BRICS NO CONGRESSO NACIONAL

 Sic transit gloria mundi (assim se vai a glória do mundo)

A Síria caiu, e a história será coberta com um banquete interminável de tomadas e interpretações sobre o que aconteceu, como e por quê. 

O que sabemos até agora?

Os "rebeldes" informaram a Turquia sobre suas intenções de lançar uma ofensiva em Aleppo há seis meses, de acordo com a Reuter.

A oposição armada síria, que assumiu o poder em Damasco nesta semana, informou há seis meses sobre sua intenção de lançar uma ofensiva contra o governo sírio, informou a Reuters.

A Turquia teria dado a sua "aprovação tácita" à intensão dos jihadistas 

 Ao mesmo tempo, os Estados Unidos disseram que Washington não estava ciente da "aprovação tácita" de Ancara aos planos dos jihadistas de atacar a província de Aleppo, que fica no norte da Síria, República Árabe.

Scott Ritter disse que a operação não tinha a intenção de derrubar toda a Síria, mas as hienas da região logo viram que as forças armadas sírias não lutavam e não resistiam à incursão inicial. 

Então agora se diz que o ataque foi uma espécie de teste, mas, como não havia reação, Israel, EUA e Turquia começaram a ver a fraqueza como uma oportunidade e ativaram suas várias células adormecidas, bem como começaram a assediar discretamente generais sírios e outras figuras influentes do exército para traírem Assad.

Scott menciona que o exército russo pretendeu atualizar e treinar as forças de Assad nestes últimos anos, mas Assad recusou ajuda.

Agora temos uma melhor compreensão de como os eventos se desenrolaram e como a Síria se tornou tão fraca e fácil de tomar. Erdogan, o dúbio, disse que ofereceu um acordo ao Assad, para trazer de volta alguns refugiados sírios da Turquia, bem como para Assad influenciar os curdos na fronteira turca a recuarem. Assad não quis 

O Ministro das Relações Exteriores do Irã Abbas Araghchi disse que Assad foi inflexível, mal sabia da fraqueza de seu próprio exército.

O embaixador sírio na Rússia, Bashar al-Jafaari, falou em decadência de Assad, impopular, e com um exército fraco e desmotivado. 

 É verdade que o embaixador pode estar querendo ficar bem na fita com os novos governantes, mas suas palavras parecem ecoar outras autoridades do governo de Assad. Jafaari sugeriu que a deposição já deveria ter ocorrido há muito tempo, nos seguintes termos: "o colapso do sistema em poucos dias é evidência de sua impopularidade e falta de apoio tanto na sociedade quanto entre o exército e as forças armadas", ele à RT. A "fuga humilhante do chefe na calada da noite, confirma a necessidade das mudanças".

Al-Jafaari ainda acrescentou, a Síria "finalmente se tornou uma verdadeira pátria para todos os sírios" e pediu para o povo se unir e cooperar com o novo governo jihadista.

Também disseram que Assad recusou um acordo dos EUA para "cortar os laços com o Irã". Ora, sabemos que o Irã fornece à organização xiita libanesa, o Hezbollah, através do território sírio. Se Assad aceitasse impedir o uso da Síria pelo Irã, os EUA retiraram as sanções comerciais, informou o The Washington Post (WP).

De acordo com o WP, foi ainda pior para Assad não ter fechado com o presidente turco Erdogan, cujo interesse era conter os curdos e fazer retornar alguns dos refugiados sírios na Turquia, de volta para a Síria. 

Outra linha, o novo presidente do Irã, Masoud Pezeshkian não permitiu que as forças iranianas lutassem por Assad, na Síria. 

Há muitos vídeos de soldados do Assad, naturalmente que o Ocidente quer muito que esses vídeos se tornem vitais. Por exemplo, um soldado furioso grita que o Hezbollah traiu o Irã, traiu a Rússia, o próprio Assad traiu a Síria. Israel deve ter gostado. 

Agora é dito que o Hamas apoia a revolução e dá as boas-vindas ao novo governo sírio.

A Síria vem tendo um declínio lento e doloroso, sobretudo devido às sanções econômicas da parte dos EUA. Os EUA usam o dólar para sufocar a economia de um país onde deseja trocar o regime. Em 2020 houve uma disputa em torno de Idlib e desde então as sanções cresceram. 

Assad agora parece que foi um bom homem, um líder até gentil, mas foi um líder ineficaz. A realidade é que ele nunca foi talhado para governar. Assad era médico, enquanto seu irmão mais velho, Bassel al-Assad, o filho mais velho de Hafez, é quem deveria herdar o poder, mas morreuu em um acidente de carro em 1994. Bassel era o homem, preparado para essa função por seu pai, Hafez al-Assad. 

Após a morte de Bassel, Bashar, que estudava oftalmologia em Londres, foi chamado de volta à Síria. Ele abandonou sua carreira e "virou", do dia para a noite, um governante político e um chefe militar. 

Hafez al-Assad então começou a preparar Bashar para a liderança, inscreveu-o no treinamento militar intensivo e posicionou-o dentro do governo. Apesar de sua total falta de experiência política, Bashar sucedeu o pai como presidente, após a morte de Hafez no ano 2000. Já o irmão que morreu, veja, era treinado em paraquedismo, era Forças Especiais, treinado nas academias militares soviéticas. Era major e comandante de uma brigada da Guarda Republicana...

