A DESDOLARIZAÇÃO, COM TRUMP OU KAMALA

 San Foo, Pepe Escobar

O Millei chamou a Argentina para dolarizar. 

Ele quer fechar o banco central e parar de usar o peso argentino, completamente. Mas a realidade chegou, 10 meses depois. O sonho do dólar americano está colapsando, já começou a colapsar. 

Milay quer que os argentinos dolarizem o país por ele. Seria algo orgânico e parece mesmo visível. Até os supermercados agora já aceitam pagamentos em dólar. 

A dolarização não é uma arma eficaz para a Argentina. Seria o último passo após estabilizar sua economia. O problema aqui é que milei colocou o cartão atrás da carroça.

Sua ideia de dolarização é bem simples, cortar o suporte de  moedas locais, o peso argentino, forçar as pessoas a pagar suas despesas com dólares. Quanto mais dólares circulam na economia, mais impostos milei pretende receber. E todo rendimento será denominado em dólares dos EUA, essa é a parte-chave. 

O governo pode então usar seus cartões de dólar para importar coisas e pagar seus dólares. No entanto, essa abordagem é na verdade a admissão de que a dolarização falhou. O Milay não pode fechar o seu banco central, e o fato de que o peso ainda existe vai fazer esse plano impossível por muito, muito tempo. 

É aqui que entra a lei de Gresham. É um principio da economia, bastante simples, em que o dinheiro ruim derrota o bom. Quando uma moeda é supervalorizada ela é derrotada por uma moeda subvalorizada.

No caso da Argentina, o dinheiro ruim é o peso e o dinheiro bom é o dólar dos EUA. Então, se você está morando na Argentina, você não quer gastar seu dólar, você quer ficar com ele, você prefere gastar em pesos, e isso se reflete nas contas bancárias das pessoas. 

Desde que Javier Milay tomou o posto, os depósitos de dólares dos argentinas quase dobraram, de 15 bilhões de dólares a 30 bilhões de dólares. Mas há um problema aqui, a moeda está assentada em contas bancárias, é como um pedaço de ouro guardado num cofre. Milay quer que o dinheiro flua através da economia, mas ninguém quer gastar seus dólares, porque a inflação na Argentina ainda é muito grande.

Os pesos ficam devalorizados em 4% por mês, chega a 230% por ano. Então, há essa grande urgência para gastar seus pesos agora mesmo. Ou você começa a comprar coisas com isso, ou você começa a converter os pesos em dólares, dos EUA.

Então, esse é o sonho do Milay, o meu sonho era ser o Mozart do século XXI, mas nem sempre recebemos o que desejamos na vida. A dolarização não é simples, tentando fazer com que as pessoas gastem e ganhem dinheiro, e comprem coisas com dinheiro bom, será extremamente difícil. 

Isso tudo tem a ver com o câmbio de dinheiro. Há atualmente duas taxas de câmbio na Argentina. A primeira é a taxa oficial de pesos. Você pode comprar um dólar dos EUA por 920 pesos. Nesse caso, o peso parece bom para comprar dolares. Mas nas ruas, a taxa do mercado negro é de 1400 pesos para o dólar, o que significa que o peso é de fato 50% mais fraco. 

Isso reflete a verdadeira taxa de câmbio e apresenta um dilema. Se você é um vendedor, você quer usar a taxa oficial para seus dólares durarem mais. Mas se você é um consumidor, você quer ficar com a taxa do mercado negro para esticar seu dólar ainda mais. Então, há uma grande desconecção aqui. 

E esse é apenas o problema da taxa de câmbio. O grande problema da Argentina é uma economia que está colapsando. Para fazer com que as pessoas gastem mais, elas precisam de trabalhos estáveis e rendimentos que fiquem acima da inflação. 

A Argentina está em recessão, são nove meses de empobrecimento, a pobreza atinge 50% na Argentina, isso significa que a classe média está se tornando uma classe média baixa e a classe média baixa está se tornando uma classe baixa, baixa em termos econômicos. 

