A ELITE BRASILEIRA

 Ricardo de Costa Oliveira - 

Há mais de 30 anos a relação entre famílias e poder no Brasil é estudada pela sociologia,  sociologia entendida como a ciência que estuda os seres humanos enquanto seres sociais, suas e divisões e classificações.

A genealogia é a o resultado da investigação da história das famílias. Geralmente sabemos bem quem são nossos pais e mães, em geral avós, pois bem, mas não vai muito além disso, veja, são quatro avós, oito bisavós, 16 trisavós e por aí vai ficando mais e mais complexo e numeroso. 

 Uma boa pesquisa genealógica consegue recuar para mais de 10, até 20 gerações no passado, isso requer informações, documentações, e agora também com a genealogia genética e sociologia genealógica pode explicar melhor a sociedade, o passado, a história, o poder e também lançar uma luz sobre as bases das desigualdades sociais, isso pela dinâmica das famílias no poder, na economia, nos negócios do estado, das empresas, da política, das instituições etc. Um família que está envolvida historicamente ao poder não apenas pode rastrear a mais de 20 gerações como possui imagens, pinturas, retratos, gravuras, e até mesmo a história da família anotada e narrada por diferentes historiadores, remontando até a idade média. No Brasil os Orleans e Bragança, a família imperial e real portuguesa tem relações com as principais famílias monárquicas européias e orientais. O atual rei Charles, que sucedeu sua mãe, a rainha Elisabeth II, do Reino Unido, veja, sua genealogia é toda documentada há mais de 1000 anos, com riquezas históricas incomensuráveis. Compare este poder imenso com uma pessoa de origens populares, a qual muitas vezes sequer conheceu seus bisavós, e se vc for às classes mais desfavorecidas, as classes trabalhadora no Brasil, que foi uma grande sociedade escravagista é ainda mais complicado. Veja, na conceituação de uma classe social entra etnicidade, cor, o capital social etc. Uma família de classe média alta no Brasil, e mesmo classe média média, e mesmo classe média baixa costuma ter fotografias dos seus antepassados dentro do século XX, ou, se não tem imagens, tem algumas informações orais, claro que isso depende de muitas outras considerações, antigamente vc tinha o lambe-lambe, o fotógrafo de praça, de praça pública, uma foto mais antiga da família, geralmente na família tem sempre alguém que guarda essas relíquias. A história social ou genealogia fotográfica de uma família comum está relacionado a casamentos, batizados, nascimento etc, mas esse legado depende muitíssimo tem da condição econômica, da classe social daquela família. A tendência geral no Brasil é que as classes populares perdem a sua memória genealógica muito rapidamente porque há uma grande mobilidade, migrações, deslocamentos, isso para não citar, inundações, incêndios, perdas, mudanças, de modo que a memória das famílias dependem muito da segurança, da estabilidade profissional, do capital social, do status, da posição e influência na sociedade, daí que quanto mais rica ou tradicional for a família mais e melhor documentada será sua genealogia convencional.  A conclusão possível nesta questão é a de que o pobre não tem condições de conhecer sua própria história, e se vc não conhece as suas origens isso se reflete na maneira como vc se relaciona na sociedade. Veja o caso de muitos afrodescendentes, vastas populações sequer sabem de que lugares na África foram tiradas a trazidas à força para o Brasil. Seus nomes, sobrenomes, origens, não sobrou nada, ficou tudo perdido ou rompido.  

Já quem tem uma origem europeia mesmo da imigração recente italiana, alemã, polonesa etc, tem até mesmo documentos de entrada no Brasil. Agora se é da classe dominante, tradicional, brasileira, está nos poderes políticos, econômicos, culturais, sociais etc, isso vem desde o período colonial, muitas vezes suas genealogias estão muito bem escritas, descritas, documentadas em grandes coleções. No Paraná temos a genealogia paranaense, seis volumes, o qual inclui também uma parte da genealogia de São Paulo, uma vez que a genealogia paranaense é mais antiga do que a genealogia paulistana. Temos livros em cartórios, bibliotecas e arquivos na Bahia, Pernambuco etc, hoje em dia temos temos sites especializados. 

