COMO O NAZISMO CRIOU A UNIÃO EUROPÉIA
O documento conhecido como “Red House Report,” é um relato detalhado de uma reunião secreta no Hotel Maison Rouge em Estrasburgo, em 10 de agosto de 1944. Ali, altos oficiais nazistas solicitaram a um grupo de elite de industriais alemães que planejassem o pós-guerra da Alemanha. Ou seja, tratava-se de preparar o retorno dos nazistas ao poder e trabalhar para criar um “novo e forte império (IV Reich) alemão”. Em outras palavras: o Quarto Reich.
O papel está envelhecido e frágil agora. Mas o relatório da Inteligência Militar dos EUA EW-Pa 128 é tão sinistro agora quanto no dia em que foi escrito, em novembro de 1944.
O relatório “Red House Report,” de três páginas, bem digitado, marcado como “Secreto”, copiado para funcionários britânicos e enviado para Cordell Hull, o Secretário de Estado dos EUA, detalhou como os industriais alemães deveriam trabalhar com o Partido Nazista para reconstruir a economia alemã enviando dinheiro através da Suíça.
O chefe dos S.S. Heinrich Himmler com Max Faust, engenheiro da empresa I.G. Farben, criariam uma rede de empresas controladas desde o exterior. Eles esperariam até que as condições estivessem de acordo com sua agenda, e então assumiriam o controle da Alemanha novamente.
Os industriais incluíam representantes da Volkswagen, Krupp e Messerschmitt. Funcionários da Marinha e do Ministério dos Armamentos também estiveram no encontro, decidiram que o Quarto Reich nazista alemão, ao contrário do seu antecessor, seria um império econômico, industrial, financeiro e não militar, mas não seria apenas alemão.
O relatório “Red House Report,” que foi desenterrado dos arquivos de inteligência dos EUA, foi a inspiração para o livro The Budapest Protocol.
O livro conta a história que se inicia em 1944 à medida que o Exército Vermelho avança na Berlim assediada, depois salta até os dias de hoje, durante a campanha eleitoral para a eleição do primeiro presidente da União Europeia. A superação da União Européia é revelada como uma frente para uma conspiração sinistra, um plano enraizado nos últimos dias da Segunda Guerra Mundial.
O problema aqui é que alguns dos relatos da “Red House Report,” que alguns poderiam tomar como pura ficção tornaram-se realidade. A Alemanha nazista exportou enormes quantidades de capital através de países neutros. As empresas alemãs criaram uma rede de empresas líderes no exterior. Um fato indiscutível é que a economia alemã logo se recuperou depois de 1945.
O Terceiro Reich foi derrotado militarmente, mas os poderosos banqueiros, industriais e funcionários públicos da era nazista, renasceram como “democratas”, e logo prosperaram na nova Alemanha Ocidental. Lá eles trabalharam para uma nova causa: a integração econômica e política européia sob o controle nazista.
O relatório da “Red House Report,” foi escrito por um francês que estava naquela reunião em Estrasburgo em 1944. Então vamos descrever aquela reunião. Os industriais reunidos no Maison Rouge Hotel esperaram até quando o SS Obergruppenfuhrer Dr Scheid começou a reunião. Scheid tinha uma das mais alta patente na S.S., equivalente Tenente-General. Ele aparece então em seu uniforme cinzento-verde, gola alta, com tiras prateadas. Os guardas vigiaram desde fora, a sala foi vasculhada à procura de microfones e em seguida Scheid começou a falar. "A indústria alemã deve perceber que a guerra não pode ser conquistada", ele declarou, mas “deve tomar medidas para se preparar para uma campanha comercial no pós-guerra”. Ou seja, admitia a derrota militar e tentava garantir o futuro do Reich. Ele ordenou aos industriais que “façam contatos e alianças com empresas estrangeiras, mas isso deve ser feito individual e secretamente e sem atrair qualquer suspeição”. Os industriais alemães deveriam tomar emprestado somas substanciais de países estrangeiros após a guerra.
Eles deveriam organizar as finanças das empresas alemãs que já haviam sido usadas como frentes para a penetração econômica do Reich nazista no exterior, disse Scheid, citando os parceiros americanos da gigante de aço da Alemanha, o conglomerado Krupp, bem como a Zeiss, a Leica e a companhia de transporte marítimo da Hamburg-America Line.
Ao término da reunião, os industriais alemães começaram a deixar a reunião, um grupo menor permaneceu, presidido pelo Dr. Bosse do Ministério do Armamento. Havia segredos para ser compartilhado com a elite nazista alemã.