Se a pobreza seguir crescendo isso significa que o país vai colapsar. Não é preciso ser um preço nobel para descobrir isso. A solução é na verdade bem simples, o comércio precisa crescer, precisa aumentar as exportações, mas sem depender do dólar, ou seja, a única solução para a Argentina hoje significaria se aproximar da China. 

Vamos usar um exemplo bem simples, veja, a Argentina é um grande exportador de carne, nos primeiros cinco meses deste ano exportaram umas 250 mil toneladas para a China. Isso é 75% das exportações de carne da Argentina, no sentido total. Beijing é um grande importador de carne, enquanto a Argentina é um grande produtor. Então, há vantagens naturais para trabalharem untos.

Se a Argentina quiser aumentar sua economia e crescer seu IDH, precisará alimentar mais os chineses. 

Falando sobre a China, vejam, o jázaro JD Vance anda amaldiçoando o chão que o o chinês pisa. Ou seja, Vance não entende, não compreende o comércio global. A mentalidade reinante no país dos ianques parece cega para o fato de que não é Beijing que destrói a classe média dos EUA, vamos ver, os produtos chineses são bons e baratos. A China exporta para o mundo todo, incluindo, obviamente, os EUA. A classe média americana vem se endividando graças à inflação, os EUA imprimem dólares às toneladas, e praticam taxas mais altas, tudo para financiar gastos extravagantes de um governo que só podemos classificar como pouco ou enlouquecido. 

É sempre bom.lembrar que foram as corporações dos EUA que aceitaram o modelo implantado na China, em primeiro lugar. Mas o que Vance disse, durante o seu debate, ainda é muito importante. Ele diz que uma grande luta comercial com a China está vindo.

A batalha econômica vai escalar para níveis malucos, é o que Vance quer. O plano de reabastecimento da manufatura dos EUA pretende voltar para os EUA. Vai acelerar, se Trump entrar, veremos uma grande mudança de indústrias para os EUA, ao custo de todos, incluindo seus maiores aliados. Durante o debate, Vance também fez acenos bastante efusivos para as empresas locais dos EUA. 

A ideia de Trump e Vance ê a seguinte, se fabrica na China em vez dos EUA, vc será punido. Se você apoiar trabalhadores escravos na China a 3 dólares por dia, segundo pregam os desinformantes de sempre. Ora, você não está acessando nossos mercados. Então, os preços nos EUA vão subir, já que fazer as coisas na China é uma fria

Além disso, os EUA poderão até mesmo punir países que fabricam em fábricas chinesas. Por exemplo, se uma empresa alemã faz um carro na China, ela poderá ser taxada quando exportar para os EUA. Então, já podemos prever, em 2025, uma guerra comercial global e uma quebradeira geral.

Para restaurar a produção de volta para os EUA, Trump e Vance terão o prazeroso trabalho de punir o mundo inteiro. Lentamente, mas com toda a certeza, o G7 está acordando para essa realidade. Até Macron, na França, já percebeu isso daí.

O desespero de Macron é visível, parece que a Europa nunca mais será uma prioridade superior dos EUA. 

A prioridade superior dos EUA são os EUA, o que é normal e justo. A segunda prioridade superior é a China. E para o resto do mundo, vai depender do momento. 

Os EUA seguem sendo o principal parceiro da Ucrânia, no mundo. Talvez dure tanto quanto durou no Afeganistão, mas será que dura tanto? E no Afeganistão eles agiam como invasores, na Ucrânia é diferente, quem querem invadir é a Rússia, é a Rússia que os EUA querem prejudicar. 

E temos o acordo de AUKUS na Austrália, saiu  um relatório, diz que a Rússia está recebendo chips dos EUA, mesmo depois das sanções. Mas é simples, a culpa é da China e de Hong Kong, bingo! Bom, essas coisas mostram que as sanções simplesmente não funcionam. 

Primeiramente, os chips são necessários na guerra. Semicondutores são usados para construir sensores e circuitos que ajudam a guiar os misseis. E se olharmos, a maioria dos chips que acabam em missiles russos são na verdade aqueles feitos pelo G7. 

Em outras palavras, os chips são feitos por empresas dos EUA. De acordo com o Bloomberg, uns 20% dos semicondutores usados pela Rússia, em seus mísseis, provieram de uma empresa dos EUA. 

