ANÁLISE DAS CRISES MILITARES EM CURSO

  Análise das Seis Crises Militares Potenciais nas Próximas Duas Décadas


O cenário global contemporâneo caracteriza-se por crescente volatilidade e complexidade, impulsionadas pela desglobalização, crises demográficas, econômicas e sociais que convergem simultaneamente. Essas dinâmicas, segundo o autor do vídeo, potencializam conflitos armados em diversas regiões do mundo. Com base em tendências geopolíticas atuais, o autor identifica seis crises militares prováveis nas próximas duas décadas, destacando que tais previsões não são determinísticas, mas projeções fundamentadas em padrões observáveis. Essas crises podem se intensificar, derivar em conflitos secundários ou escalar em violência, dependendo das ações de lideranças globais. A seguir, apresenta-se uma análise rigorosa de cada previsão, avaliando sua plausibilidade e implicações.


#### 1. Instabilidade no Paquistão e Espalhamento Regional

A primeira crise potencial ocorre no Paquistão, com risco de desestabilização que pode se propagar para o Afeganistão e, possivelmente, a Índia. O governo paquistanês enfrenta fragilidades estruturais desde, pelo menos, 2009, mantendo-se funcional por meio de apoio externo de potências como China, Estados Unidos e, paradoxalmente, Índia. A China considera o Paquistão um aliado estratégico fundamental, especialmente no contexto da Iniciativa Cinturão e Rota e como contrapeso à influência indiana. Contudo, a ascensão do Talibã paquistanês, vinculado ao Talibã afegão, representa uma ameaça significativa. Embora esse grupo não tenha capacidade para assumir o controle do país, pode desencadear um conflito prolongado, desgastando ainda mais a já fragilizada governança paquistanesa.


A situação é agravada pela possibilidade de ataques transfronteiriços do Talibã afegão e pelo abandono de equipamentos militares da OTAN no Afeganistão, que podem fortalecer grupos insurgentes. Um colapso no Paquistão geraria fluxos massivos de refugiados, impactando especialmente a Índia, onde tensões religiosas já estão exacerbadas. Essa onda migratória poderia desestabilizar o norte indiano, criando um arco de instabilidade do oeste (fronteira com o Paquistão) ao leste (próximo a Bangladesh). A posse de arsenais nucleares por ambos os países eleva o risco de consequências catastróficas. Adicionalmente, a instabilidade em Myanmar, agravada por conflitos étnicos e desastres naturais, pode amplificar os problemas regionais, afetando o sudeste asiático.


**Plausibilidade:** Alta, devido à fragilidade estrutural do Paquistão, à influência de grupos insurgentes e à complexidade geopolítica regional. A cooperação entre China, Índia e Estados Unidos para evitar o colapso sugere que medidas preventivas podem mitigar, mas não eliminar, o risco.


#### 2. Conflito no Cáucaso: Azerbaijão contra Armênia

A segunda previsão aponta para uma escalada no Cáucaso, com o Azerbaijão, apoiado pela Turquia, intensificando ações contra a Armênia. O conflito em torno de Nagorno-Karabakh permanece um ponto de tensão, agravado pelo abandono da Armênia por aliados tradicionais, como a Rússia, que busca evitar atritos com a Turquia. A Armênia, isolada, encontrou na França um parceiro limitado, cuja influência é insuficiente para contrabalançar a pressão azeri-turca. A projeção sugere que o Azerbaijão pode tentar anexar territórios armênios ocidentais, reduzindo significativamente o território armênio.


Um cenário pós-Guerra da Ucrânia poderia, surpreendentemente, levar a uma cooperação entre França e Rússia para conter a influência turca, que tem gerado descontentamento global devido à sua assertividade no Mediterrâneo Oriental e proximidade com o Canal de Suez. Essa cooperação, embora improvável no contexto atual, reflete a fluidez das alianças geopolíticas, um padrão histórico observado em séculos anteriores. A Turquia, apesar de sua posição estratégica, enfrenta crescente pressão internacional, o que pode culminar em reveses nas próximas duas décadas.


**Plausibilidade:** Moderada a alta, considerando a histórica rivalidade no Cáucaso e a influência turca sobre o Azerbaijão. A possibilidade de cooperação franco-russa depende de mudanças significativas no cenário pós-Ucrânia, o que adiciona incerteza.


#### 3. Crise na Fronteira México-Estados Unidos

A terceira crise envolve o México e o sul dos Estados Unidos, onde a escalada da violência dos cartéis mexicanos ameaça a segurança regional. Áreas do México operam fora do controle estatal, com grupos criminosos melhor equipados que as forças de segurança. A incapacidade de conter o tráfico de drogas, especialmente fentanil, intensifica a criminalidade nos Estados Unidos, onde a demanda por entorpecentes permanece elevada. O autor argumenta que a raiz do problema reside em fatores culturais internos aos Estados Unidos, que glorificam o crime e o consumo de drogas, exacerbados por políticas culturais das últimas décadas.


