O BRASIL ENTRE A CHINA E OS EUA

 Hoje, soldados das IDF sentiram-se "ameaçados" pelos famintos de Gaza, da fila da sopa. Os coitadinhos dos sionistas se protegeram metralhando-os, mais de cem civis, centenas de feridos, muitas crianças, mulheres, todos eles, naturalmente, terroristas do Hamás. A "civilização judaico-cristã" é um exemplo para o mundo!



Jim Yen & E.M.Pinto

Durante sua visita a Pequim em 2023, o então presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, enfaticamente afirmou que:

“Ninguém pode impedir o Brasil de continuar a desenvolver o seu relacionamento com a China.”

Com esta declaração, uma nova abordagem diplomática ganhar espaço nas relações internacionais que o Brasil desempenha. É evidente que o Brasil optou por uma postura de não-alinhamento no crescente impasse entre Washington e Pequim, buscando enriquecer seus laços com ambas as superpotências, esta nuance pode trazer benefícios para nossa nação Sul Americana ao mesmo tempo que exigirá um certo jogo de cintura (como dizem os brasileiros), alguma habilidade de capoeirista. 

O jogo de cintura é vital frente aos compromissos e às transformações que o mundo multipolar exige, se a proposta brasileira é de não alinhamento, posições assumidas recentemente mostram contradições e exigem mais clareza. Tome, por exemplo, a abordagem brasileira diante da Operação Especial Russa, na Ucrânia, a qual gerou descontentamento em Washington, uma vez que o mandatário brasileiro defendeu as negociações de paz, percebidas pelo.vendedor de armas, os Estados Unidos como "ingênuas".

A divergência entre os dois países já havia sido evidenciada em outubro de 2023, quando o Brasil liderou a iniciativa de um cessar-fogo no Conselho de Segurança da ONU, durante a guerra em Gaza, mas foi obstado por um veto dos EUA. O Brasil é uma das poucas potências mundiais que pode se dar ao luxo de desfrutar de um posicionamento de neutralidade em relação a certos temas, e assumir posições o retira da condição de conforto que desfrutou ao longo dos anos.

Ao ser mais enfático na defesa de seus interesses, ainda que contrariando a vontade de antigos aliados, isso permite ao Brasil assumir a tradição histórica brasileira de independência e não alinhamento em política externa, o que se manifesta em sua abordagem atual, intensificada no contexto do impasse entre EUA e China e do crescente peso político e econômico do Brasil. Fica cada vez mais evidente que o Brasil almeja evitar uma ordem mundial baseada unicamente na competição econômica, diplomática e militar entre grandes potências, aspirando, em vez disso, a uma ordem multipolar que conceda maior voz às nações de seu porte nas instituições internacionais, almejando uma influência global mais inteligente.

Na perspectiva brasileira, o surgimento de novas potências, notadamente a China, a Índia, Turquia e Irã, dentre outras, sinaliza a possibilidade de uma “multipolaridade benigna”, caracterizada pela redução do poder concentrado a um, dois ou somente três grandes players e pelo fortalecimento da influência das nações em ascensão. Esse posicionamento, de conceber mais players, reflete a história de autonomia diplomática do Brasil, como também a busca por uma ordem global mais equânime, equitativa, que soma em vez de excluir. Contudo, o Brasil terá de estar preparado para os ventos e tempestades que se aproximam rapidamente.

A postura abertamente favorável do Brasil em relação a Pequim gerou desconforto nas autoridades norte-americanas, especialmente após as críticas em relação ao papel do dólar americano como moeda de reserva global, durante sua visita a Pequim. A posição do governo brasileiro é rejeitar a imposição de Washington, enfatizando a busca por relações harmoniosas com ambas as superpotências, evitando entrar na nova “guerra fria”.

Os laços sino-brasileiros se aprofundaram desde 2009, quando o Brasil e a China se uniram para formar os BRICS. Esta aliança desempenha um papel crucial na política externa do Brasil, ainda que o grupo tenha adotado uma retórica um pouco anti-ocidental nos últimos anos. Os líderes brasileiros veem os BRICS como uma plataforma para elevar a influência do “Sul Global” e criar alternativas às instituições financeiras ocidentais, como o FMI e o Banco Mundial. Neste meio termo, as relações econômicas entre Brasil e China são predominantemente marcadas por transações comerciais, com a China adquirindo cerca de um terço de todas as exportações brasileiras, incluindo produtos-chave como soja e carne bovina. A dependência chinesa desses produtos básicos brasileiros gerou um influente lobby pró-China no Brasil, especialmente entre os empresários do agronegócio, criticado pelo atual Governo Brasileiro devido ao seu poderoso poder de influência, uma vez que, segundo a mídia "de direita" é o responsável por “pagar as contas do país”.

