A ERA DAS INCERTEZAS - GEOPOLÍTICA E GEOECONOMIA

1ª parte

A estrutura do Breve Século XX é uma espécie de sanduíche histórico. A uma era de catástrofe, que se estendeu de 1914 até depois da Segunda Guerra Mundial, seguiram-se cerca de 25 ou 30 anos de extraordinário crescimento econômico e de transformação social, anos que provavelmente mudaram de maneira mais profunda a sociedade humana do que qualquer outro período de brevidade comparável.

Retrospectivamente, podemos ver esse período como uma espécie de era de ouro, e assim ele foi visto depois que acabou, no início da década de 70. A última parte do século foi uma era de decomposição, incerteza e crise - e, com efeito, para grandes áreas do mundo, como a África, a ex-URSS e as partes anteriormente socialistas da Europa, foi de catástrofe. À medida que a década de 80 dava lugar à de 90, o estado de espírito dos que refletiam sobre o passado e o futuro do século era de crescente melancolia fin-de-siècle. Visto do privilegiado ponto de vista da década de 90, o Breve Século XX passou por uma curta era de ouro, entre uma crise e outra, e entrou em um futuro desconhecido e problemático, mas não necessariamente apocalíptico. .

Trecho de Hobsbawn. 

Eric Hobsbawm (1917-2012) foi um historiador britânico, um dos mais importantes intelectuais do século XX. Sua obra explorou temas como a ascensão do capitalismo industrial, o socialismo, o nacionalismo, as revoluções e a formação da cultura moderna.

Nascido em Alexandria, Egito, de pais judeus austríacos e ingleses, foi educado na Alemanha, Inglaterra e Áustria. Filiou-se ao Partido Comunista Britânico em 1936. Durante a Segunda Guerra Mundial, serviu no Exército Britânico. Após a guerra, lecionou história em diversas universidades, incluindo Birkbeck College, na Universidade de Londres, e New School for Social Research, em Nova York. Faleceu em Londres em 2012, aos 95 anos. 

Obras Principais:

A Era das Revoluções (1789-1848): Analisa as revoluções Francesa e Industrial, o surgimento do nacionalismo e a ascensão do socialismo.

A Era do Capital (1848-1875): Explora a expansão do capitalismo industrial, a formação da classe trabalhadora e o desenvolvimento do imperialismo.

A Era dos Impérios (1875-1914): Examina o auge dos impérios europeus, a Primeira Guerra Mundial e a Revolução Russa.

Era dos Extremos: O Breve Século XX (1914-1991): Aborda as duas grandes guerras, a Guerra Fria, o colapso do socialismo e as transformações sociais e culturais do século XX.

Outras Obras Notáveis:

Bandidos: Estudo sobre o banditismo social em diferentes partes do mundo.

A Invenção das Tradições: Explora a construção de tradições como instrumentos de poder e identidade social.

Sobre a História: Reflexões sobre o método histórico, o papel do historiador e a importância da história para a compreensão do presente.

As obras de Hobsbawn foram traduzidas para diversos idiomas, além de sua obra acadêmica, Hobsbawm também foi um comentarista político, escrevendo sobre temas como a Guerra Fria, a queda do socialismo e a globalização.

A sua capacidade de combinar rigor acadêmico com clareza e perspicácia o tornou um dos intelectuais mais influentes de seu tempo.

Vamos analisar um tantinho o período de grande pujança mundial mencionado por Hobsbawn, 25 a 35 anos no pós-2ª guerra mundial. Para se ter uma ideia da pujança desenvolvimentista brasileira no período, coincidente com JK (56-61) e o regime militar (64-85), torne-se o Plano de Metas de Juscelino, por exemplo, foi quando implantou-se a indústria automobilística, as montadoras na região do ABC paulista, tivemos a construção de Brasília, as usinas hidrelétricas de Furnas, Três Marias e Jupiá, a rodovia Rio-Bahia, a ponte Rio-Niterói (1974), o Aeroporto Internacional de Brasília, houve grande impulso à Petrobras, Vale do Rio Doce e à CSN, foram construídas universidades e escolas em várias regiões do Brasil. Já no período militar tivemos a construção da usina hidrelétrica de Itaipu (a maior do mundo na época), Tucuruí, Balbina, Ilha Solteira, a rodovia Transamazônica (BR-230, 4260 km), e outras vias como a BR-101 (Translitorânea, vai do RGN a RS, 4.650 km, passa por 12 estados, ao longo de todo a costa brasileira (Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul) e a BR-040 (Rio-Brasília, 1179 km). A ponte Rio-Niterói, lançada por JK, foi inaugurada em 1974 considerada na época a mais longa do mundo em vigas caixão, as usinas nucleares Angra 1 e 2, a ferrovia do Aço ligando Volta Redonda (RJ) a Cubatão (SP), proojetos de mineração e exploração florestal: Carajás (minério de ferro) e Jari (celulose), os metrô de São Paulo (68), do RJ (79), aeroportos de Guarulhos, do Galeão, e muitas obras de contenção, barragens, hidroviária, portos, embarcações etc. 