Agora vamos entender melhor o que implica você ter uma genealogia, ter ascendentes. A existência de uma genealogia depende muito da classe social, da origem étnica, do status da pessoa, da influência de sua familia. Quanto mais excluído e pobre for o indivíduo menos raízes ele terá, o pobre, em geral, não tem memória familiar. Já o rico tem família  documentada, muito mais bem documentada do que a classe media. A inclusão de itens de luxo é bastante comum quando se trata da elite, isso inclui retratos realistas pintados por pintores importantes, registro escrito da família feito por redatores profissionais, fotos antigas, ao longo de escadas esplêndidas nas fazendas e casas grandes. Grandes quadros do Brasil colônia mostram figuras pomposas à frente de suas fazendas ao fundo. A grande maioria dos ricos e super ricos do Brasil herdou suas terras, industrias, bens, dinheiro, jóias, propriedades etc. O self made man é uma exceção, não chega a 10%. A riqueza no Brasil é herdada, é um fenômeno hereditário, os nomes importantes continuam presentes nas ruas, avenidas, praças logradouros, rodovias, túneis etc, o passado continua vivo no presente, o capital foi sendo mantido ao longo de séculos. Por exemplo, IPTU imposto predial territorial urbano, muitas vezes tem o nome de uma gleba, parte de um lote muito maior, parte por sua vez de uma grande propriedade que foi sendo subdividida, por sua vez foi parte de uma capitania hereditárias, o nome já diz tudo. Em Curitiba, segundo Ricardo Oliveira, famílias da classe dominante tradicional, bem como imigrantes que enriqueceram tornaram-se donos de bairros inteiros, seis nomes estão nas ruas desses bairros, as famílias legam propriedades, o sobrenome, dinheiro, obras de arte, joias que estão na família há mais de 200, mais de 300 ano, armas como espadas, sabres, lanças etc, é muito comum porque uma parte da elite sempre se destinou à classe militar. 

Em Curitiba, para dar um exemplo, tinha um político muito conhecido, já firmemente estabelecido há várias gerações, ele estava lançando um sobrinho na política, para deputado. A conversa de dava junto a outros parlamentares, jornalistas, assessores, empresários etc. E daí um jornalista disse que se fosse no Nordeste seria chamado de coronelismo mas aqui no Paraná é chamado de tradição, conservadorismo etc, e todo mundo riu e esse jornalista acabou trabalhando como assessor de imprensa para o tal sobrinho. O núcleo duro, familiar e hereditário, é quem manda no jogo e dá as cartas, está sempre nas melhores posições e cargos,  na mesa diretora. Por exemplo, um deputado muito atuante, o deputado Alexandre Maranhão Curi, neto do poderoso e já falecido deputado Aníbal Curi, este era uma figura emblemática, o apelido dele era "vice-rei do Paraná" tamanho seu poder e projeção, capaz de criar instituições estatais e indicar seus diretores, a partir de sua própria familia. 

Maria Vitória, filha do deputado Ricardo Barros e da ex-governadora, a deputada Sida borguet, é uma jovem de grande atuação, sua bancada vai mais à direita, mas também à esquerda temos muitos deputados de famílias de políticos como o deputado Requião, linhagem política com mais de cinco gerações.

