O DONBASS HOJE SERÁ GAZA AMANHÃ

 Texto adaptado de Pepe Escobar

O Eixo da Assimetria, fenômeno associado ao chamado mundo multipolar está a toda. Ele é composto pelos atores estatais e não-estatais que empregam manobras assimétricas no tabuleiro global a fim de nocautear a "ordem baseada em regras" liderada pelos Estados Unidos. A vanguarda é o Ansarallah, o movimento de resistência iemenita. 

O Ansarallah é implacável, abateram um drone MQ-9 Reaper de 30 milhões de dólares com um míssil de fabricação própria de 10 mil dólares.

Eles foram os primeiros em todo o Sul Global a usar mísseis balísticos antinavio contra navios que se dirigiam a Israel, ligados à Marinha dos Estados Unidos. 

O Ansarallah está em guerra com a Marinha dos Estados Unidos. 

O Ansarallah capturou um sofisticado veículo subaquático autônomos (AUV), o Remus 600 de 1,3 milhões de dólares, é um drone submarino em forma de torpedo capaz de transportar uma maciça carga de sensores, para onde vai? Para a engenharia reversa no Irã. .

Lula é, hoje, a voz do Sul Global, teve a coragem de definir a tragédia de Gaza como aquilo que ela realmente é: um genocídio. Os tentáculos sionistas espalhados por todo o Norte Global e em seus vassalos do Sul Global estão ensandecidos. Os supremacistas do Deus de vingança em Tel-Aviv declararam Lula "persona non grata", em Israel. A questão é que não foi o Lula quem assassinou mais de 29 mil palestinos, a imensa maioria dos quais são mulheres e crianças. 

É a História que não perdoará os genocidas de Tel A Vive, serão julgados persona non grata, não em Israel, mas no mundo inteiro, anotem.

A fala de Lula também é a voz dos BRICS 10, em ação, a sua fala foi obviamente combinada de antemão com Moscou, Pequim, Teerã e, é claro, com a União Africana. Lula falou em Addis Abeba, e a Etiópia é agora membro dos BRICS 10.

O presidente brasileiro programou fala de modo que entre em discussão na reunião de Chanceleres do G20 a ser realizada no Rio. Indo muito além do BRICS 10, o que ocorre em Gaza é consenso em meio aos parceiros não-ocidentais do G20. 

A luta do Iêmen pelo "nosso povo" de Gaza, como dizem os combatentes Houthis, é uma questão de solidariedade humanista, moral e religiosos, princípios fundamentais que as potências "civilizacionais" do Ocidente jogaram no lixo, tanto em termos internos quanto internacionais. Uma convergência de princípios humanistas criou agora um vínculo direto entre o Eixo da Resistência no Oeste Asiático ou Oriente Médio e o Eixo de Resistência Eslavo no Donbass.   

Por falar em Donbass, as forças da República Popular de Donetsk (RPD) passaram dois anos duríssimos na Novorossiya, mas alcançaram o estágio no qual se torna claro – com base nos fatos acumulados no campo de batalha – que "negociações" significam apenas os termos da rendição de Kiev. 

A tarefa do Eixo da Resistência no Oriente Médio, ao contrário, sequer começou. É justo afirmar que sua resistência mais abrangente ainda não foi posta em ação

O Secretário-Geral do Hezbollah, Hassan Nasrallah, com sua proverbial sutileza, insinuou que, na verdade, não há nada a ser negociado quanto à Palestina. E caso houvesse uma volta a fronteiras anteriores, estas seriam as de 1948. O Eixo da Resistência entende que a totalidade do Projeto Sionista é ilegal e imoral. Mas resta a pergunta de, o que fazer para jogá-lo, na prática, na lixeira da História? Cenários futuros possíveis, um tanto otimistas, incluiriam o Hezbollah tomando posse da Galileia como um passo rumo à futura retomada das Colinas de Golan ocupadas pelos israelenses. Mas permanece o fato de que mesmo uma Palestina unida não teria a capacidade militar de reconquistar as terras palestinas roubadas. 

As questões colocadas pelo Sul Global podem ser: quem mais, além do Ansarallah, do Hezbollah e da Hashid al-Shaabi irá se juntar ao Eixo da Assimetria na luta pela Palestina? Quem estaria pronto para vir morrer na Terra Santa? Detalhe, no Donbass, são russos e russófonos que estão morrendo pelas terras historicamente russas.... 

O que nos leva ao caminho rumo ao final do jogo: apenas uma Operação Militar Especial Oeste-Asiática, lutando até o fim, irá solucionar a tragédia palestina. Uma tradução do que ocorre por todo o Eixo de Resistência Eslavo: "Os que se recusam a negociar com Lavrov terão que se haver com Shoigu".


O neocon de plástico, o Secretário de Estado Tony Blinken, deixou escapar a verdade da situação ao definir sua tão querida "ordem internacional baseada em regras": "Se você não está na mesa, você está no menu".

