POR QUE O IRÃ NÃO PODE SER VENCIDO

 Por que Brzezinski considerava que uma guerra com o Irã seria a ruína dos EUA?


Quando se fala em estratégia geopolítica dos EUA no século XX dois nomes vêm imediatamente à mente, o do recém-falecido Henry Kissinger e de Zbigniew Brzezinski. 

Brzezinski, que tão somente ocupou o assento de Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA por alguns anos sob a Administração Carter é mais conhecido como defensor da "estratégia de contenção" aplicada contra a URSS em oposição à détente kissingeriana e como fundador da Comissão Trilateral, um dos principais organismos utilizados pelas elites globalistas para (tentar) dirigir os rumos da humanidade.

No plano teórico, Brzezinski era um seguidor fiel das teorias de MacKinder e da geopolítica talassocrática clássica, que sempre apontou como principal ameaça à hegemonia dos EUA a consolidação do Coração da Eurásia por um único Estado telurocrático, como a Rússia. Por isso que a sua estratégia sempre priorizou a cooptação e subversão da Europa Oriental, razão pela qual ele esteve por trás das projeções do soft power ocidental nessa região, através de ONGs, acordos bilaterais e de programas de rádio.

Não por acaso, considerando o conteúdo da obra O Grande Tabuleiro de Xadrez, e a importância que Brzezinski atribuiu à separação entre Ucrânia e Rússia para impedir que Rússia voltasse a se tornar uma potência mundial, Brzezinski é por muitos considerado o verdadeiro arquiteto geopolítico da crise ucraniana.

Enfim, para além das preocupações com a URSS e, depois, a Rússia, Brzezinski alertava que os EUA jamais deveriam permitir uma aproximação entre EUA, China e Irã - a Rússia e a China enquanto atores geopolíticos e o Irã enquanto pivô, caso esses três países se aliassem conseguiriam mobilizar todo o potencial eurasiático contra os EUA, sepultando a sua primazia.

Precisamente por isso, as relações com esses três países deveriam ser pensados de modo que os EUA estivessem sempre colocando uns contra os outros e cooptando um deles. Bem, nada disso foi seguido nos EUA, pelo menos desde Bush Jr.

Mas as preocupações de Brzezinski com o Irã vão ainda além. Segundo ele, caso os EUA alienassem o Irã, no mínimo transformariam o Irã em aliado da Rússia, o que abriria as portas do Oriente Médio para os russos e levariam à perda de influência dos EUA bem como a uma perda de sua capacidade de cercar e conter a Rússia.

Mas se os EUA não apenas alienassem o Irã, mas o transformassem em inimigo e decidissem entrar em guerra com o país, aí a situação seria verdadeiramente catastrófica. Para os EUA.

Segundo Brzezinski, o tamanho e capacidades militares do Irã implicariam, necessariamente, o uso de bem mais tropas do que no Afeganistão ou Iraque - tropas que teriam que permanecer no Irã por muito mais tempo, porque seria muito mais difícil estabelecer controle efetivo sobre o país do que em comparação com os outros dois. Isso levaria a um desgaste econômico imenso para os EUA.

De fato, analistas estadunidenses afirmam que uma invasão terrestre do Irã necessitaria de pelo menos 1.6 milhão de homens para ter chance. Enquanto uma campanha aérea e naval se depararia com a avançada missilística iraniana, bem como com as suas minas navais, impondo aos EUA um custo possivelmente impagável.

O que seria piorado pelo controle iraniano do Golfo Pérsico, que levaria à triplicação ou quadruplicação dos preços do petróleo. 

Evidentemente, todo o Oriente Médio viraria um pandemônio e, na prática, essa tentativa de invasão consolidaria ainda mais a Eurásia.

Na prática, o Irã seria a tumba da hegemonia unipolar dos EUA. 

Não por acaso, Brzezinski defendeu aguerridamente o acordo nuclear com o Irã, bem como a cooptação do Irã para uma posição pró-ocidental para que ele virasse o fator estabilizador do Oriente Médio e ajudasse na contenção da Rússia.

Bem, atualmente, está tudo correndo exatamente contra as intenções de Brzezinski. (Raphael Machado)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Wall Street e a 'revolução' russa

Israel FORJOU o ataque do 07 de outubro

IA determina a destruição em Gaza