Bosse explicou que, embora o Partido Nazista tenha informado os industriais de que a guerra estava perdida, a resistência contra os Aliados continuaria até garantir a unidade alemã. Ele então apresentou a estratégia secreta de três estágios para a implantação do quarto Reich.
Na primeira fase, os industriais deveriam “se preparar para financiar o Partido nazista, que seria forçado a usar meios discretos para estabelecer a resistência”.
A segunda fase veria o governo atribuir grandes somas a industriais alemães para estabelecer uma “base segura de pós-guerra em países estrangeiros”, enquanto “as reservas financeiras existentes devem ser colocadas à disposição do partido para que um forte império alemão possa ser criado após a derrota na guerra’.
Na terceira fase, as empresas alemãs criariam uma rede de agentes “dormentes” no exterior através de grandes empresas de ponta que deveriam ser a cobertura para a pesquisa e a inteligência militar, até que os nazistas retornassem ao poder. “A existência destes agentes infiltrados deve ser conhecida apenas por poucas pessoas em cada indústria e pelos chefes do Partido Nazista”, anunciou Bosse.
“Cada escritório terá um agente de ligação com o Partido Nazista. Assim que o partido se tornar forte o suficiente para reestabelecer seu controle sobre a Alemanha, os industriais serão pagos pelos seus esforços e cooperação por meio de concessões de ações e encomendas de produtos de suas empresas.
Os fundos exportados deveriam ser canalizados através de dois bancos em Zurique, ou através de agências na Suíça que compraram imóveis na Suíça, mediante uma comissão ou propina de cinco por cento. Os nazistas enviaram grandes fundos para a Suíça por muitos anos.
Os bancos suíços, em particular o Banco Nacional Suíço, aceitaram o ouro e outros metais preciosos saqueados de todos os países ocupados pelos nazistas. Eles aceitaram ativos e títulos de propriedade tirados de empresários judeus na Alemanha e nos países ocupados, e forneceram o montante de moeda estrangeira que os nazistas precisavam para comprar materiais de guerra vitais. A colaboração econômica suíça com os nazistas foi monitorada de perto pela inteligência aliada.
"Anteriormente, as exportações de capital dos industriais alemães para países neutros deveriam ser realizadas de forma velada.
“Agora, o Partido Nazista está atrás dos industriais e exorta-os a se salvar, obtendo fundos fora da Alemanha, conforme seus planos para o pós-guerra”. A ordem para exportar capital estrangeiro era tecnicamente ilegal na Alemanha nazista, mas no verão de 1944 a lei já não importava mais.
Mais de dois meses após o desembarque do dia D (em 6 de junho de 1944) na Normandia, os nazistas estavam sendo espremidos pelos aliados pelo oeste e pelo sul e sobretudo pelos soviéticos no leste. Hitler sobreviveu a um atentado, a liderança nazista estava nervosa, frustrada e brigando entre si.
Durante os anos de guerra, as tropas da temida Waffen S.S. (Schutzstaffel) construíram um gigantesco império econômico, baseado em pilhagem e crime, e logicamente planejaram mantê-lo após a derrota militar. Um encontro como aquele na Maison Rouge precisaria da proteção das tropas especiais da S.S., de acordo com o Dr. Adam Tooze, da Universidade de Cambridge, autor de Wages of Destruction: The Making And Breaking of the Nazi Economy.
Ele diz: “Em 1944, qualquer discussão do planejamento pós-guerra foi banida. Era perigoso fazer isso em público. Por isso agiam com muito cuidado e em segredo..
Um advogado e economista altamente preparado, Ohlendorf, no inverno de 1943 esteve à frente do Ministério da Economia. O trabalho de Ohlendorf estava focado no comércio de exportação, sua verdadeira prioridade era preservar o enorme império econômico pan-europeu das S.S. nazistas após a derrota da Alemanha.
Ohlendorf, enforcado em Nuremberg, se interessou particularmente pelo trabalho de um economista alemão chamado Ludwig Erhard. Erhard escreveu um longo manuscrito sobre a transição para uma economia pós-guerra após a derrota da Alemanha. Isso era perigoso, especialmente porque seu nome havia sido mencionado em conexão com grupos de resistência.
Mas Ohlendorf, que também era chefe do SD, o serviço de segurança nacional nazista, e protegeu Erhard quando concordou com suas opiniões sobre a estabilização da economia alemã no pós-guerra. O próprio Ohlendorf foi protegido por Heinrich Himmler, o chefe das S.S. Ohlendorf e Erhard temiam uma hiper-inflação, como a que havia destruído a economia alemã nos anos vinte.