Nas assembleia legislativa do de todos os estados brasileiros existem núcleos duros,  familiares e hereditários, o nepotismo é a regra, não é a exceção. Estamos sob um fenômeno  que abarca muitas e muitas gerações de políticos, uma vez que é um negócio herdado, de família. Rafael Greca de Macedo, por exemplo, veio da poderosa família Macedo. Esse fenômeno de nichos familiares dominando instituições é exatamente igual no Judiciário, nos Tribunais de Contas, cartórios e por aí vai.  A família Camargo é muito importante no Tribunal de Contas do Parana. Por aí temos famílias que já estavam no poder desde o século XVII. Os Guimarães, família do poderoso Visconde de Nacar, chefe político de Paranaguá, grande liderança escravagista. Algumas dessas famílias tem projeção nacional como Rocha Loures,  o pai foi presidente da Federação das Indústrias. A grande propriedade urbana e rural pertencem a famílias e clãs tradicionais. Quem é no novo na política depende muito de um apoio significativo de quem ja está naquele meio privilegiado, por exemplo, o governador Ratinho Júnior, ele entra na política porque o pai dele era um grande empresário, um dos homens mais ricos do Paraná, com muita mídia, programa de televisão etc, é um nome que opera como uma família, logo é uma nova família que desponta num ramo hegemônico. Mas seguirá a mesma dinâmica, a mesma lógica de família política que estão aqui desde o período colonial.

Podemos pensar, quando se fala da genealogia da elite brasileira, sobre a política do pai passando votos para o filho, para o neto, Tancredo, Covas, ACM neto etc. Bom, a questão da competência não é só parentesco, veja, há funções no aparato estatal que exigem concurso público, isso é mais comum no judiciário. É comum entre juízes a expressão, "tradição jurídica da família", como se o famoso "notório saber" exigido pelo STF fosse uma coisa consanguínea. Acontece nos tribunais estaduais, federais, Ministério Público, várias outras áreas da administração pública. O concurso pode ser pensado como uma forma de escolher os melhores, independentemente de nepotismo, consanguinidade etc, questão é que a família naquele segmento tem uma relação visceral, sociológica, profissional, um know how natural com aquele cargo, função e poder, todas as instituições brasileiras são profundamente atravessadas por redes de interesses familiares e formas de nepotismo,  na magistratura superior; STJ, STF, em Brasília, são todos compostos por ministros que vêm, quase sempre, de famílias político-jurídicas, com raras exceções. As cortes superiores tem a mesma lógica familiar na maioria dos tribunais de justiça em todos os Estados. Há quem diga que o Ministério Público é quase um partido político de umas poucas familias. Veja, por exemplo, a lava-jato, quase todos operadores da lava-jato eram integrantes de famílias político-jurídicas do Ministério Público, o juiz moro é casado com uma deputada federal, que é prima distante do prefeito Rafael Greca de Macedo e também do Beto Richa, na grande genealogia dos Macedo.  Boa parte de desembargadores da região Sul do Brasil tem sobrenome Macedo nos tribunais de justiça, ou desembargadores com sobrenome sobrenome Camargo no Ministério Público, também no Ministério Público Federal é a mesma lógica. O Dallagnol, por exemplo, o pai dele tem relação com famílias poderosas do agronegócio no Mato Grosso. Boa parte da tradição rural brasileira está ligada ao núcleo histórico da classe dominante do agronegócio desde o período colonial. As entidades de classe, na Sociedade Rural, quem está à frente é um Janene, primo do falecido deputado José Janene. A Confederação Nacional da agricultura agrega produtores de várias gerações no agronegócio,  grandes proprietários. Observado a genealogia rural vc detecta que, no geral, reproduz com isso a gente só observa a estrutura um mesmo modelo de plantation, de grande plantação monocultora, de exportação. As velhas famílias estabelecidas no poder desejam casar seus filhos e filhas com outras velhas famílias bem estabelecidas. Uma consequência disso é uma certa estagnação empresarial no Brasil pois mesmo os novos ricos desejam se casar com a velha aristocracia rural e política brasileira, mantendo o caráter de classe dominante tradicional. Isso está muito presente em toda a estrutura do agronegócio, da grande pecuária, da grande propriedade no Brasil. Políticos bem sucedidos quase sempre se tornam grandes proprietários rurais. O  Fernando Henrique Cardoso, que veio de família militar, foi professor universitário de Sociologia, depois entrou na política, enriqueceu e veio a se tornar um grande proprietário rural. A bancada da boiada em Brasília, a bancada do boi, por exemplo, o deputado Pedro Lupion vem de uma família que enriqueceu na década de 1930 e 40, Moisés Lupion foi governador do Paraná, homem dinâmico e empreendedor, amealhou imensa fortuna, obteve enormes latifúndios, e casou-se com Hermínia Rolim também da genealogia paranaense. Aqui vemos o imigrante europeu que na segunda geração se casa com mulheres brasileiras de longas genealogias no poder, desde o império, desde o período colonial, isso vale para o agronegócio, pecuária, indústria, empresas de serviços etc. Toda grande cidade brasileira tem uma grande concentração de propriedades urbanas, muitas vezes terras e terrenos que estão há várias gerações com poucas famílias. Até mesmo São Paulo, maior município do Brasil tem essa concentração de terras, lotes, às vezes quarteirões inteiros.  