Seguindo sua própria lógica hegemônica, é claro que a Rússia e os Estados Unidos/OTAN estão na mesa, enquanto a Ucrânia está no menu. Mas e quanto ao Mar Vermelho? Os houthis que defendem a Palestina contra os Estados Unidos/Reino Unido/Israel estão claramente na mesa, ao passo que os vassalos do Ocidente que apoiam srael estão no menu. 

E esse é o problema: o hegêmon – ou os "cruzados", como são denominados na China, perderam a capacidade de colocar sobre a mesa os nomes dos participantes. A principal razão para esse colapso de autoridade é o crescente número de encontros internacionais realmente sérios, patrocinados pela parceria estratégica Rússia–China, nos dois últimos anos, desde o início da OME. Trata-se de um planejamento sequencial, com metas a longo prazo claramente definidas.  

Apenas estados civilizacionais têm essa capacidade – não cassinos neoliberais plutocráticos.     

Negociar com o hegêmon é impossível, ele impede e se recusa a qualquer negociação (basta ver a sequência de bloqueios às resoluções de cessar-fogo na ONU). Além disso, o hegêmon prima pela constante ameaça e chantagem para com seus servos e colonos, basta ver a reação histérica da mídia convencional brasileira ao veredito proferido por Lula sobre Gaza. 

O que a Rússia mostra ao Sul Global, dois anos depois do início da OME, é que a única maneira de dar uma lição ao hegêmon é necessariamente de natureza "tecno-militar".  

O problema é que nenhum estado-nação pode se comparar à superpotência nuclear/hipersônica/militar que é a Rússia, onde 7,5 por cento do orçamento do governo é dedicado à produção militar. A Rússia está e continuará em permanente pé de guerra até que as elites do hegêmon voltem a si e a respeitem como ela é, e porque é, o que por enquanto está longe de acontecer.

Enquanto isso, o Eixo da Resistência do Oriente Médio Oeste assiste e aprende, dia após dia. É importância ter em mente que para todos os movimentos de resistência do Sul Global – o que inclui, por exemplo, o Oeste Africano contra o neocolonialismo francês – as linhas de confronto e cisão geopolítica são duríssimas. Hoje, trata-se do Ocidente Coletivo contra o Islã, do Ocidente Coletivo contra a Rússia, e logo será, embora muito relutantemente, dada a dependência do Ocidente Coletivo, contra a China. 

O fato é que já estamos imersos em uma Guerra Mundial que é existencial e civilizacional. Na encruzilhada em que nos encontramos, há uma bifurcação: ou haverá uma escalada rumo à "ação militar cinética" (,uma guerra total, a 3ª guerra mundial) ou haverá uma multiplicação de guerras híbridas espalhadas por diversas latitudes, o que parece mais provável. 

Caberá ao Eixo da Assimetria, de modo calmo, imperturbável e comedido, forjar corredores, passagens e trilhas subterrâneas capazes de minar e subverter a ordem mundial baseada em regras e unipolar liderada pelos Estados Unidos.



"As atuais manifestações bolsonaristas são o último suspiro de uma direita de classe média formada politicamente com o justiceirismo infantilizado e o culto à força de filmes/séries como Top Gun, 007 e Law & Order, sempre tendo os EUA como referência suprema. 

Enquanto se olha só para a velharada, que já está se despedindo, os jovens da direita de classe média estão se formando com ideologias ainda mais perniciosas como anarco-capitalismo, separatismo, redpill, neonazismo, fomentado nos populosos subterrâneos da internet e do mundo "gamer".  

Some-se a isso quadro equivalente na esquerda, em que as gerações formadas com músicas do Ivan Lins e do Cazuza já estão dando adeus, e as novas já estão despontando intoxicadas com todo tipo de ideologias niilistas e desconstrucionistas que compõem o universo do chamado identitarismo.

No que depender da formação política predominante na juventude atual, as perspectivas de futuro não são boas" (Felipe Quintas).

O que vemos nas ruas?

Vemos gente cansada com o sistema brasileiro que gera injustiça, desigualdade e corrupção?

Mais do que isso, vemos gente cansada de injustiça, mas que apoia a destruição do que ainda gera alguma justiça (seguridade social, políticas públicas, políticas sociais, instrumentos de soberania etc), enquanto votam cegamente em políticos que se alimentam de slogans narrativos, vendem uma pureza que absolutamente não possuem, e, pior, perpetuam o que há de pior no "sistema", apregoando neoliberalismo e pentecostalismo verde-amarelo. A direita peca por sua submissão total ao hegemon neoliberal e sionista, a esquerda, por sua vez, perdeu a fala, não revê, não recria seu discurso. Hoje não se trata mais absolutamente de "destruir a burguesia" ou "combater o capitalismo", o mote da esquerda agora tem de ser o uso inteligente dos órgãos públicos e a reforma das instituições a fim de desenvolver as potencialidades nacionais.




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