Os dois homens concordaram que a prioridade da pós-guerra era a rápida estabilização monetária através de uma unidade monetária estável, mas isso deveria ser aplicado por um poder de ocupação, pois nenhum estado alemão pós-guerra teria legitimidade para introduzir uma moeda de valor.
Essa unidade monetária se tornaria o Deutschmark (marco alemão), introduzido em 1948. Foi um sucesso e iniciou a rápida recuperação da economia alemã. Com uma moeda estável, a Alemanha seria mais uma vez um parceiro comercial atraente para os demais países. Os conglomerados industriais alemães poderiam reconstruir seus impérios econômicos por toda a Europa.
A guerra tinha sido extraordinariamente lucrativa para a economia alemã. Em 1948 – apesar de seis anos de conflito, do pesado bombardeio aliado e pagamentos de reparações pós-guerra – o estoque de capital e de equipamentos bem como de instalações e edifícios era maior do que em 1936, graças principalmente ao boom da indústria de armamentos e das novas tecnologias criadas pelos cientistas nazistas da Alemanha.
Erhard refletiu sobre como a indústria alemã poderia expandir seu alcance através do continente europeu destruído. A resposta foi através do supranacionalismo – a entrega voluntária da soberania nacional dos países a um novo organismo internacional que deveria ser criado para governar toda a Europa.
A Alemanha e a França foram os impulsionadores da European Coal and Steel Community (ECSC) – Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, o acordo precursor da União Européia. A ECSC foi a primeira organização supranacional, criada em abril de 1951 por seis estados europeus. Criou um mercado comum de carvão e aço que regulou o comércio e produção do aço. Isso constituiu um precedente vital para a erosão constante da soberania nacional dos países, um processo que continua acentuadamente até os dias de hoje.
Mas antes que o mercado comum europeu pudesse ser configurado, os industriais nazistas tiveram de ser anistiados e os banqueiros e funcionários nazistas reintegrados. Em 1957, John J. McCloy, o Alto Comissário Americano para a Alemanha, emitiu uma anistia para os industriais condenados por crimes de guerra.
Os dois mais poderosos industriais nazistas, Alfried Krupp, da Krupp Industries e Friedrich Flick, cujo grupo Flick eventualmente possuía uma participação de 40% na Daimler-Benz (Mercedes Benz), foram libertados da prisão depois de ter cumprido apenas três anos de suas penas. Krupp e Flick tinham sido figuras centrais na economia nazista durante a era Hitler. Suas empresas usaram trabalhadores, para trabalharem até a exaustão e morte.
A empresa Krupp logo se tornou, novamente, uma das principais empresas industriais europeias.
O Flick Group também construiu rapidamente um novo império empresarial pan-europeu. Friedrich Flick permaneceu ileso em relação ao seu histórico de guerra e nunca precisou a pagar um único Deutschmark em compensação por seu modo de enriquecer, até sua morte em julho de 1972 aos 90 anos, quando deixou uma fortuna de mais de US$ 1 bilhão, o equivalente então a £$ 400 milhões de libras naquele momento.
“Para muitas figuras industriais líderes do regime nazista, a Europa tornou-se uma cobertura para perseguir os interesses nacionais alemães de implantar o IV Reich (Império nazista) após a derrota de Hitler”, diz o historiador Dr. Michael Koch-Duschinsky.
“A recuperação e a continuidade da economia da Alemanha e das economias da Europa no pós-guerra foi muito impressionante. Algumas das principais figuras da economia nazista tornaram-se líderes construtores da nova União Europeia“. Numerosos nomes de famílias tradicionais exploraram trabalhadores escravos e trabalhos forçados, incluindo gigantes como a BMW, Siemens e a Volkswagen, que produziram munições e peças para o foguete V1 de Wernher Von Braun, o primeiro míssil criado pelo homem.
O trabalho escravo era parte integrante e fundamental da máquina de guerra nazista. Muitos campos de concentração, senão mesmo todos eles eram fábricas, onde funcionários das empresas trabalhavam de mãos dadas com os oficiais da S.S. supervisionando os trabalhos.
Como Krupp e Flick, Hermann Abs, o banqueiro mais poderoso da Alemanha pós-guerra, prosperaram no Terceiro Reich. Dapper, no Deutsche Bank, o maior banco da Alemanha, em 1937. À medida que o império nazista se expandia, o Deutsche Bank arianizava bancos austríacos e tchecoeslovacos pertencentes a judeus.
Em 1942, Abs controlava 40 cargos diretores, um quarto dos quais em países ocupados pelos nazistas. Muitas dessas empresas arianizadas usaram trabalho escravo e, em 1943, a riqueza do Deutsche Bank havia quadruplicado.