No Brasil, 80% dos senadores e deputados federais são membros de famílias políticas, algumas há mais de 200 anos no poder. No Sul é até mais tradicional do que no Nordeste, mas é a mesmíssima lógica. O Nordeste obedece ao mesmo fenômeno de oligarquias familiares. Agora, o empresariado, ele apresenta a mesma lógica de concentração de poder familiar, nas Forças Armadas é a mesma dinâmica. Todos os ministros generais do governo bolsonaro eram de famílias político-militares há várias gerações nas Forças Armadas, é uma elite familiar, agora praças, soldados, cabos, ou, no máximo sargentos, quase sempre vem de classes sociais mais humildes. É raro um negro alcançar o generalato ou o STF, de tomarmos alguns segmentos como as artes, a cultura ou a academia daí já existe um processo de renovação, mas, muito gente não sabe mas metade da população brasileira ganha até um salário mínimo. 70% da população brasileira vivem com até dois salários mínimos, e 1% ganha mais 25 mil ao mês,  0,1% ganha mais de 100.000 por mês, e 0,01% que são uns 20.000 brasileiros ganha acima de 2 milhões por mês. Agora, quem está no no topo do sistema econômico e social dos bilionários brasileiros são quase todos herdeiros de famílias político-empresariais, todas elas ligadas ao capital financeiro industrial,  atividades empresariais nacionais e internacionais, lembrando que a família empresarial precisa necessariamente ter fortes conexões com o poder estatal. Isso ocorre em todos os grandes e médios bancos. veja o Paulo Guedes, ele veio do mercado financeiro, de um banco pequeno, ao final de seu ministério era dono do maior banco de financiamento do país. O Roberto Campos Neto, presidente do banco central é neto de um dos principais ministros da época do regime militar, aliás, cuja genealogia remonta ao período colonial. Uma leve mudança nos juros significam bilhões a mais ou a menos para determinados segmentos. A concentração de renda extravagante do Brasil não é simplesmente um problema político, é um problema empresarial, há problemas estruturais de saúde, de educação, de moradia, de transporte público etc. Veja um outro exemplo, a família Jacob Barata, um sefardita que começou como motorista de ônibus, socio-fundador do Grupo Guanabara, hoje sua família domina o transporte de ônibus, tem seis mil ônibus e 20 mil funcionários.  

