O ADMIRÁVEL MUNDO NOVO DO PENTÁGONO

 A taxação dos super-ricos poderia ser eficaz se houvesse, de fato, um governo mundial capaz de impor este tipo de ação. Mais ainda, este mesmo governo, ou super governança, deve garantir que os 2% obtidos (a própria taxação) vão efetivamente melhorar as condições de vida dos mais necessitados, e também deve conter o empobrecimento da classe média. Acompanhado de uma revolução educacional, nos países mais necessitados, a taxação dos mais ricos pode ser algo inteligente.


DANIEL ESTULIN

O Pentágono apresentou em um relatório recente, que até o ano de 2030, as áreas urbanas terão 1,4 bilhão de pessoas a mais. O crescimento ocorrerá no mundo desenvolvido, nas cidades mais ricas do mundo. Na análise do Pentágono, os habitantes destas cidades precisarão de "uma filosofia nova na relação com a natureza". Os problemas serão "avassaladores", por exemplo, em uma cidade com 40 milhões de pessoas, no futuro próximo, 10% da população serão hostis às outras 90%, 4 milhões de pessoas serão "inimigas". Liderar o povo e criar uma coesão social será muito difícil num mundo repleto de arbitrariedades e imoralidades.

Está mentalidade do Pentágono é típica de uma elite, de uma liderança capitalista que já se vê ameaçada e já embarcou em uma revolta global na luta por seus privilégios dinásticos. 

Nos romances de U. Simon Clark ocorrem grandes colapsos devido a desastres climáticos ou geológicos, e daí então, as camadas mais baixas da população assumem o controle das cidades. Moradores de favelas, periferias de condições precárias, grupos que viviam na clandestinidade, em subsolos, extremamente cruéis, unidos num rancor mútuo, irmanados no espírito de vingança contra aqueles que ainda ontem os desprezaram, humilharam e rejeitaram. 

Nesses romances, o inferno reina sobre as ruínas das megacidades. 

Só que a visão do Pentágono é exatamente isso daí.

No relatório, as cidades representarão 60% da população do planeta e 70% do PIB mundial, até 2030, 60% dos moradores das cidades terão menos de 18 anos. As cidades que cresceram mais rapidamente serão as que terão mais dificuldades, porque os recursos são limitados e precisarão ser compartilhados por mais e mais pessoas. A Geografia, as mudanças climáticas, o crescimento desregulado, infraestrutura de água, esgoto e eletricidade abaixo do padrão aumentarão o risco de sinistros naturais. 

O crescimento desenfreado aumentará muito a lacuna já existente entre os mais ricos e os mais pobres. Tensões étnicas e religiosas definirão o panorama social cotidiano. A estagnação de grandes faixas da população coexistirá com um desenvolvimento sem precedentes de outras faixas. A pobreza mais abjeta e favelas perigosas se espalharão como fogo junto com arranha-céus modernos, avanços tecnológicos e níveis crescentes de prosperidade. 

Este é o mundo das megacidades, o mundo do nosso futuro próximo, segundo os sábios do Pentágono, os caras que vendem armas no mundo e detestam que se fale em paz na grande mídia. 

O problema é que não estaremos preparados para operar neste mundo. Megacidades de 40 ou 50 milhões de pessoas se tornarão a norma nos próximos 30 anos.  

Nesses sistemas complexos, as pessoas e estruturas estarão o comprimidas num mesmo espaço, ou seja, a engenharia e o planejamento urbano não darão conta dox desafios.

 Habitats incomuns de todos os tipos de tornarão quase banais como apartamentos no subsolo, labirintos aéreos e um emaranhado de vias no nível do inconcebível. Cada estrato da sociedade será definido por seus próprios códigos e leis sociais. Certos grupos sociais serão disfuncionais. 

Tradições e costumes históricos colidirão com a tecnologia da vida moderna, muitas pessoas estarão pouco preparadas para as diferenças étnicas e raciais. Redes criminosas organizadas oferecerão oportunidades sem fim para uma crescente multidão de desempregados. Essas redes se tornarão o sistema mais nervoso dos estados, espécies de "estados-nacão", multidões de indivíduos estarão não-alinhados à nacionalidade, organizações viverão e trabalharão à sombra do regime governamental e político. 

Há outra coisa a considerar, em geral podemos ver e tocar o espaço físico, mas não podemos tocar de fato o espaço digital. O espaço digital terá um potencial ilimitado, seu poder irá muito além das fronteiras geográficas. A segurança e o comércio digitais estarão tremendamente ameaçados por tecnologias disruptivas, sofisticadas e ilícitas. Sindicatos do crime descentralizados, sem um comando central, terão, conforme o caso, um alcance sem precedentes, a escala e a densidade desses domínios criminais serão medonhos. Segundo o Pentágono, numa cidade de 40 milhões de pessoas em um futuro próximo, 90% da população estará sujeita a 10% da população, 4 milhões de pessoas que estarão envolvidas em todo tipo de crime possível e imaginário. 

Grandes seções da cidade estarão sujeitas a formas estranhas e alternativas de governo. As doutrinas militares e policiais atuais são inadequadas para lidar com a escala da realidade populacional, porque o ecossistema dessas megacidades de amanhã pertencerão a uma ordem de complexidade maior. São ambientes que os mestres da guerra apenas prevêem, mas não os conhecem de fato. 