Hermann Abs também se sentou no conselho de administração da gigante IG Farben, como representante do Deutsche Bank. IG Farben era uma das empresas mais poderosas da Alemanha nazista, formada por uma união da BASF, Bayer, Hoechst e suas subsidiárias na década de 20.
Em Auschwitz, conhecido como Auschwitz III, dezenas de milhares de judeus e outros povos prisioneiros morreram produzindo borracha artificial.
Os trabalhadores verbraucht (usados) ou seja, esgotados, no termo arrepiante dos nazistas, eram transferidos para Birkenau, onde usavam o gás Zyklon B, cuja patente era propriedade da própria IG Farben.
Mas, como todos os bons empresários nazistas alemães, os chefes de IG Farben protegiam suas apostas.
Durante a guerra, a empresa havia financiado a pesquisa de Ludwig Erhard. Após a guerra, 24 executivos da IG Farben foram acusados de crimes de guerra no Auschwitz III – doze dos 24 foram declarados culpados e condenados a prisões que variavam de um ano e meio a oito anos. A IG Farben escapou das acusações de assassinato em massa.
Hermann Abs foi uma das figuras mais importantes na reconstrução pós-guerra da Alemanha. Foi em grande parte graças a ele que um “forte império alemão” foi reconstruído, e que constituiu a base da União Européia de hoje.
Abs foi encarregado de alocar recursos do Marshall Aid – fundos de reconstrução – para a indústria alemã. Em 1948 ele estava gerenciando a recuperação econômica da Alemanha. Hermann Abs também foi membro da Liga Européia de Cooperação Econômica, grupo criado em 1946. A liga foi dedicada ao estabelecimento de um mercado comum europeu, o precursor da União Européia.
Seus membros incluíram industriais e financiadores e desenvolveu políticas hoje bastante conhecidas como a integração monetária e sistemas comuns de transporte, energia e de welfare state ou bem-estar social entre os países que viriam a constituir a União Europeia. Lembremos que nazismo significa nacional socialismo, ou seja, tinha o lado do bem estar social. Quando Konrad Adenauer, o primeiro chanceler importante da Alemanha Ocidental, no pós-guerra, assumiu o poder em 1949, Hermann Abs era o seu mais importante assessor financeiro.
Por trás das cenas, Hermann Abs estava trabalhando para que o Deutsche Bank pudesse se reconstituir após a guerra. Em 1957, os seis países membros da European Coal and Steel Community (ECSC) assinaram o Tratado de Roma, que criou a Comunidade Econômica Européia. O tratado liberalizou o comércio e estabeleceu instituições supranacionais como o Parlamento Europeu e a Comissão Européia.
Como Hermann Abs, Ludwig Erhard floresceu na Alemanha pós-guerra. Adenauer fez de Erhard o primeiro ministro da economia no pós-guerra da Alemanha. Em 1963, Erhard sucedeu a Adenauer como chanceler por três anos. Mas o milagre econômico alemão – tão vital para a ideia de uma nova Europa – foi construído em cima de crimes de guerra na época nazista. Estima-se que o número de trabalhadores forçados empregados por empresas alemãs na era nazista foi de cerca de 2.700.000.
Alguns pagamentos de compensação foram feitos, mas a indústria alemã concordou com um acordo global conclusivo apenas no ano 2000, com um fundo de compensação de £$ 3 bilhões. Não houve admissão de responsabilidade legal e a compensação individual foi insignificante.
Um trabalhador receberia $ 15.000 marcos alemãs (cerca de £$ 5.000), um trabalhador forçado $ 5.000 (cerca de £$ 1.600). Os que aceitaram o acordo se comprometeram a não iniciar qualquer outra ação legal. Para colocar esta soma de dinheiro em perspectiva, em 2001, a Volkswagen sozinha obteve um lucro de £$ 1,8 bilhão.
No mês seguinte, em 2001, 27 Estados membros da União Européia votaram nas maiores eleições transnacionais da história. A Europa agora goza de paz e estabilidade. A Alemanha é uma democracia, abriga uma comunidade judaica substancial. O Holocausto esta confinado à memória nacional dos horrores do passado.
Como disse Joseph Goebbels, "daqui a 50 anos, ninguém mais pensará em estados-nação".
Tirem as conclusões que quiserem, como se diz na Bíblia, "por seus frutos, os conhecereis", mas o que está por trás da guerra da Ucrânia? Por que alimentar tão fanaticamente a russofobia? Por que a UE está tão obcecada como se estivesse possuída? Para onde vai a UE? O que a Europa quer ser no novo mundo multipolar, liderado por EUA, China e Rússia?
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