O ponto que mais une o Brasil e a China são os acordos econômicos estabelecidos no âmbito da exportação de produtos agrícolas, mas são justamente estes os mais criticados pela atual administração do país. O ponto é conciliar o grande agronegócio com a enorme importância dos pequenos negócios, dos pequenos produtores, da agricultura familiar, local, regional e tradicional. Diante de toda a pujança econômica crescente da China, que absorve uma importante parcela da economia do país, os Estados Unidos ainda mantêm uma importância significativa para o Brasil, sendo a principal fonte de investimento estrangeiro em 2021, detendo um estoque de US$ 191 bilhões, o que mostra que a ambiguidade do governo brasileiro faz sentido. Ainda que não esteja alinhado aos interesses das duas principais potências econômicas do planeta, o Brasil tem conseguido êxito em atrair para si os interesses de ambos numa competição que pode lhe render bons frutos.

Porém, não se pode ficar alheio ao fato de que o Brasil, diante de sua política interna e ciclos comerciais com a China, enfrenta o desafio de equilibrar as relações com ambas as superpotências. A relutância do Brasil em ceder às pressões dos EUA, exemplificada pela busca de cooperação tecnológica com a China, apesar das tentativas de dissuasão, reflete a determinação de Brasília em manter sua autonomia na condução de suas relações exteriores.

Mesmo diante do ceticismo em algumas áreas, os líderes brasileiros percebem há tempos a ascensão da China como um fator positivo, proporcionando um contrapeso suave aos Estados Unidos e moderação diante do unilateralismo norte-americano. O Brasil expressa seu compromisso em colaborar com a China para equilibrar a geopolítica mundial, destacando a intenção de manter uma posição estratégica flexível no cenário internacional. No cenário regional em seu entorno na América do Sul, o Brasil deixa um recado positivo ao demonstrar divergências em relação a pontos fundamentais da política externa dos Estados Unidos. Seu posicionamento busca fortalecer a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e adotar uma postura independente diante do conflito na Ucrânia.

Sem perder de vista a importância da América do Sul para o seu papel na nova ordem mundial, o Brasil sinaliza que a “integração regional” será um ponto central em sua diplomacia, deixando claro o compromisso com a integração regional e a necessidade de pensar coletivamente. Ao discutir a parceria com a China, por exemplo, é crucial considerar o papel desempenhado pela China e pelos bancos de desenvolvimento associados no financiamento de projetos que envolvam a integração regional e a infraestrutura sustentável no Cone Sul.

Não é segredo, no entanto, que as transformações no equilíbrio de poder global e na dinâmica política regional na América do Sul geram questões difíceis no campo da política externa brasileira, especialmente no que diz respeito à formulação da estratégia mais adequada para a inserção internacional diante da crescente rivalidade entre os Estados Unidos e a China. Ao analisar tais questões, é inevitável questionar “quais serão as escolhas políticas e geopolíticas decisivas do Brasil frente aos seus dois mais relevantes parceiros econômicos”? Enfrentar esse dilema estratégico não é tarefa fácil e pode levar a uma fragmentação dos interesses nacionais brasileiros, além da deterioração de setores estratégicos de seu sistema produtivo.

Diante desses desafios, faz sentido para a diplomacia brasileira escolher um novo parceiro e excluir uma das grandes potências antigas? Qual o risco de se confrontar os EUA? (é perigoso ser seu inimigo, é arriscado ser seu amigo...!?).

A eventual escolha do Brasil por uma parceria e alinhamento não encontra fundamentos na estratégia de forçar o país a fazer uma escolha binária entre os Estados Unidos e a China, considerando as razões econômico-comerciais, político-culturais e diplomáticas. Essa abordagem resultaria na fragmentação dos interesses nacionais brasileiros e na deterioração de setores cruciais de sua economia. A melhor estratégia para preservar os interesses nacionais brasileiros é buscar uma relação equilibrada e aprofundada com ambos os países, diversificando a inserção internacional do Brasil.

A concretização dessa estratégia de acomodação, de adaptação, não depende apenas da ação unilateral do governo brasileiro. Os Estados Unidos poderiam contribuir para o sucesso dessa abordagem ao aprimorar suas relações com a América Latina e o Brasil, destacando a importância estratégica da região. O aumento do comércio bilateral, a remoção de barreiras comerciais e o apoio às aspirações políticas brasileiras em organizações internacionais são passos cruciais para fortalecer a confiança mútua.

No caso da China, é de vital importância aprofundar as relações para além do aspecto comercial, incorporando dimensões socioculturais e diversificando os investimentos chineses no Brasil. A cooperação em áreas como ciência, tecnologia e inovação pode impulsionar projetos essenciais para o desenvolvimento brasileiro. Uma revisão política mais intensa e o apoio chinês às demandas do Brasil em organizações multilaterais são elementos fundamentais para fortalecer essa parceria.

A exclusão de um ator em detrimento do outro não é uma opção viável para o Brasil, destacando a importância de evitar um alinhamento automático. A busca por uma ordem global multipolar, adaptando-se às transformações constantes, é a alternativa que melhor protege os interesses estratégicos brasileiros.


 


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