O MUNDO NUNCA MAIS SERÁ O MESMO

 O renomado historiador francês Emmanuel Todd, o qual já fez acertos excepcionais, fez previsões impactantes sobre o desfecho do conflito na Ucrânia, antecipando a derrota iminente da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). De acordo com Todd, este cenário abrirá caminho para uma significativa reconciliação entre a Rússia e a Europa, especialmente com a Alemanha, desafiando os interesses dos Estados Unidos. Em entrevista concedida à Le Point Magazine, um prelúdio ao lançamento de seu livro “La Defaite de L’Occident” (“A Derrota do Ocidente”), Todd fez críticas severas à postura adotada pelo Ocidente em relação à Rússia. Ele destacou que a resistência dos Estados Unidos à reaproximação entre Alemanha e Rússia era estratégica, visando manter sua influência no sistema de poder europeu. Todd argumentou que os EUA optaram por “destruir a Europa em vez de salvar o Ocidente”. O historiador também abordou o declínio global dos Estados Unidos como superpotência e enfatizou a fragilidade de seu complexo militar-industrial. Além disso, Todd mencionou a redução da influência europeia, anteriormente marcada pela sólida parceria entre França e Alemanha, e notou um aumento do domínio da Alemanha no cenário europeu, especialmente após a crise financeira de 2007-2008. Todd observou que o conflito ucraniano distanciou a União Europeia (UE) da Rússia, comprometendo interesses comerciais e energéticos vitais da região. Ele criticou a narrativa ocidental predominante sobre o conflito, qualificando-a de “putinofóbica e russofóbica”, e defendeu a importância de uma perspectiva pluralista que reconheça diferentes pontos de vista no debate geopolítico. Quanto às próximas eleições nos Estados Unidos, Todd enfatizou que, para os russos, a mudança de governantes americanos é irrelevante, dado o estado de guerra percebido entre a Rússia e a América do Norte.



Por falar em previsões, em 2024 assistiremos à diminuição da influência dos EUA e um crescimento da influência dos BRICS. A guerra na Ucrânia será, na prática, abandonada pelos EUA e pela OTAN. Infelizmente, Israel persistirá no genocídio palestino em Gaza, os EUA serão manipulados pelo Irã, o qual conta com um apoio velado da Rússia e age através dos Houthis. 

Os dias de “Divide et Impera” e domínio dos EUA sobre o Oriente Médio, sempre a favor dos interesses de Israel, estão chegando ao fim. Israel aposta na cabala apocalíptica e tentará arrastar a América para a história de horror em Gaza, sua aposta não será premiada. 

2024, a Rússia assume a presidência dos BRICS, no seu discurso no Ano Novo, Vladimir Putin afirmou que haverá mais de 200 reuniões e eventos entre os países membros. A última reunião do ano final será em Kazan, em outubro. Um dos objetivos dos BRICs é estabelecer um acordo comercial baseado em ouro e não em dólar.

Uma moeda provisória substituirá o dólar como uma etapa intermediária entre as transações em moedas diferentes do dólar. Pode ser que seja o rublo russo, ou uma moeda intermediária rublo-yene. À medida que o dólar cair, a China deverá agir mais integrada aos BRICs, para evitar que o yuan caia com o dólar.

2024 é o ano da eleição presidencial nos Estados Unidos. Trump cresce, vastas quantidades de norte-americanos estão cansados das guerras infinitas que eles mesmos pagam, ao mesmo tempo se ressentem dos problemas internos que se acumulam. 

Na TV britânica, entre o Natal e o Ano Novo, o icônico “Lawrence da Arábia” de David Lean, foi exibido pela enésima vez. Lembrou-nos da genialidade do próprio Lawrence, que uniu as tribos beduínas pela primeira vez contra o império Otomano, e da arrogância da Grã-Bretanha e França ao traçarem a linha Sykes-Picot para dividir as terras turco-otomanas na Palestina, sobre as cabeças das tribos, sem levar em conta os seus direitos territoriais.

O legado de Lawrence, o seu papel na união das tribos beduínas e na constituição de fronteiras, deram à Grã-Bretanha uma grande influência na região. Mas os Sykes-Picot não foram os únicos ingleses intrometidos, o primeiro-ministro Balfour, com a sua Declaração de Balfour, de 1917, abriu a Caixa de Pandora que hoje é o moderno Estado de Israel e o seu complexo e assumido racismo de “Povo Eleito”, "Terra Prometida", "Escolhido de Deus" etc. 