O Assad parecia indiferente ao seu exército, deixando tudo para seus generais, o que resultou na lenta corrupção de altos oficiais militares. A hierarquia militar tem dificuldades com amadores no comando. Imagine um governante de fala mansa, educado, que queria ser médico, numa região bárbara repleta de inimigos cruéis por todos os lados. Junto a isso uma penca de 5ª colunas, civis, políticos e militares, da própria Síria, e que agora o condenam, é fácil? Agora dizem, "A Síria não merecia Assad". Parece que hoje em dia nenhum país merece um líder atencioso e moderado, com uma família perfeita, cristã, tradicional. 

Veja só, os e-mails de Assad, hackeados pelos rebeldes, no início da guerra, tudo o que acharam foram singelos bilhetes de amor para sua esposa, por exemplo, um deles dizia, conforme a CNN: "Se formos fortes juntos, superaremos isso juntos... Eu te amo...", Assad escreveu no dia em que a Liga Árabe suspendeu o monitoramento na Síria por causa do aumento na violência.

Dias depois, o ainda jovem oftalmologista que virou um autocrata rabiscou um coração rosa e vermelho no iPad e enviou por e-mail para sua primeira-dama. A esposa escreveu de volta, "Às vezes, à noite, quando olho para o céu, começo a pensar em você e me pergunto: por quê? Por que eu te amo? Penso e sorrio, porque sei que a resposta teria muitos quilômetros.”

Após a derrubada, os rebeldes saquearam a residência de Assad e encontraram seu álbum de família particular, tudo o que se vê ali é um homem de família dedicado e saudável, um grande contraste com a imagem cretina que a mídia ocidental colou nele. 

Agora se diz que Assad pretende voltar à vida privada e abrir algum tipo de clínica oftalmológica em Moscou, e viver discretamente, que, aliás, parece que era sua verdadeira vocação. 

Foi uma grande vitória para o Império? 

Eu não acredito nisso. A Rússia perdeu o que? Até agora nada, na verdade perdeu uma despesa que ela tinha com o governo Assad, suas bases estão lá, no mesmo lugar. 

Muitos defendem que Israel e os EUA alcançaram uma vitória fantástica sobre seus inimigos. Ora, isso daí é uns 95% propaganda, soft power. 

Agora, até se diz que o Hamas tem boas relações com o HTS. 

O ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 desencadeou um efeito dominó de consequências desastrosas para Gaza, eu defendo e defendi desde o começo que foi uma ação até certo ponto planejada pelos sionistas. Israel alcançou certos objetivos ao destruir Gaza, ao decapitar a liderança de muitos inimigos e de destruir o sul da Síria. 

Isso daí só parece uma vitória, são efeitos de curta duração que não resolvem os grandes problemas de Israel e, em parte, trarão mais problemas ainda em vez de soluções.

Senão vejam, Israel não conseguiu seus reféns, realocar seu povo é complicado e demorado, fez estragos no Hezbollah no sul do Líbano mas acabou recuando. A sociedade israelense sofreu grandes golpes, desde o 7 de outubro, o governo está com problemas, a ala militar e a ala política estão com problemas, enfim, a vida não é fácil para Israel. Israel viu uma chance no sul da Síria, decerto deu algum apoio ao HTS e não iria perder a oportunidade, mas é um trabalho bruto e dispendioso, destruir bases e galpões no sul da Síria. 

O Times of Israel conduziu uma entrevista com um comandante "rebelde", ele prometeu um período de "harmonia, paz e amor com Israel". Israel tem um caso de amor com os rebeldes? Eles alcançaram uma grande vitória sobre seus inimigos? É mesmo mesmo? Há muitos problemas com essa análise.

Primeiro, a Turquia tem muito mais probabilidade de ser a principal vencedora e a influência dominante na região. A Turquia já governou está região, já foi um império, o otomano, tem muito povos turcos, turcomanos, turco-mongóis, túrquicos etc, espalhados pelo mundo.  

Aparentemente, o grupo que a Turquia mais controla são certos grupos rebeldes, os SNA, FSA ou TFSA, que não estão em termos muito bons com o HTS. Vai chegar uma hora que os otomanos vão colidir com os sionistas. 

O Império Otomano controlou toda a Palestina por centenas de anos, o que inclui toda a região onde está Israel. Você pode criticar Erdogan por seu jogo duplo, por sempre fornecer petróleo a Israel e coisas assim, mas tudo isso é realpolitik, amigos, amigos, negócios à parte. A realidade é que a Turquia está vendo algumas de suas terras otomanas perdidas, o que inclui não apenas a Síria, mas também a Palestina.

Alguém imaginava que Israel estaria ao lado da Turquia ajudando o HTS a governar a Síria? 

Alguém imaginava que o Hamas apoia totalmente a conquista da Síria pelo HTS?

Israel ajudou a criar um reino pacífico nas suas fronteiras? Israel acha que eliminou o Irã do tabuleiro de xadrez? Por que Israel foi com tanta sanha na destruição da infraestrutura militar de Assad? Ora, para que não caia nas mãos do HTS, não lhe parece?  

A base aérea de Mezzeh em Damasco e navios sírios em Latakia foram atingidos.

Aparentemente o HTS consegue segurar por algum tempo as várias milícias xiitas e os jihadistas sunitas.  

O "grande vilão", Assad, se foi, Bibi e Erdogan parece terem se entendido, e também parecem em bons termos com o HTS. Bom, logo veremos se o que virá será melhor do que aquilo que se foi


  




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