SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO VEM AÍ

 

Em entrevista à mídia "Sputnik Brasil", especialistas em assuntos militares afirmam que o submarino nuclear brasileiro causa temor na ONU, leia-se, EUA. O projeto do submarino nuclear brasileiro está previsto no Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), acordo militar firmado por Brasil e França em 2009, e já entregou dois dos quatro modelos de propulsão convencional baseados no modelo francês Scorpène. 

O modelo mais recente, o Humaitá, entrou em operação no último dia 12. No Prosub, está previsto também um modelo de propulsão nuclear, o submarino Álvaro Alberto, nome dado em homenagem ao ex-vice-almirante da Marinha e cientista brasileiro, que morreu em 1976. O submarino de propulsão nuclear é um projeto antigo da Marinha brasileira, elaborado em 1979, e vislumbrou a chance de sair do papel após o acordo militar com a França.

Porém, para obter o aval dos EUA, o Brasil terá de abandonar as posições históricas de resistência a inspeções detalhadas de suas instalações atômicas. Se tudo der certo, o sinal verde para o submarino deve sair em cinco anos. A Rússia deixou recentemente este acordo de "inspeções" periódicas a suas centrais, por rações óbvias de soberania e geopolítica. 

Guilherme Carvalho, pesquisador da Escola de Guerra Naval (EGN) e ex-militar da Marinha do Brasil, aponta que “o desenvolvimento desse tipo de energia, como o modelo de propulsão em um submarino, sempre enfrentou resistência dos Estados Unidos”. A narrativa recorrente é que essa tecnologia seria usada para fins não pacíficos, o que causaria um desequilíbrio de forças nas Américas. Um outro aspecto importante é o controle exigido por instalações nucleares em termos de infraestrutura e segurança. Apesar de serem fatores críticos, no caso do Brasil, temos, historicamente, um excelente nível de organização e desenvolvimento.” Ele ainda destaca que “a forte parceria com a França", a boa relação com a Rússia e, principalmente, com a China, podem garantir um caminho mais promissor ao Brasil no desenvolvimento e conclusão do seu programa de submarino nuclear”.

A Austrália entrou com um pedido semelhante ao do Brasil na ONU para a construção de submarinos de propulsão nuclear em solo australiano, no âmbito da aliança AUKUS, firmada com os Estados Unidos e o Reino Unido.

Declarações recentes do governo chinês claramente não desaprovam o projeto brasileiro, mas se opõem à AUKUS por entenderem que esse projeto afeta sua zona de influência na Ásia e na Oceania.”

“Enquanto o projeto brasileiro já possui quase meio século de maturação, debate e desenvolvimento, o projeto australiano é bastante recente e abertamente definido como uma estratégia de contenção da influência da China na Ásia e na Oceania, além de envolver um acordo geral de desenvolvimento das relações de defesa entre os países, que trespassam o próprio projeto do submarino nuclear. Outro aspecto do AUKUS é que ele se baseará na classe Astute de submarinos britânicos, mas será dotado de armamentos e sistemas oriundos dos Estados Unidos.”

Em 2004, Lula vetou a AIEA de inspecionar ultracentrífugas que promovem a transformação de gás urânio em combustível nuclear e possibilitam o enriquecimento de urânio, de forma a ser usado em combustível ou bombas. Esse histórico de rejeição a inspeções foi um dos principais entraves ao Brasil na ONU. As inspeções e os processos da AIEA são bastante rígidas, no caso de um submarino nuclear, envolvem questões militares e tecnológicas sensíveis, e que basearam o primeiro veto ao projeto brasileiro. 

Porém, o estágio atual do projeto, somado à postura diplomática construída ao longo do século XXI, “resultam na autorização das inspeções”.

Mas como está o projeto do submarino nuclear brasileiro?

Em entrevista à Sputnik Brasil, Jéssica Germano, doutora em Estudos Marítimos pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos Marítimos da Escola de Guerra Naval (PPGEM-EGN), explica que, para entender o incômodo que o submarino nuclear brasileiro causa nos EUA, primeiramente, é preciso analisar o perfil do Brasil em relação ao mundo.

“O Brasil é um país do Sul Global e do BRICS que possui destaque e prestígio no cenário internacional. A economia vem apresentando sinais de crescimento. Tem um bom contingente populacional, abundância de recursos, e é um país presente em diversas mesas de diálogo com potencial para uma positiva projeção internacional. Então isso já põe o Brasil numa condição, digamos, estratégica para o mundo. O Brasil tem estabelecido parcerias estratégicas no desenvolvimento da tecnologia nuclear para fins pacíficos, inclusive de forma autônoma”. E, acrescentamos, o Brasil tem um litoral de cerca de 7.500 quilômetros e mar territorial com cerca de 4 milhões de quilômetros quadrados, a Amazônia Azul, não precisamos de UM submarino nuclear, mas sim uma frota deles para vigiar esta vasta área e seus recursos! 

O Brasil ter esse tipo de tecnologia nao é algo interessante para a hegemonia ianque na AL, sem esquecer que a propulsão nuclear de um submarino dá país um necessário e urgente poder de dissuasão militar. Daí que o Prosub cause incômodo a certo tio Sam.

Possuir um submarino nuclear com capacidade de ocultação é uma garantia de defesa da nossa soberania. Nós temos a Amazônia Azul, um espaço marítimo vasto e rico em recursos naturais (Pré Sal, da Petrobras), nós temos que nos proteger

Jessica acrescentou, “um submarino com propulsão nuclear dá uma capacidade mais elevada de dissuasão militar para o país, visto que é um meio bastante ágil, que possui fácil ocultação, uma detecção mais difícil e, também, uma elevada autonomia”. “Ou seja, uma vez que o submarino submergir, ele não tem a necessidade de emergir novamente para recarregar suas baterias como nos modelos convencionais, ou seja, ele pode estar em qualquer lugar, no mar aberto ou profundo, em grandes rios, como o Amazonas. Ter UM exemplar deste submarino será o primeiro passo para uma verdadeira frota. O fato de o Brasil ser signatário do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP, na sigla em inglês) mostra “tanto nacional quanto internacionalmente que o país não é um proliferador de armas nucleares”, o que é um fator positivo para a aprovação. Ademais, a especialista menciona que a tradição diplomática do país preza pela busca do diálogo.

Sobre as inspeções da AIEA, ela destaca que as ultracentrífugas, alvo da crise entre o governo Lula e a AIEA em 2004, tiveram a inspeção negada por ser um tema sensível. “Essas ultracentrífugas foram desenvolvidas com tecnologia brasileira, ou seja, de forma autóctone, e envolvem segredos industriais e comerciais. Então essas inspeções basicamente são verificações da AIEA para garantir que o país não esteja proliferando, ou seja, de alguma forma, desviando material nuclear ou enriquecendo urânio para além dos níveis permitidos”, explica a especialista.



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