Mas, nos idos de 1960, portanto há 60 e poucos anos, a Grã-Bretanha reconheceu que não podia mais resistir à onda de nacionalismo e descolonização que inundava a África e outros lugares. Os britânicos perderam o controle da ÍNDIA em 1948. E na década de 1960, abandonaram a presença militar britânica “a leste de Suez” (Canal de Suez, no Egito).

Os britânicos aceitaram os novos tempos e como criadores do Football souberam a hora de parar, já a América, país mais novo e arrogante, calcado no Baseball, um jogo baseado num porrete na mão, tem dificuldade em encarar seu declínio, mas ele virá. Haveria muito menos choro e ranger de dentes no mundo se os EUA não fossem um poço de arrogância, como bons filhos do excepcionalismo dos neopentecostais Zions e seu fim de mundo onde só há espaço para um só povo, o deles.

Apesar de suas campanhas caríssimas e sangrentas na Coreia, no Vietnam e até aos dias de hoje, as vitórias da América foram, em última análise, todas elas completamente inúteis, do ponto de vista militar e político. Mas, apesar da inevitável queda do seu império, continua, como o Dom Quixote, a atacar moinhos de vento imaginários, sino-russos. Mas as "vitórias" dos EUA, por exemplo, no Afeganistão, e agora, na Ucrânia, revelam um país incapaz de cuidar de si mesmo. 

Informações recentes indicam que Valery Zaluzhny, comandante-em-chefe do exército ucraniano, tem conversado com Valery Gerasimov, chefe do Estado-Maior do exército russo e primeiro vice-ministro da defesa da Rússia sobre um acordo de trégua. Nesta conversa, o garoto do Pentágono, Mr Zelensky foi ignorado. Em resposta, Mr Zélenski redobrou esforços para recrutar mais soldados para morrerem na tempestade da artilharia russa. Ninguém aguenta Zélenski, sobretudo os manipulados ucranianos. 

Os russos sabem que o exército ucraniano está farto e sabem que o apoio a Zelensky está diminuindo, tanto na Ucrânia como na OTAN. Parece que a guerra da Ucrânia será abandonada pelo seu próprio exército e, portanto, pelos seus apoiantes da OTAN nos próximos meses.

Israel, ou melhor, o rabinato messiânico que molda a mente dos israelitas, se torna excepcionalmente arrogante, rebelde e genocida. 

Do ponto de vista do gabinete de Netanyahu, a atual guerra de Israel começou com o ataque do Hamas, no sul de Israel, em 7 de outubro, quando mataram israelitas e fizeram reféns. Mas do ponto de vista palestino, o seu ataque foi uma resposta à profanação da Mesquita de Al Aqsa, o terceiro local mais sagrado do Islã, e ao aumento da violência contra os palestinos. O ponto de vista do Hamas é partilhado pelo mundo muçulmano, dois bilhões de muçulmanos, um quarto da população mundial. Os rabinos crêem que são apenas "escravos". Vamos ver, o mundo muçulmano vê supremacistas raciais cometendo limpeza étnica e roubando territórios historicamente de propriedade dos árabes. Alem disso, a existência de perspectivas petrolíferas ao largo da costa de Gaza dá aos israelitas mais uma razão para eliminar não apenas o Hamas, mas também os palestinos de Gaza.

Há dois anos a frota dos EUA atacaria o Irã, sob qualquer pretexto, e ficaria impune. Em vez disso, o que muitos consideram ser pouco mais do que um exército de maltrapilhos, a tribo Houthi no ponto crítico do estreito de Bab El-Mandeb, na entrada do Mar Vermelho, em frente ao Djibuti, armados com drones baratos e mísseis básicos, ameaça a maior e mais cara frota do mundo, além de interromper o tráfego marítimo na região. Três dos aliados europeus da América recuarem – Espanha, França e Itália. 