Sem ações efetivas para reduzir a demanda, a violência dos cartéis pode se expandir para o território americano, com atentados, tiroteios e execuções públicas. As opções dos Estados Unidos incluem intervenções militares no México, que enfrentariam resistência internacional, ou reformas legais drásticas, como a criminalização rigorosa de usuários. A demora em agir pode corroer a integridade territorial da fronteira sul americana, forçando decisões extremas.


**Plausibilidade:** Alta, dado o avanço do crime organizado no México e a persistência da demanda por drogas nos Estados Unidos. A ausência de políticas eficazes reforça a probabilidade de escalada.


#### 4. Desagregação Institucional e Social no Brasil

No Brasil, a quarta crise prevista não se configura como uma guerra tradicional, mas como uma desagregação institucional e social impulsionada pela perda de controle estatal sobre territórios e pelo estímulo indireto à criminalidade por parte de autoridades. Regiões como o Rio de Janeiro, norte e nordeste do país enfrentam agravamento da violência, com cidades como Rio, Fortaleza e Salvador tornando-se parcialmente ingovernáveis. A inação estatal, combinada com posturas ideológicas que protegem criminosos, intensifica o problema.


Esse cenário provoca migrações internas significativas, com populações do norte, nordeste e Rio de Janeiro deslocando-se para o interior de São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Essas regiões, porém, não possuem infraestrutura para absorver tais fluxos, enfrentando aumento do custo de vida, escassez hídrica e sobrecarga urbana. A criminalidade, alimentada pela pobreza e pela desorganização social, tende a se retroalimentar, criando um ciclo de deterioração.


**Plausibilidade:** Alta, considerando a atual escalada do crime organizado e a fragilidade institucional em diversas regiões. A ausência de políticas públicas eficazes torna o cenário de desagregação social altamente provável.


#### 5. Crises Múltiplas na África

A quinta previsão abrange quase toda a África, onde crises hídricas, alimentares, religiosas, étnicas e políticas convergem. Países como Líbia, Egito, Sudão e Nigéria enfrentam escassez de recursos, enquanto conflitos religiosos e étnicos se intensificam na África Subsaariana. A África do Sul, em particular, pode vivenciar tensões raciais extremas, com risco de violência contra minorias brancas. A desglobalização e a crise demográfica global agravam essas vulnerabilidades, interrompendo cadeias de abastecimento e gerando ondas migratórias massivas.


Embora países como Etiópia e Angola possam apresentar maior resiliência, a maioria dos Estados africanos enfrenta dificuldades estruturais para gerir suas populações. A recente crise na produção de cacau, impulsionada por problemas hídricos e pragas, sinaliza desafios futuros na segurança alimentar, aumentando a dependência de importações em um contexto de retração global.


**Plausibilidade:** Muito alta, devido à multiplicidade de crises convergentes e à fragilidade estrutural de muitos Estados africanos. A desglobalização intensifica os desafios, tornando o cenário de instabilidade generalizada altamente provável.


#### 6. Conflito na Síria com Risco de Espalhamento ao Iraque

A sexta crise centra-se na Síria, com potencial de propagação ao Iraque. Contrariando narrativas de estabilização, a Síria permanece um palco de confrontos localizados, envolvendo atores como Rússia, Israel, Irã e Turquia. A cooperação russo-israelense visa conter a influência turca, enquanto o Irã, embora temporariamente retraído, pode retomar sua atuação. A instabilidade síria ameaça desestabilizar o Iraque, cujo governo central é fragilizado, especialmente no norte.


Uma escalada poderia afetar o interior turco e o oeste iraniano, particularmente devido às crises demográficas nesses países. A Turquia, por exemplo, enfrenta uma transformação demográfica que pode reduzir a população étnica turca a metade do total, intensificando tensões internas. A interação com conflitos no Cáucaso, mencionada anteriormente, aumenta o risco de uma crise regional mais ampla.


**Plausibilidade:** Alta, considerando a persistência do conflito sírio e a fragilidade do Iraque. O envolvimento de múltiplos atores regionais e globais eleva a probabilidade de escalada.


#### Considerações Finais

As seis crises previstas pelo autor refletem a complexidade do cenário geopolítico atual, marcado pela convergência de fatores como desglobalização, crises demográficas e fragilidades institucionais. Embora as projeções sejam fundamentadas em tendências observáveis, sua realização depende de variáveis como a capacidade de lideranças globais em mitigar conflitos e a ocorrência de eventos imprevistos. Regiões tradicionalmente consideradas voláteis, como a Península Coreana ou Taiwan, são vistas como menos propensas a crises devido à vigilância constante dos atores envolvidos. Por outro lado, a Península Arábica, especialmente a Arábia Saudita, demonstra resiliência por meio de manobras geopolíticas eficazes e reformas internas.


A análise apresentada reforça a necessidade de monitoramento contínuo dessas regiões, com atenção às interconexões entre crises locais e dinâmicas globais. A plausibilidade das previsões varia, mas todas apontam para um futuro de desafios significativos, exigindo respostas coordenadas e estratégicas.