O poder não é simplesmente algo que devo tem por herança ou sobrenome, o poder também se perpetua por seus filhos poderem frequentar as melhores escolas, terem muito melhores condições para só estudarem, escolherem as profissões tradicionais de família, aprenderem com seus pais, tios e parentes, por exemplo, nao só no segmento da advocacia, dos grandes escritórios jurídicos e tribunais do país, tome por exemplo a Medicina, se analisar a sociedade no topo da profissão em todos estados descobrirá a constância de certos sobrenomes, o mesmo de da na engenharia, na odontologia, um sobrenome abre portas, atrai vantagens inúmeras, e não é simplesmente que filho de peixe, peixinho é, ou que o filho do rico estudou mais, se esforçou muito mais, já nasceu mais inteligente etc, veja, um jovem rico, filho de um grande empresário ou o filho de um senador da República vai à melhor escola de seu estado de Porsche, blindado, tem tudo, não precisa de estudar pendurado no metrô ou no trem, pode comprar qualquer livro que desejar, ou seu pai já o tem em grandes coleções na farta biblioteca particular, ou seu tio é o sócio proprietário do cursinho, ou da escola da elite e por aí vai. Machado de Assis descreveu magistralmente essa situação social do Brasil, no seu Brás Cubas mostrou a trajetória de um filho da elite brasileira, em uma passagem, ele obteve um título em Coimbra, então jamais precisou pegar uma fila, respeitar uma competência, ser humilde etc. O conceito de meritocracia tem de ser analisado no contexto brasileiro cum grano sallis, o quem indica no Brasil quase SEMPRE considera relações familiares, sobrenome, relações sociais fortuitas, vantagens etc. Não é raro que alguém de origem modesta mas extremamente esforçado seja preterido ou não obtenha os primeiros lugares nos grandes concursos e mais difíceis concursos públicos.  Para o filho da elite é quase inconcebível que ele não esteja entre os primeiros lugares pois toda sua formação foi, sempre tem um elemento assim nas grandes famílias, uma preparação para estar entre os primeiros. E também existem os pródigos e os perdulários nas famílias ricas, o playboy. Então, não vamos ser ingênuos, há toda uma grande corrupção,  protegida e amparada pela elite, pela grande mídia, pelas exclusivas famílias hereditária no Brasil. As grandes empresas familiares possuem estações de radio, tv, portais de internet, jornais locais e sempre protegerão os membros de famílias dominantes, houve mais de um caso de jovens ricaços atropelando e até mesmo matando sob excesso de álcool e de velocidade e sem jamais sofrerem punição. 

A  meritocracia não existe se a sociedade é exageradamente desigual. Quem passa em concurso público estudou nas escolas de elite, tem tempo para estudar, tem condições para se dedicar e tem muito apoio psicológico, financeiro, moral, intelectual etc. 




Se vc for a uma escola pública e observar algumas poucas aulas verá o abismo que há entre as escolas da elite e as escolas públicas. Ha muitas carências, não há biblioteca, alunos tomam dois ônibus para ir e dois para voltar.  Professores estão desmotivados, às vezes entram em greve, ganham menos do que no ensino particular e por aí vai, a grosso modo, a meritocracia é mais como uma fábula elegante, bonita, ideal, que é usada, por exemplo, numa exceção, num caso excepcional, como se existisse alguma mínima igualdade de oportunidades. Não existe igualdade de oportunidades, vivemos numa sociedade de classes. Veja, o Brasil veio de uma grande sociedade escravista, é uma sociedade com índices de concentração de renda altíssimos, entre os maiores do mundo, tem todas as suas instituições controladas por poucas famílias, seja no meio empresarial, estatal, judicial, militar, religioso, cartorial, diplomático, científico etc. O Itamaraty, por exemplo, é um segmento completamente dominado por tradições familiares, quase sem exceções algumas. A mídia, rádio, televisão,  boa parte dos principais apresentadores de renome no Brasil vem de famílias midiáticas ou que tiveram relações de poder. E hoje temos o fenômeno de youtubers e playboys de twitter, que ganharam colunas e likes, às vezes ganharam milhares de seguidores, de repente, e isso para defenderem interesses de classe, reservas de mercado exclusivas, venderem certos produtos etc. Então chegamos ao ponto em que a privatização vai resolver todos os problemas do Brasil, mas é bom ser realista, o serviço que já era precário pode piorar ou mesmo desaparecer, é o mais provável. A minoria com alta lucratividade raramente se envolve com políticas públicas e sociais. É uma fase complicada. 

