simpatia imediata por Israel, que os neo-cons exploraram loucamente, como Paul Wolfowitz declarava a 11 de abril de 2002: «Após o 11-Setembro, nós Americanos temos uma coisa em comum com os Israelitas. Nesse dia a América foi atingida por atentados-suicidas. Nesse momento, cada Americano compreendeu o que significava viver em Jerusalém, ou Netanya ou Haifa. E, depois do 11-Setembro, os Americanos sabem agora porquê é que nós devemos bater-nos e ganhar a guerra contra o terrorismo». 

Um dos fins evidentes é de fazer passar aos olhos dos Americanos, a opressão medonha para com os Palestinianos como uma "luta contra o terrorismo islâmico". Como o afirmou o professor Robert Jensen: «Depois do atentado do 11-Setembro, a estratégia de Israel foi a de apresentar toda e qualquer ação defensiva da palestina, violenta ou não, como "terrorismo". Eles apresentaram a sua ocupação militar ilegal das terras palestinas como parte da guerra da América contra o terrorismo» A 4 de dezembro de 2004, o Primeiro-ministro Ariel Sharon justificou a sua brutalidade contra os habitantes da Faixa de Gaza pretendendo que a Al-Qaida tinha uma base escondida ali. Mas a 6 de dezembro, o chefe da Segurança Palestina Rashid Abu Shbak apresenta dados telefónicos e bancários que provam que os serviços secretos de Israel criaram, eles mesmos, falsas células da Al-Qaida na Faixa de Gaza, recrutando em nome de Bin Laden. Os recrutas receberam dinheiro e armas ruins, após cinco meses de doutrinamento, foram foram encarregados de reivindicar um próximo atentado em Israel em nome do «Grupo da Al-Qaida em Gaza». Os serviços israelitas previam montar um atentado contra a população e vender na mídia que a falsa célula da Al-Qaida assumiu o dano, e daí então justificar represálias, obviamente os civis são sempre as maiores vítimas dessas represálias.

Em abril de 2003, um relatório intitulado Israeli Communications Priorities 2003 (Prioridades da Comunicação Israelita), encomendado à agência de comunicação Luntz Research Companies & the Israel Project pela Wexler Foundation, organismo sionista especializado em intercâmbios culturais, ofereceu recomendações linguísticas para «integrar a história e a comunicação, e usá-las como ferramentas, no interesse de Israel» junto à opinião norte-americana. É aconselhado, por exemplo, continuar a evocar sempre que possível «Saddam Hussein», que são ao mesmo tempo «as duas palavras que unem Israel à América» e «as duas palavras que são atualmente sem dúvida as mais detestadas da língua inglesa». «Durante o próximo ano — um ano INTEIRO — devereis invocar o nome de Saddam Hussein e lembrar que Israel esteve sempre solidário com os esforços americanos com vista a desembaraçar o mundo deste ditador cruel e de libertar o seu povo». O relatório sugere além disso estabelecer de maneira repetida um paralelo entre Saddam Hussein e Yasser Arafat. 



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Sofisticação máxima: Michael Ledeen contesta no seu livro La Guerre contre les maîtres de la terreur - (A Guerra contra os Mestres do Terror, NdT) (2003) [77] a ideia geral que a paz na Palestina é a condição para a paz no Próximo-Oriente. Afirma ao contrário, «Se nós destruirmos os mestres do terror em Bagdade, Damasco, Teerão e Riade, nós poderemos ter uma hipótese de negociar uma paz duradoura na Palestina». [78]

A caminho da Quarta Guerra mundial

Os neo-conservadores tentaram explorar o traumatismo do 11- Setembro, do qual foram os arquitectos, para mobilizar os Estados-Unidos contra uma longa lista de países árabes, e muçulmanos, entre os quais aliados históricos. O Iraque é o primeiro visado. Desde a primeira guerra do Golfo, os neo-conservadores não cessaram de vilipêndiar o regime de Saddam Hussein e de apelar ao seu derrube. David Wurmser, por exemplo, publica em 1999, após outros livros virulentos contra os países muçulmanos, Allié de la tyrannie: l’échec de l’Amérique à vaincre Saddam Hussein - ( Aliado da tirania: o falhanço da América na batalha contra Saddam Hussein, NdT) [79]. Em 2000, l’American Enterprise Institute publica Étude d’une vengeance: la première attaque contre le World Trade Center et la guerre de Saddam Hussein contre l’Amérique – (Estudo sobre uma vingança: o primeiro ataque contra o World Trade Center e a guerra de Saddam Hussein contra a América, NdT) [80], cujo autor, Laurie Mylroie, se diz devedor a Scooter Libby, David Wurmser, John Bolton, Michael Ledeen, e ainda mais a Paul Wolfowitz e à sua esposa Clare Wolfowitz, membro ela também do AEI. Mylroie não hesita denunciar Saddam Hussein como o cérebro do terrorismo anti-americano, atribuindo-lhe sem provas o atentado de 1993 contra o World Trade Center, o atentado de Oklahoma City(cometido por Timothy McVeigh,cidadão americano, NdT) em 1995 e o ataque contra o USS Cole no Iémen em 2000. Aquilo que ameaçava os Estados-Unidos seria segundo ela «uma guerra secreta terrorista, conduzida por Saddam Hussein» [81], o terrorismo anti-americano sendo na realidade «um episódio num conflito que começara em agosto de 1990, quando o Iraque invadiu o Koweit, e que não mais acabara». [82] Richard Perle descreveu este livro como «magnifico e claramente convincente». [83]




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