Os EUA e a Escalada Contra o Mundo Multipolar


Os Estados Unidos estão intensificando ameaças de conflito contra o que chamam de mundo multipolar, com foco inicial no Irã. Recentemente, foi anunciado que sanções secundárias serão impostas a qualquer país que compre petróleo iraniano. O novo Secretário de Defesa, Pete Hegseth, fez declarações diretas ao Irã, acusando o país de fornecer apoio letal aos houthis no Iêmen. "Sabemos exatamente o que vocês estão fazendo", afirmou, advertindo que o Irã enfrentará consequências em um momento e local determinados pelos EUA.


Não surpreendentemente, as negociações entre EUA e Irã foram adiadas. Além disso, um recente "acordo de minerais" mencionado em publicações como o *The Telegraph* culpa Vladimir Putin pela invasão da Ucrânia, mas também aponta Donald Trump como responsável indireto pelo conflito, sugerindo que os EUA têm usado a Ucrânia como um palco para confrontar a Rússia. Desde o início da invasão russa, os EUA forneceram apoio financeiro e militar significativo à Ucrânia, enquanto as vendas de armas ao país seguem em ritmo acelerado.


Essa postura beligerante não se limita à Rússia ou ao Irã. Parece que a administração Trump está simultaneamente desafiando três potências emergentes: Rússia, Irã e China. A retórica sugere que os EUA estão em guerra não apenas contra esses países, mas contra a própria ideia de um mundo multipolar, promovendo uma agenda de dominação global por meio de guerras e monopólios econômicos. Essa estratégia visa manter outras nações em desvantagem, enquanto os EUA consolidam seu poder.


Nada disso é novo. O *Projeto 2025*, um documento que delineia prioridades políticas para a administração Trump, já indicava a continuidade de conflitos, especialmente na Ucrânia. Não há evidências de esforços genuínos para a paz; pelo contrário, o objetivo parece ser manter a Europa como um ator ativo no conflito ucraniano, enquanto os EUA voltam sua atenção para a China. Mesmo antes da posse de Trump, a Casa Branca anunciou planos para vender até 50 milhões de dólares em armas à Ucrânia. No entanto, a questão permanece: com que recursos a Ucrânia está pagando por essas armas? A resposta é clara: com o dinheiro fornecido pelos próprios EUA e pela Europa, que sustentam a economia ucraniana. Essa prática, embora apresentada como transacional, é uma continuação da política de apoio indireto iniciada pelo governo Biden.


No caso do Irã, a possibilidade de paz parece ainda mais remota. Relatórios como *O Caminho para a Pérsia* (Brookings Institution, 2009) já sugeriam estratégias para evitar a responsabilidade direta dos EUA em um conflito, delegando ações militares a aliados como Israel. Essa tática é semelhante ao uso da Ucrânia contra a Rússia ou das Filipinas e Taiwan contra a China. A recente retórica de Hegseth contra o Irã também reflete a frustração dos EUA com sua incapacidade de neutralizar o movimento Ansar Allah no Iêmen. Pela primeira vez, a mídia americana admitiu que mísseis antinavio dos houthis danificaram um porta-aviões dos EUA, expondo vulnerabilidades significativas.


No Iêmen, os EUA enfrentam dificuldades para estabelecer superioridade aérea, mesmo contra um adversário que não possui o poderio militar de nações como Irã ou China. Sistemas de defesa aérea dos houthis têm derrubado drones americanos, como os MQ-9, forçando os EUA a adotar táticas menos eficazes, como ataques de longa distância. Se os EUA enfrentam tais desafios no Iêmen, como poderiam lidar com um conflito direto contra potências como Irã ou China?


Essa escalada contra múltiplos adversários levanta dúvidas sobre a viabilidade da estratégia americana. Muitos esperavam que Trump buscasse acordos com potências multipolares, mas suas ações indicam o oposto. No Iêmen, os houthis continuam a desafiar as forças americanas, enquanto na Ucrânia os EUA lutam para sustentar sua guerra por procuração contra a Rússia. A China, por sua vez, mantém uma postura de estabilidade, ignorando provocações e investindo em parcerias globais.


A estratégia dos EUA parece depender de sanções, guerras por procuração e pressão econômica para isolar seus adversários. No entanto, esses esforços têm se mostrado ineficazes. A Rússia permanece resiliente, o Irã continua a expandir sua influência, e a China fortalece sua posição como líder global. Além disso, políticas internas de Trump, como tarifas comerciais, estão alienando aliados e prejudicando a economia americana, especialmente com a retaliação chinesa nas exportações de terras raras, essenciais para a indústria militar.


Em resumo, os EUA estão enfrentando um cenário de declínio de sua hegemonia. Sua incapacidade de vencer conflitos menores, como no Iêmen, e de sustentar guerras por procuração, como na Ucrânia, expõe fraquezas significativas. Enquanto isso, nações como China, Rússia e Irã estão construindo um mundo multipolar que desafia a dominação americana. A insistência em estratégias assimétricas, como sanções e conflitos indiretos, pode causar destruição, mas não garante vitória. O futuro da política externa americana dependerá de sua capacidade de se adaptar a essa nova realidade ou de continuar a se isolar em sua busca por supremacia.


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