TRUMP VAI SALVAR OS EUA OU VAI DESTRUÍ-LO?
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Um tema que tem gerado intensas discussões no cenário internacional: os BRICS e sua relação com uma possível nova presidência de Donald Trump.
A pergunta central que guia nosso é clara: os BRICS sobreviverão a Trump? Ou, mais precisamente, como uma liderança de Trump afetaria o bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul? Para responder a essa questão vamos visualizar diferentes perspectivas, analisando os possíveis impactos econômicos, políticos e estratégicos dessa interação.
Trump e os BRICS
Donald Trump, figura conhecida por sua abordagem agressiva e imprevisível, frequentemente entra em cena com força, para depois ajustar suas demandas conforme o contexto. Esse padrão foi observado em discussões recentes sobre sua política comercial. Um dos pontos levantados é a ameaça de impor tarifas de até 100% sobre o comércio realizado fora do dólar, uma medida que poderia atingir diretamente os BRICS, grupo que tem buscado reduzir a dependência da moeda americana. Há também a menção de uma tarifa inicial de 25%, que seria aplicada no primeiro dia de mandato, mas que, segundo analistas, poderia ser parte de uma tática: entrar com força, ganhar tempo e, então, negociar termos mais favoráveis aos interesses americanos.
Esse cenário levanta uma questão crucial: qual seria o impacto de tais políticas sobre os BRICS? Para alguns, as ameaças de Trump são um ponto de ruptura, fragilizando a coesão do bloco. Para outros, porém, elas poderiam unir ainda mais o bloco, fortalecendo a determinação de buscar alternativas ao domínio econômico dos Estados Unidos.
Entao vamos lá , se Trump fosse bastante astuto, ele poderia adotar uma abordagem de negociação em vez de confronto direto. Por exemplo, ele poderia aproximar-se do Brasil para ampliar as exportações agrícolas, oferecer à Índia um contrapeso à influência chinesa, ou propor investimentos na África do Sul. Como maior cliente da China, os Estados Unidos têm um poder de barganha significativo. Essa visão destaca Trump como um negociador pragmático, capaz de "entrar forte" com tarifas e sanções, mas depois recuar para acordos mutuamente benéficos.
No entanto, essa tática teria limites. A desdolarização, um dos objetivos centrais dos BRICS, parece estar em curso independentemente das ações americanas. Com uma dívida pública dos EUA estimada em 36 trilhões de dólares e passivos não pagos que chegam a 175 trilhões, além de juros crescentes e menor demanda por títulos do Tesouro, o sistema financeiro americano enfrenta desafios estruturais. Nesse contexto, as tarifas poderiam ser interpretadas como sanções disfarçadas, mas dificilmente deteriam o movimento dos BRICS rumo à autonomia econômica. Pois bem!
Um ponto importante é que a ascensão de Trump ao poder poderia funcionar como um fator unificador para os BRICS. Enquanto Trump foca nos próximos quatro anos de seu mandato, o bloco mira um horizonte muito mais longo, de séculos à frente.
O processo de desdolarização e a criação de sistemas financeiros alternativos já estão em andamento, como um trem que, uma vez em movimento, não pode ser facilmente parado. Tarifas e pressões econômicas seriam apenas mais um incentivo para os BRICS acelerarem seus planos, talvez de forma menos visível, mas não menos eficaz.
Os avanços do bloco são evidentes. Nos últimos anos, países como Indonésia e Nigéria aderiram ao grupo, trazendo recursos estratégicos como o níquel – essencial para a indústria moderna. Há também sinais de que a China continua acumulando ouro em quantidades muito superiores ao que declara oficialmente, enquanto a Arábia Saudita mantém uma postura ambígua, participando de reuniões dos BRICS enquanto avalia sua relação com o Ocidente. Esses movimentos sugerem que o bloco está progredindo, ainda que de maneira discreta.
Um terceiro ponto de vista traz uma reflexão mais profunda: tanto Trump quanto os BRICS se veem como vítimas do atual sistema global. Trump argumenta que os Estados Unidos têm sido explorados, com empregos terceirizados para países como a China e um déficit comercial de 300 bilhões de dólares com os BRICS. Para ele, a dependência de chips chineses nas armas americanas é uma questão de segurança nacional. Sua retórica é direta: os EUA não serão mais os "otários" do mundo.
Por outro lado, os BRICS também se sentem prejudicados. Seus membros apontam para uma geração marcada pela inflação exportada pelos Estados Unidos, pela usura de instituições como o FMI e o Banco Mundial, e pelo uso do dólar como uma "moeda armada" que os mantém reféns do sistema financeiro ocidental. O Tesouro americano, segundo essa crítica, tornou-se um emissor falido, incapaz de superar a inflação nos últimos anos. Assim, ambos os lados – Trump e os BRICS – compartilham a percepção de serem explorados, mas divergem radicalmente sobre como corrigir essa situação.
No último ano, o crescimento dos BRICS foi notável, com dezenas de países expressando interesse em se juntar ao bloco. Na reunião de Novigrad, por exemplo, o presidente russo Vladimir Putin destacou que 35 a 40 nações demonstraram interesse formal, e a adesão de novos membros, como a Indonésia, reforça a influência econômica do grupo. Contudo, esse avanço tornou-se menos ruidoso no último trimestre, possivelmente como resposta às tensões com o Ocidente. A China, por exemplo, anunciou uma pausa na compra de ouro, mas dados de Londres e Suíça indicam o contrário, sugerindo uma estratégia mais reservada.
Essa discrição pode ser uma tática deliberada. Como na arte da guerra, os BRICS parecem evitar confrontos abertos enquanto consolidam suas posições. A recusa da Arábia Saudita em participar do G7, optando por enviar delegados à reunião dos BRICS, é um exemplo dessa postura ambígua, mas estratégica.
Então, o que se pode esperar dessa relação entre Trump e os BRICS? O consenso entre as análises é que o impulso do bloco continuará, talvez de forma mais silenciosa durante os próximos quatro anos. Trump pode gerar resistência pública e barulho, mas a determinação dos BRICS está enraizada em questões históricas e estruturais que transcendem um único mandato presidencial. Seja como obstáculo ou força unificadora, Trump provavelmente será um catalisador – intencional ou não – para o fortalecimento do bloco.
O futuro dirá se os BRICS conseguirão transformar suas ambições em realidade. Por ora, o que fica claro é que o jogo mudou: o gênio saiu da garrafa, e o movimento rumo a um mundo multipolar parece irrevogável. Até o próximo encontro, continuaremos acompanhando esses desdobramentos.
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