Bom, para estudar genealogias, existe a hemeroteca digital da Biblioteca Nacional o pesquisador, o jovem interessado pode pesquisar nome, sobrenomes, temas de sucessão familiar no site da Biblioteca Nacional, existem sites de busca de ancestrais na internet. Vamos mencionar as festas da elite, e aí são casamentos grandes, festas, às vezes em ambientes vigiados como clubes sociais da elite, háras, jóqueis, fazendas etc. Quem casou com quem é um dos temas acompanhados pelo genealogista, e quem está no topo da pirâmide social,  política e empresarial faz de uma festa uma questão de prestígio, os gastos atingem somas extravagantes, na casa das dezenas de milhões, isso acentuou o fosso do mundo dos pouco ricos com o outro mundo, dos muito pobres. O tema da genealogia é um tema de muito interesse para a sociologia das famílias,  acompanhar a movimentação das famílias do poder dentro do estado brasileiro, ao longo de décadas e séculos permite algumas conclusões no que tange a estreiteza de relações entre o alto empresariado e os altos cargos políticos.  Um exemplo entre muitos outros, citado por Roberto Oliveira, é a família Barros, uma das principais famílias do Maringá, prefeitos, vereadores, deputados, já tiveram prefeito, Silvio Barros veio de uma rica família de Minas Gerais, a qual por sua vez, veio de genealogia de Pernambuco, do século 16, das capitanias hereditárias. Tem muito base documental da Igreja Católica, encontrou-se riquezas culturais incríveis, por exemplo, nas igrejas lá da época do ouro, em Minas Gerais, no século XVIII. Antigamente, para chegar a arcebispo, bispo, cargos eclesiásticos altos, era também uma ascensão teológica muito limitada, uma peneira social difícil, também há a coisa das famílias poderosas por trás. Hoje, muitas igrejas evangélicas são dominantes em muitas cidades, igrejas pentecostais tem elos com políticos, por vezes, pastores ambiciosos lançam candidatura, não é incomum que alguns sejam até cassados por corrupção ativa. Essa questão da igreja e do poder da igreja está muito presente nos casamentos da elite.

 Mas quais os sobrenomes mais longevos no poder no Brasil? Sobrenomes tradicionais fazem parte de todos os nichos institucionais importantes, nas FFAAS, nos tribunais, na Justiça, no Poder Executivo, Legislativo, nos grandes escritórios de advocacia, no sistema bancário etc. No campeonato da longevidade e da manutenção do poder, cada estado brasileiro tem o seu conjunto de famílias poderosas, desde o período colonial, como as já citadas, Macedo, Camargo,  Guimarães, os Rocha Loures, a família Ribas, famílias que estão há mais de 300 anos nos principais cargos políticas no sul do Brasil, governadores, senadores, desembargadores, presidentes da associação comercial, da Federação das Indústrias, famílias de Generais. Pernambuco, por exemplo, na última eleição para prefeito de Recife, os dois candidatos eram da família Arraes. Os Campos são da aristocracia pernambucana, mas tem de Pernambuco Albuquerque Maranhão, os Curi da imigração libanesa, os Cavalcante. Mas tem famílias poderosas em todos os estados, famílias dominam os tribunais de contas, o STF, o TJ. Na Bahia, famílias poderosas vieram do próprio Caramuru, portanto é um caso de herdeiros de um português e suas várias esposas indígenas. Os Doria, em São Paulo, vem de uma família de senhores de engenho, escravocratas. O pai de João Dória lançou o dia dos namorados. Famílias de poder estão em MG, RGS, SC, Bornhausen, Oliveira Ramos, casamentos importantes entre famílias do poder criam novas famílias. O núcleo duro das mais importantes famílias tem genealogia pelo menos desde o império e mesmo desde o período colonial, estão no poder há séculos, dominam as principais instituições de cada região. Seus nomes estão nas principais avenidas, ruas, praças, em cada cidade, cada município no Brasil. É possível se falar que a elite brasileira gira em torno de 1000 famílias. Estão em Brasília, exercem grandes loobies empresariais. Os grandes loobies empresariais exercem influência no governo. É bobagem apontar a meritocracia e a exceção como regra. Para alguém ser muito rico tem que estar com o estado, com o governo, alguém se torna bilionário porque teve presença no estado, teve crédito, finanças, participou de grandes licitações, concessões, permissões, ou então se casou com gente da alta lista. Bilionários dos grandes como os Setubal, vêm crescendo desde o período colonial, a família Moreira Sales tem um poder nacional, no Brasil todo. As famílias de banqueiros estão entre as mais poderosas, quem chega ao poder deve ser apoiado de um modo ou de outro por estas poucas famílias. Covas tem ligações com SP, Rio de Janeiro Paraíba e Rio Grande do Norte. A família Maia, a família do César Maia esta em Brasília, em vários tribunais, tem vários senadores, está na Paraíba, no Rio Grande do Norte e por aí vai. A lógica familiar da classe dominante brasileira e que quem enriquece o suficiente pode ser recebido nas mansões dessas velhas famílias e, com sorte, pode se dar bem. 