Componentes vieram de grandes marcas de semicondutores como Texas, AMD e Intel. Isso não deveria ser surpreendente para ninguém, o comércio hoje é tão capilarizado e interconectado que um comércio de chips dos EUA pode eventualmente acabar na Rússia. A única maneira de detê-lo é sancionar o mundo inteiro, os EUA adorariam sancionar o mundo inteiro, mas isso é muito grande, até para os EUA. 

Uma vez que desmantelarem  linhas de suporte de chips, isso vai provocar uma guerra econômica com a China, só que machucar muitas empresas dos EUA mesmo. O desmantelamento de componentes para a Rússia envolve um  fluxo de mais de 300 milhões de dólares. Neste caso é uma empresa dos EUA, só que a maioria da manufacturação está na China, por que? Porque você pode produzir coisas mais baratas na China porque gastará menos, produzirá mais, terá qualidade, graças a todo um ecossistema de chips já pronto, energia barata, e toda uma rede de suporte eficiente.

Quando se trata de vendas e entregas, são feitas principalmente da China e de Hong Kong. Daí que chips dos EUA são feitos em uma fábrica chinesa, vendidos por um suprimento chinês e entregues de algum lugar na China. É assim que funciona a linha de suporte moderna atual. Tudo, de carros a a brinquedos. Este é o grande problema para os reguladores norte-americanos. Bom, se eles desmantelam qualquer parte da linha de produção e entrega, isso vai afetar as empresas dos EUA, em si mesmas. 

Agora tentam sancionar os bancos chineses, as chances são de que não conseguirão. Se conseguirem, vão quebrar o sistema financeiro global, baseado no dólar. Ora, isso vai acelerar a desdolarização. Decerto a China quer mesmo estas sanções americanas. 

Então, vejam, este é um xemplo de como é impossível quebrar as redes de suporte global. Anthony Blinken quer desmantelar o comércio chinês com a Rússia, ora, isso também vai desmantelar as empresas dos EUA. Quando Trump voltar, podemos nos preparar para uma ampla guerra comercial. Daí então, eis alguns dos motivos que fazem das eleições de novembro algo tão curioso. com muito cuidado. É como escolher entre uma cama de pedra e o chão duro.

Entre a implosão de comércio de Trump e os controles de preço de Kamala, é difícil saber o que é pior. 



Alberto Bradanini em "Hegemonia" nos diz que “a estratégia iraniana parece ter escolhido a paciência e o longo tempo da história"

 Israel é hoje um país em sérias dificuldades, dividido, em profunda crise, uma economia em sofrimento (são dois rebaixamentos em poucas semanas pela Moody's), centenas de milhares de israelenses deixaram o país (muitos nunca retornarão), e muitos outros o farão à luz dos acontecimentos."

 A reação do Irã aos crimes de Israel manifestou-se com 200 mísseis na noite de terça-feira, 1 de Outubro. Dezenas atingiram alvos israelitas, Teerã deu ao mundo uma demonstração prática de como contornar os sistemas de defesa israelitas e como se pode infligir danos às infra-estruturas militares do regime de Tel Aviv. Foi uma resposta moderada e direcionada, e em conformidade com as leis de guerra internacionais, as regras da retaliação, ao abrigo do direito internacional. O regime israelita ameaça agora atacar o território iraniano, e tenta invadir o Líbano, os riscos de uma crescente escalada na região são enormes.

 Numa “guerra mundial fragmentada”, cada teatro está intimamente interligado e o aquecimento de um polo determina o aumento das tensões nos outros. É por isso que muitas questões se levantam hoje, nos tempos dramáticos que vivemos, algumas respostas estão no “Hegemonia”, obra do ex-embaixador italiano em Teerã, Alberto Bradanini. 

Após o assassinato do líder histórico do Hezbollah, Nasrallah, a possível operação terrestre de Israel no Líbano, e o lançamento de mísseis do Irão na terça-feira, 1 de outubro, como ficaram os cenários na região?