2ª parte

GEOPOLÍTICA e GEOECONOMIA

A conexão entre geopolítica e geoeconomia gira em torno do funcionamento dos mercados. Talvez hoje essa interdependência, política e economia, tenha o seu momento mais impactante, desde o final da segunda guerra mundial. A recessão geopolítica de hoje é devida à grande competição, a guerra fria 2.0 entre o Ocidente e a China, ou entre os Estados Unidos e a China. As projeções de crescimento econômico agora não virão da expansão econômica e dos investimentos do G7, o desenvolvimento virá muito mais das sete maiores economias emergentes, dos países emergentes, que estão abaixo dos G7, dos EUA, Reino Unido, França, Japão, Alemanha, Itália e Canada.  Daqui a 10 anos a maior economia do mundo será ou os Estados Unidos ou a China.  

O economista Marcos Troyjo, numa entrevista recente, foi uma das fontes aqui do nosso canal, mencionou uma "Era das Incertezas", a crise atual é resquício daquela que foi a mais grave crise sanitária no mundo, desde a gripe espanhola do século passado, a covid-19,  muitos acham que num futuro não muito distante, conviveremos novamente com pandemias virais ou de bactérias, atravessamos um túnel escuro, mas o fato é que a crise já estava delineada em 2020, um ano de extraordinária retração do PIB Global, quase tão profunda quanto foi a crise de 29 e a série de anos que se seguiram com a Grande Depressão dos Estados Unidos, o que requereu respostas monetárias e fiscais hipertrofiadas. Tivemos no covide um esgarçamento fiscal muito grande nas economias do G20, grandes eh gastos públicos, grande volume de subsídios, grandes processos de transferências de renda, gerando alguns efeitos macroeconômicos interessantes. Muitos recursos que entraram na economia foram direcionados para bolsas de valores e mercados imobiliários. Você teve uma supervalorização artificial desse tipo de ativos, sem mencionar também que na grande expansão monetária, hoje, de cada 6 dólares em circulação, 1 não existia há dois anos atrás, houve um alargamento fiscal e um alargamento monetária. O terceiro elemento dessa crise de ativos vem da geopolítica. Vamos considerar 3 vetores da geopolítica: 

1) o conflito no Oriente Médio, epicentro em Israel e Palestina, com um potencial de se alastrar para além de Palestina e Israel; 

2) a mais grave ameaça ao equilíbrio global,  desde o final da segunda guerra mundial, que é o conflito da OTAN na Ucrânia, quem poderia imaginar que teríamos uma guerra com tanques, exércitos, mísseis etc;

3) o terceiro elemento da atual recessão política é uma grande competição, uma corrida, chamada pelo historiador Neil Ferguson de uma Guerra Fria 2.0, entre o Ocidente e a China, ou melhor, entre os Estados Unidos e a China. Está é uma guerra fria que funciona como uma espécie de força gravitacional que acaba imantando diferentes atores. No subsolo das estruturas visíveis há também umas três ou quatro dinâmicas em movimento, vamos analisar melhor. Vejam, risco também pode significar oportunidade, em especial para o Brasil e paro o mercado brasileiro. A primeira dessas dinâmicas, realmente impactante, é considerar que hoje temos 8 bilhões de pessoas no mundo. Se utilizarmos os dados do PNUD, ou das Nações Unidas, do Banco Mundial etc, projeta-se um aumento populacional para os próximos 25 anos, digamos, para 2050 de 10 bilhões de habitantes, ou seja vamos passar por um acréscimo líquido de 2 bilhões de pessoas num período de 25 anos. Parece muita gente mas veja, a taxa de natalidade está caindo no Brasil está caindo na Europa. Certas populações, de muitos paises estão diminuindo. A imagem é a seguinte,  se você passar pela primeira Avenida em Nova York, em frente ao prédio das Nações Unidas, vai contar 194 bandeirinhas de 194 paises. Pois bem, nos próximos 25 anos vai haver um decréscimo populacional em 185 países. O aumento populacional virá de 9 países, Índia à frente. A Índia superou a China como o país mais populoso do mundo, e Indonésia, Estados Unidos e mais cinco países da África subsaariana, Uganda, Tanzânia, Etiópia, Nigéria e Congo. Aliás, segundo essas estimativas, de cada quatro pessoas no mundo uma será africana. 2 bilhões equivale a 1 China, 1,4 bilhão, 1 EUA, 350 milhões, e 1 Rússia, 150 milhões. Então há um aumento populacional significativo. É uma dinâmica em curso, agora, uma outra dinâmica interessante é a seguinte, as projeções de FMI, Goldman Sachs, Banco Mundial, ONU etc, prevê que o desenvolvimento da economia global será muito menos o resultado da expansão econômica do G7, Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Canadá, e muito mais o resultado da expansão econômica das sete maiores economias emergentes, China, Índia, Brasil, Indonésia, Arábia Saudita, Turquia e México, que serão o fermento, o impulso para as demandas globais. O mundo dito emergente, em desenvolvimento, no qual está a Índia, cuja população cresce 7% ao ano, todo ano, com uma renda per capita de 3.000 dólares, modelo de ascensão dramática, e num curto espaço de tempo, e partindo de um patamar de renda tão baixo, onde mais pessoas comem, mais pessoas consomem, mais energia, maior investimento, mais infraestrutura, é um cenário muito interessante paro o Brasil. É um cenário de acreditar na vida, é um cenário, num mundo competitivo, de se investir na chamada transição para a economia verde. É uma oportunidade. Dois outros fatores da crise é o redesenho das chamadas cadeias globais de produção. Imagine o mundo globalizado, imagine uma bola de vôlei. Foi desenhada, projetada numa planilha na Alemanha, a cor sintética veio da Tailândia, a cola veio da Malásia, a bola é montada na China, a embalagem foi feita nas Filipinas, a bola é transportada até o seu destino, para muitos portos e países, por uma empresa norueguesa ou grega, a contabilidade do negócio está acontecendo na Irlanda, e quem faz a campanha global da bola é uma agência de publicidade e relações públicas do Brasil.