Falar da família Bolsonaro. Aparentemente é um fenômeno novo ou foi vendido como novo, o sobrenome é novo, o conceito é o mesmo, os filhos ocupam diferentes bases eleitorais. Mas a pergunta é, qual a chance dessa família se tornar também uma dinastia familiar com um poder permanente, a exemplo de outras famílias? Famílias poderosas precisam fazer alianças, inclusive por casamento, com outras famílias, correndo o risco inclusive de irem desaparecendo do cenário político se não tiverem alianças. É claro que já criaram patrimônios para várias gerações, e ficarão  bem posicionados mas se vão continuar na política, nos grandes cargos, vai depender da dinâmica de relações e alianças, relações familiares e alianças políticas. Algumas famílias subirão, e outras descerão, a cada geração sobem ascendentes e algumas também descem. Um elemento central na tradição brasileira são casamentos com mulheres de famílias mais antigas e tradicionais, com nichos de poder bem estabelecidos. O chamado núcleo duro da família tem de ser mantido pelos herdeiros principais. O núcleo duro dos fundadores de Curitiba continua até hoje, estão sempre nas melhores posições e cargos.

Os grandes escritórios de advocacia nos estados só pegam casos acima de 10 milhões, se for caso pequeno vai para um outro escritório jurídico, de classe média, detalhe, por trás dos grandes escritórios, por trás da OAB, prevalecem uns muito poucos sobrenomes. Na Justiça, ao longo de várias gerações, os desembargadores possuem uma grande astúcia, uma larga competente influência, sobretudo podem agir e reproduzir os interesses de classe, e é um poder familiar, mas são muito mais discretos, não fazem casamentos para a grande society, trabalham nos bastidores do poder constituindo um dos braços do deep state brasileiro sempre mantendo o status quo, o poder da alta elite. Existe casamento arranjado na alta elite, das poucas famílias? A alta elite não se refere a casamento de seus jovens filhos e filhas como um arranjo mas como uma aliança, o casamento romântico, da vida sentimental, sexual etc, está dissociado do sentido real do casamento, conforme a cultura da alta elite, cultura herdada das monarquias européias, o importante é produzir herdeiros, fazer alianças, já existiu no Brasil, em famílias do poder político, antes da criança nascer, o acordo entre as famílias sobre a candidatura da criança, que ainda não nasceu, para um cargo na cidade x, y ou z, dominado há várias gerações etc. Então, vc tem aí seus 18, 19 anos, e sabe das heranças, legados, responsabilidades de seus pais, avós, bisavós etc, já está sendo educado para se destacar, a chance de vc se eleger não é alta, é altíssima, não foi um simples desejo de seus pais, é um.pouco mais do que isso, é uma previsão. 

Nos, brasileiros, somos dominados social política economicamente pela mesma uma meia dúzia de famílias e jamais saberemos como funciona nos bastidores pois não é o nosso mundo do cotidiano. No passado casavam tios e sobrinhas, primos e primas, e por aí vai, primo com prima ainda é possível hoje mas é uma prática perigosa pois gera problemas genéticos, biológicos, certas doenças como se sabe. Casamentos feitos sempre dentro da mesma etnia ou "raça" geram certas doenças congênitas como diabetes, males cardíacos, nervosos etc. 

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