É claro como o dia que a escalada pretendida por Israel através de massacres, agressões, assassinatos seletivos, bombardeamentos aéreos, sem qualquer diferença entre ataques a militares e a civis, é uma acção a anos-luz de distância da civilização ética e legal do século XXI. Israel viola continuamente a Carta das Nações Unidas, e os valores existenciais de cada ser humano. O objetivo de Israel é muito claro, tratar-se provocar uma reação imprudente dos seus inimigos, particularmente do Irão, o que obrigaris os Estados Unidos a intervir diretamente no conflito, que é a grande meta dos sionistas. Segundo esta lógica, a entrada total dos EUA permitiria ao Estado sionista desferir um golpe fatal nos muitos inimigos que tratou de fazer na região e, paralelamente, enquanto a região enta em convulsão, os sionistas procederão silenciosamente a limpeza étnica dos palestinos de Gaza e da Cisjordânia, ao fazerem estes atos diabólicos enchem a grande mídia de manchetes acusando o Hamas, o Hezbollah etc. 

Agora, com o lançamento de ums 200 mísseis iranianos, a estratégia de Israel parece mais prestes a concretizar-se. Os EUA estão divididos, sabem que Israel manda e desmanda em sua política externa e mesmo interna, contudo sabem perfeitamente de que um conflito com o Irão levará ao fechamento do Estreito de Ormuz, significa o bloqueio do trânsito de petróleo, por navio (uns 25 a 30% do petróleo mundial passa por ali. Isso trará pesada inflação e danos aos preços de tudo, nos EUA e no mundo todo. E estamos a poucas semanas das eleições presidenciais. Ocorre que os Estados Unidos são um país sequestrado pelos interesses sionistas, os lobbies pró-Israel dominam as carreiras políticas, as finanças de Wall Street e a grande informação pública. Não duvidem, os EUA serão arrastados para uma guerra ao lado de Israel contra os seus próprios interesses nacionais, contra a sua própria população, apesar de que seus pastores lavam o cérebro americano diariamente com a falácia "judaico-cristã", povo escolhido, a "grande Israel" etc. Os grandes interessados na guerra são as próprias elites americanas, as corporações, os fabricantes de armas, o estado profundo. Nos EUA, uns 3% de judeus, melhor dizer, jázaros, são donos de uns 70% dos bancos e das agências financeiras. 

Mas será possível , será viável um cenário de guerra total entre o Irão e Israel?

Seguindo uma arrogância patológica e expansionista que se pensava relegada à Antiguidade ou à Pré-história, o Estado israelita é hoje um estado criminoso, à margem da comunidade internacional. Tendo descartado a solução de dois Estados (a única solução que poderia pacificar a região), a sua perspectiva imperialista, a sua estratégia devastadora para o povo palestino, ou seja, limpeza étnica e roubo de terras, contra o Hezbollah, contra o Líbano, e também a Síria, também tentarão roubar mais territórios da Síria (da qual Israel ocupa as Colinas de Golã desde 1967), tudo.isso que Israel sonha e exige de Baal, Moloch, do bezerro de ouro etc, está fadado ao fracasso. O recente assassínio do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, além de centenas de civis inocentes, vai mudar a equação, mas de modo diverso ao previsto pelos golems. Nasrallah foi substituído, o seu desaparecimento tornará maior a resistência ao Estado dos Zions. Os Estados Unidos, ditos por boa parte do mundo atual como "o grande Satã", título que, antes de causar repulsa, causa orgulho a tantos lobistas.e neocons, garante a Israel um apoio incondicional. Os EUA não visam mais nenhuma credibilidade ética e política perante os povos do mundo e da história. Não precisa mais insistir na cumplicidade europeia, o próprio EUA tem prejudicado tremendamente a Europa, por exemplo, ao destruir os nord stream 1 e 2. A classe que dirige hoje os destinos dos EUA já pisoteou todo e qualquer resquício de dignidade e altivez, transformou o holocausto, por trás do qual se esconde o proprio sionismo, num fator de justificativa para todo e qualquer mal, se eximindo de toda e qualquer responsabilidade.