Então, nominalmente, essa bola de vôlei pode ser made in china mas ela é muito mais made in the world, resultado de um processo de globalização profunda. Só que agora é um processo de desglobalização!  As coisas estão se redesenhando. Há uma migração de atividades manufatureiras sediadas por muitos anos na China, para a Índia, um tanto está indo para o México, uma parte disso daí pode vir paro Brasil. Essa dinâmica está no contexto de uma quarta Revolução Industrial, as noções tradicionais deverão se reciclar para a IA. É um mundo onde médicos entendem de métodos quantitativos, engenheiros entendem de poesia, e poetas são capazes de ler e entender os contratos das empresas do agronegócio. Empresas sao satélites de outras empresas, usam tecnologias preditivas. Os países de combustível fóssil se tornarão locais de enorme turismo e entretenimento, pois estarão no ápice desse modelo. A inovação requer talento, este mundo que a gente está vivendo tem muito agora de geopolítica e de geoeconomia, as coisas ficaram pequenas, as cartas estão sendo distribuídas, o Brasil precisa de uma carta boa, de uma mão boa, nesse pós-covide, nessa desglobalização, nesta recessão geopolítica e geoeconômica. Na luz no fim do túnel o saldo pode ser positivo para o Brasil. O país está numa transição, teve um primeiro trimestre difícil, não há fluxo de capital, polarização política, o mercado financeiro está sugando as economias, são muitos pontos negativos também. Estamos numa velocidade lenta e sem fluxo de investimentos pro Brasil, ainda assim as possibilidades positivas são muito fortes.

O jogo, a partida entre características positivas e características negativas vai ser vencida pelo Brasil, espera-se que não precisemos ir para prorrogação. Sobre os países emergentes, a tendência dos BRICS é de crescimento, além dos membros tradicionais, entraram Egito, Emirados Árabes, Arábia Saudita, Irã e Etiópia, um grupo bastante heterogêneo, 10 países bastante diferentes. Para onde aponta a previsão da IA hoje? Não é nada desprezível prever com IA, aponta para um BRICS avançando para uma fatia cada vez maior do PIB mundial. Isso significa maiores ativos para Rússia, China, Brasil e Índia, significa uma ampliação de seus consumos internos, uma melhoria de suas infraestruturas e por aí vai. 

 Neste momento a China é uma economia de 19 trilhões de dólares, responsável por 1/3 da produção, da demanda Global, se calcularmos o PIB pela "paridade do poder de compra" a China já é a primeira economia do mundo; depois, a Índia, o crescimento indiano é muito impressionante, uma economia de quatro trilhões de dólares em franca ascensão; mas é até menos impressionante do que a Rússia, uma economia cada mais completamente independente. O Brasil ainda é o patinho feio desta turma. Contudo, os BRICS tem potencial para fazer o Brasil mais consciente de seu próprio potencial, os BRICS avançam mais fo que o G7 e outros agrupamentos do gênero. Os BRICS tem um portfólio de projetos, neste momento, de 33 Bilhões de dólares já aprovados para para desenvolvimento sustentável, infraestrutura, e a partir da Cúpula da África do Sul do ano passado, quando Vladimir Putin não compareceu, houve uma expansão dos BRICS. Os critérios dos BRICS são tanto geográficos quanto geopolíticos. Um exemplo, a Argentina foi convidada e recusou participação, em função da agenda de seu presidente Javier Millei. A Etiópia é um país sujeito a conflitos com o Egito, o Irã que é um país pesadamente sancionado, a Arábia Saudita e os Emirados Árabes tem também vínculos com os EUA. Nem é preciso dizer que a Rússia é o país mais sancionado do mundo, e a China vive uma Guerra-Fria 2.0 imposta pelos EUA. Então a importância geopolítica dos BRICS é imensa. 




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