Seria um grave erro subestimar os Houthis, que, ao que parece, podem até pilotar helicópteros depois de terem sido filmados a aterrar em petroleiros e navios porta contêineres que entram no Mar Vermelho. A guerra civil do Iémen e os seus subsequentes ataques contra os poderosos sauditas parecem tê-los fundido numa formidável força de guerrilha. Agora que o Irã os está levando a negociações de paz com os sauditas, não há dúvida de que os Houthis estão ansiosos por uma nova causa. 

De qualquer forma, é a primeira ronda para os Houthis: os trânsitos marítimos no Mar Vermelho são agora não seguráveis, o que parece ser o objetivo por procuração do Irã.

Há poucas dúvidas de que os Houthis irão intensificar ainda mais as suas ações, apesar de os EUA, Reino Unido, Noruega, Países Baixos, Grécia, Canadá e Austrália enviarem navios de guerra para a área como parte da "Operação Guardião da Prosperidade". A ação direta contra os Houthis irá provavelmente inflamar ainda mais o seu zelo anti-Israel. Se as palavras forem seguidas de ações contra os Houthis, podemos ter a certeza de que o objetivo de proteger a passagem segura através do Mar Vermelho não será alcançada e o mundo árabe será ainda mais antagonizado. Mais uma vez, a América poderá descobrir que a dissuasão se transforma em provocação e retaliação.

Embora os Houthis sejam independentes, tal como o Hezbollah, ambos são apoiados pelo Irã, dançando à batuta do maestro. O Irã está jogando um jogo calculado, tentando exercer pressão suficiente sobre os israelitas para que recuem em relação a Gaza. Por enquanto, parecem estar segurando o Hezbollah no Norte de Israel, com a ameaça de que o envolvimento do Hezbollah poderá aumentar se Israel não recuar. O Irã fez três ataques nesta semana a bases americanas no Oriente Medio, o que nox leva a deduzir que o Irã possui realmente o poder de discussão nuclear. 

O jogo de Israel é provocar a América para agir diretamente contra o Irã. Os israelitas temem que, com a união do mundo árabe, sua própria existência como nação está ameaçada, recorrer à eterna proteção americana é a a sua melhor opção. Mas sem o apoio saudita, egípcio e turco, os americanos e a aliança ocidental estão relutantes em serem arrastados para uma nova guerra.

A Rússia garantiu a sua parceria no domínio da energia e a China o seu acesso ao Golfo Pérsico. Através da sua adesão à Organização de Cooperação de Xangai – o Irã tornou-se membro de pleno direito em julho passado – o Irã está agora diretamente envolvido no futuro da Ásia. Não só goza de maior proteção sob a égide da OCS, como também a sua geopolítica se alinhou com os seus objetivos.

Isto explica o seu apoio tácito à ação Houthi no Mar Vermelho, que é mais sutil do que fechar o Estreito de Ormuz, no Irã, acesso para o vital petróleo do Golfo Pérsico, uma ameaça direta à América e dos seus parceiros da OTAN. 

Para o Conselho de Cooperação do Golfo-CCG, que representa todos os produtores de petróleo e gás do Oriente Médio, a agenda do Ocidente sobre as alterações climáticas está num impasse. Os mercados asiáticos, dominados pela industrialização da China e da Índia, não mostram sinais de redução da procura de combustíveis fósseis.

Em parceria com a China, a Rússia jogou bem as suas cartas energéticas ao atrair o CCG para a sua esfera de influência. A realidade, no que diz respeito à aliança ocidental, é que o resultado de qualquer ação contra os Houthis, ao Líbano ou à Síria para proteger o flanco norte de Israel será determinado pela Rússia e pela China, mobilizando apoio regional. Já não é uma questão confinada apenas ao Oriente Médio.

A partir desta semana, a Rússia assume a presidência dos BRICS, a África do Sul move ação contra Israel, e há uma fila de mais 30 países para se associar ao grupo. A Argentina retirou a sua candidatura em 30 de Dezembro, deixando um total de dez nações na organização, cuja população combinada é estimada em 3,3 bilhões, cerca de 44% da população mundial.

E das 30 nações que manifestaram interesse de afiliação, 15 países candidataram-se formalmente para aderir aos BRICS. Como presidente "pro tempore", a Rússia provavelmente autorizará novos pedidos de adesão para expandir os BRICS e a própria esfera de influência da Rússia.



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