  Neste cenário complexo, o Irão, no entanto, não é apanhado de surpresa, ao contrário do que as mentiras diárias dos meios de comunicação dos kázaros fazem crer e entopem a mente do chapéu de alumínio. Mesmo sem a proverbial bola de cristal, acreditamos que Teerão sabe perfeitamente o que está em jogo. Vejam, como potência militar, Israel é claramente superior (2.200 tanques, milhares de veículos armados, 142 helicópteros (dos quais 43 de ataque Apache). ), 30 aviões de combate F35, 83 F15 e 196 F16, cerca de 50 navios de guerra e 5 submarinos com ogivas nucleares, tudo isso acompanhado de tecnologia altamente avançada, resultado de um total de 236 bilhões de dólares recebidos como presente de Washington desde 1945 até hoje.

 Num confronto militar directo, o Irão veria o seu território devastado, juntamente com cidades e infra-estruturas, sem ter em conta uma possível desestabilização política/social no seu interior. Um destino que, compreensivelmente, Teerão precisa evitar.

Como? 

Qual a estratégia iraniana?

A estratégia iraniana parecia ser, como foi desde sempre, a paciência e o longo tempo histórico, de uma longa tradição. O Irã precisará de tempo. Por que? Porque o Irã vai indo muito bem, em termos econômicos e sociais enauanto que Israel é hoje um país em crescentes dificuldades, dividido e em crise profunda, uma economia em sofrimento (dois rebaixamentos em poucas semanas pela Moody's), uns 2 milhões de israelenses deixaram o país (e muitos nunca retornarão) e outros ficarão à luz dos desenvolvimentos. A reputação internacional de Israel está no seu nível mais baixo. Fora do Ocidente, o resto do mundo considera, universalmente, Israel como um Estado terro..., é mesmo isso daí, terro...., sem a necessidade de esperar pela confirmação do Tribunal Penal e do Tribunal Internacional de Justiça, Israel violou sistematicamente o direito internacional, a Carta das Nações Unidas, todos os princípios éticos de coexistência entre povos, o direito humanitário e assim por diante. Por enquanto, consegue escapar impune. Na opinião de Teerão, será somente "por enquanto" mesmo, toda a insensatez de Israel produzirá os seus efeitos ao longo do tempo. Se então os países árabes e muçulmanos, juntamente com outros do Sul Global, encontrarão a fórmula para se unirem, rompendo relações económicas, comerciais, financeiras, culturais com Israel, é um mecanismo que já começou, ainda tímido, é verdade, mas vai crescer, infligirá danos profundos ao golem. Em última análise, até ontem, a postura iraniana de imobilidade face às contínuas agressões israelitas (das quais o atentado à bomba na Embaixada em Damasco, no dia 1 de Abril, é apenas a mais distante, e foi totalmente pelos EUA e pela Europa, aliás , mais ligados nas festas de didi), a postura iraniana é como a nossa própria postura, estaremos sempre demonstrando profunda oposição à postura antiética, contrária aos interesses dos povos, e agiremos, com total eficácia, no momento exato. Foi o que o Irã fez. 

 Quais são as “linhas vermelhas” que Teerã considerará intransponíveis?

 À luz do exposto, Teerão pratica uma postura de equilíbrio de poder e a proteção dos seus interesses estratégicos no que tange à liderança e ao conhecimento de seu povo, mede as ações e as reações, com paciência e sangue frio. O Irã evitou ao máximo cair na armadilha armada por Israel através do assassínio de líderes militares, de cientistas do programa nuclear, do crime contra Haniyeh no dia da tomada de posse do Presidente Masoud Pezeshkian e muito mais. Khamenei, a voz final do regime e da soberania do Irã, assumiu uma posição de força. Ciente da enorme força militar sionista-americana, o Irã agiu pois seria impossível não agir. Israel faz o que quer pois considera os EUA o perfeito cão de guarda para suas crenças. Uma possível leitura é aquela que aponta para um confronto direto entre iranianos/russos/chineses de um lado, e israelenses/americanos/ingleses do outro lado Israel adiantou para nós esta leitura ao atacar uma base russa na Síria, ontem mesmo. Decerto uma vingança pelo próprio contra ataque do Irã, no qual mísseis hipersônicos russos mostraram toda a sua precisão. 