No passado, a ameaça exigiu dos povos inúmeras formas de organização que dependiam de mobilidade, produção, policiamento, regras de trânsito, regulamentos etc. Os militares do futuro enfrentarão uma ameaça urbana muito mais sofisticada, os sistemas de defesa da cidade serão o elemento-chave da força terrestre. Por exemplo, o jogo Dark Side, uma versão do jogo Dungeons and Dragons se passa num mundo pós-catástrofico global. A ação ocorre em um mundo desértico, outrora uma linda e aprazível planície, cheia de luz, solos férteis, abundância de água, mas agora foi despojado de sua fertilidade. Tornar-se uma terra queimada pelo sol, sem deuses, sem água, sem esperança. Outra característica do jogo é a ausência de homens, os habitantes usam de obsidiana de madeira, espécie de vidro vulcânico natural e materiais deste tipo para fazer armas e ferramentas e utensílios.

Este deserto sem fim é cercado por oásis isolados e também por cidades-estado. Os governantes de cidades-estado isoladas são chamados de Reis Bruxos, e na maioria dos casos estão em algum estágio de se tornarem dragões. O poder na cidade está com os Templários e os Reis Bruxos. Quanto às pessoas nas favelas, são poderosas e completamente descrentes, cínicos e imprevisíveis. Estão na África, na Ásia professam o islamismo, na América Latina professam o pentecostalismo que quase se tornou uma nova religião separada do cristianismo, o qual se torna uma espécie de protesto subversivo. 

A classe média ocidental estará profundamente acuada e sem perspectivas, a renda foi confiscada, sobreviver se tornou uma questão pura e simples de explorar grupos mais fracos, de sua própria população ou, ao contrário, outros grupos se propõem a liderar seu povo específico para fazer uma revolução mundial. Mas liderar seu povo para realizar uma revolução mundial requer uma vontade única, coragem e uma moralidade a toda a prova. Neste mundo distópico, o próprio estado será uma permanente crise, estará totalmente privatizado por oligarquias, grupos populacionais serão trocados e considerados como bens privados por quem deles possa se apossar. A privatização final da população, pelos governos, decorre do fato de que a economia global será criminosa, não haverá mais uma clara delimitação entre o legal e o criminal, entre o lícito e o ilícito.  

Segundo certas mentalidades do Pentágono, períodos de grande agitação social, desastres naturais e epidemias são períodos muito "bons". Por exemplo, a Peste Negra precedeu a crise do longo século XIV. No meio de uma grande migração de pessoas no século VII, houve uma epidemia que indiretamente contribuiu para a conquista muçulmana. No século XX, a gripe espanhola de 1919 ceifou mais vidas do que a Primeira Guerra Mundial. A AIDS começou junto com a globalização, a própria palavra "globalização" apareceu, pela primeira vez, no mesmo ano em que o vírus da AIDS apareceu, em 1983.

É difícil prever a crise iminente e a formação deste sistema pós-capitalista sem levar em conta fatores e choques naturais e climáticos. Não se trata aqui de bobajadas como "o impacto de um asteroide do espaço", mas a fenômenos cíclicos bem conhecidos pela geologia pelo geólogo paleoclimática.

 Estaríamos no fim de um período de três a quatro séculos de relativo comportamento geológico. " Os biólogos e sociólogos de agora analisam situações de um planeta superpovoado como um enorme fardo para o meio ambiente e uma escassez iminente de matérias-primas e água.

A isto também podemos adicionar a monstruosa polarização socioeconômica do mundo moderno e também o arsenal sem precedentes de armas de destruição em massa. Na Idade da Pedra não havia metralhadoras, bombas atômicas, substâncias tóxicas, não havia usinas nucleares e grandes refinarias químicas, não havia nada que pudesse ser destruído em massa. A crise do século 21 será muito mais severa do que a do Paleolítico Superior quando os neandertais desapareceram, substituídos pelo homo sapiens. Acrise do Paleolítico Superior destruiu uns 85% da população mundial. A degeneração do homem como espécie, naquela época, no entanto, veio de uma crise de natureza local e não global. Não havia uma humanidade planetária. A Terra não estava abarrotada de usinas nucleares, produtos químicos, biológicos, armas de destruição em massa etc. 

Então, para superar a atual crise, precisamos de uma filosofia fundamentalmente nova de relação com a natureza. Repensar os rumos da humanidade implica em repensar a cultura iluminista que forjou a ciência e a tecnologia atuais Mas também as religiões calçadas em dogmas antigos e medievais.  

 O fogo foi a primeira peça real de tecnologia, Prometeu o deu à humanidade, um presente que ele roubou dos deuses. Prometeu representa a capacidade da humanidade de descobrir novas formas de tecnologia, princípios físicos universais e também de incorporar esses princípios físicos na vida e mudar o relacionamento dos seres humanos consigo mesmos e com o universo. Não vai funcionar proteger nossa vida contra a natureza, e assim, superar a crise envolve a criação de novos conhecimentos, novas disciplinas, novas metodologias e novos assuntos de pesquisa. E devemos fazê-lo em um período muito curto de tempo, porque não temos mais tempo. 

  Karl Marx esboçou algo em seu O Capital, que ele nunca seguiu até o fim, sobre a relação entre o sujeito que realiza uma função e o seu papel existencial dentro do sistema capitalista, em crise acelerada.

A ONU já não é capaz de definir o que é o ser humano, fala em direitos humanos mas para quais humanos? Teremos de mergulhar profundamente na mais alta filosofia antiga de várias civilizações. Um mundo mais igualitário e justo, em vez de um capitalista escravizante foi pensado por todas as grandes filosofias.

O sistema de castas atual, um fascismo global santificado no altar do neojudaísmo, é uma síntese frankensteiniana de protestantismo, sionismo, maçonaria e ocultismo; essa mistura judaico-liberal só aponta para um fim e um objetivo: aquele relatório lá do Pentágono. 

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