Bom e o Irã? Quais suas forças materiais? Teerã possui algumas baterias antiaéreas e antimísseis (S-400, S-300V4, BuK-M2 de médio alcance e Pantsir-S de curto alcance), juntamente com outras ferramentas de guerra eletrônica, recebem treinamento dos russos. Ninguém na Europa (muito menos em Itália, terra do Vaticano) tentando parar a locomotiva descontrolada de Israel, parece despreocupados. 

Um guerra em terra seria pior para Israel, uma guerra aérea é o pior para o Irã, a menos que receba uma posição mais segura da parte da Rússia e da China. 

Se não sabemos o que é a linha vermelha iraniana, sabemos que é sofisticada.  

O plano de Israel de usar seu cão, os Estados Unidos, é algo óbvio, mas como a China e a Rússia reagiriam?

 A Rússia tem um papel crucial. Há poucos dias, vazou a notícia de que os referidos dispositivos antimísseis russos derrubaram 13 mísseis israelenses que se aproximavam da base russa de Khmeimim e do porto de Tarkus, na Síria. É a primeira vez que isso acontece. Este é um sinal que os israelitas levarão a sério, porque se tais sistemas de defesa fossem utilizados em várias frentes hostis, a dissuasão aérea israelita sofreria um golpe significativo. O contacto directo entre russos e israelitas significa essencialmente contacto directo entre russos e americanos, cujos riscos de escalada seriam acrescentados aos provenientes da frente ucraniana.

 Quanto à China, não possui dispositivos militares na região do Médio Oriente, ao contrário dos EUA, que está presente com inúmeras bases aéreas, navais e terrestres. Em qualquer caso, Pequim não pretenderia envolver-se no terreno, preferindo recorrer à persuasão política e diplomática, bem como às relações económicas. Não é por acaso que os chineses têm favorecido a retomada das relações diplomáticas entre Riade e Teerão, a reentrada da Síria na Liga Árabe (juntamente com a Rússia), uma aproximação gradual de posições no Iémen, bem como um acordo estratégico entre todas as organizações palestinas com vistas à criação de um Estado palestino. Alguns salientam que a China se beneficia do conflito no Oriente Medio, devido a uma menor presença dos EUA nos distantes palcos do Extremo Oriente, na Ucrânia, em Taiwan, Indonésia, Austrália etc. 

Vários analistas afirmam que considerar a Rússia um país hostil foi um grave erro por parte dos Estados Unidos, uma vez que Moscou deveria ser uma aliada natural frente ocidental contra uma hegemonia global chinesa. É uma reflexão meio perturbadora pois nasce da certeza fanática de que a hegemonia norte-americana é algo infiscutovel. Ao contrário, a China promove sempre e em toda a oportunidade que está construindo um mundo interligado, de Paz, universal e abrangente. Os EUA apenas batem no peito e gritam sua invencibilidade, uma atitude bastante diferente. 

Se o próximo presidente dos EUA redefinir as prioridades estratégicas americanas, transferindo o centro do conflito imperial contra o mundo da Europa para a Ásia Oriental, sendo a China considerada o desafiante estratégico do unipolarismo patológico dos EUA, então os riscos da guerra certamente não serão reduzidos. 

Homens sensatos parecem raros no ocidente atual, as oligarquias globalistas estão jogando para o espaço à outrora boa convivência pacífica, a harmonia da diversidade, e outras teorias pregadas pela ONU, pela UNESCO, pelas ONGs etc. Convencer Israel a abandonar sua belicosidade atavica, sua conduta desumana, sua soberba destrutiva não é nenhuma pequena tarefa. A insistência de Israel em se valer de seu vitimismo patológico para justificar os graves malefícios impostos aos povos que lhe dificultam a expansão colonialista ilimitada no Oriente Medio, essa insistência traz o risco de obscurecer a memória do sofrimento causado ao povo judeu nas mãos dos nazis durante a Segunda Guerra Mundial. Nunca será demais lembrar que os sionistas fizeram acordos com os nazistas na 2ª guerra mundial, tem algo muito podre e sinistro nesta história toda. 



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