TARIFAÇOS DOS EUA FORTALECEM OS BRICS
Quando as nações constroem muros em vez de pontes, a história sussurra um aviso. As tarifas impostas pelo ex-presidente Trump foram concebidas como armas, mas, por vezes, a espada volta-se contra a mão do guerreiro. Hoje, testemunhamos uma dessas reviravoltas não intencionais.
Em vez de enfraquecer seus rivais, as tarifas empurraram a China para um abraço mais profundo com a aliança dos BRICS. Um agrupamento antes visto como um experimento agora emerge como um palco alternativo para o drama global. Richard D. Wolff já dizia que a economia não é apenas números, mas sim relacionamentos.
Imagine uma mesa de família. Se você fecha a porta na cara de um convidado, ele pode encontrar outro lar para se sentar à mesa, talvez uma mesa mais calorosa, generosa e unida do que a sua. Foi exatamente isso que aconteceu.
As tarifas, destinadas a isolar a China, acabaram motivando-a a estreitar laços com Brasil, Rússia, Índia e África do Sul. Esses laços estão começando a moldar uma nova geometria de poder. Considere o ponto de inflexão em 2018, quando os Estados Unidos introduziram tarifas sobre o aço e a tecnologia chinesa. Pequim não cedeu.
Em vez disso, mudou de direção. O comércio com parceiros dos BRICS se expandiu. Acordos cambiais se aprofundaram. A Nova Rota da Seda encontrou novos canais através dos corredores dos BRICS. É a clássica história da água que contorna a pedra: você pode bloquear um riacho, mas ele aprende a cavar vales em outro lugar.
Uma vez cavados, esses vales podem se tornar rios que nenhuma tarifa consegue represar. Em segundo lugar, há a lição das consequências não intencionais. Pense nas palavras de Thomas Edison: “Eu não falhei. Apenas encontrei dez mil maneiras que não funcionam.” A política também pode revelar caminhos que não funcionam. As tarifas não trouxeram empregos de volta às cidades americanas como muitos esperavam.
Pelo contrário, aumentaram os preços para agricultores que compram máquinas e para famílias adquirindo itens do dia a dia. Embora a intenção fosse proteger, o resultado foi que muitos americanos pagaram mais no caixa. Enquanto isso, as indústrias chinesas, embora pressionadas, aprenderam a ser resilientes. Investiram em tecnologia própria, encontraram mercados no exterior e se apoiaram ainda mais em parceiros dispostos a permanecer ao seu lado nos BRICS.
Em terceiro lugar, isso não é apenas sobre nações, mas sobre visão. Os BRICS não são perfeitos, nem representam a solução definitiva para a desigualdade global, mas simbolizam uma fome por alternativas. Imagine uma orquestra mundial onde, por décadas, um único maestro definiu o ritmo. As tarifas marcaram o momento em que outra seção da orquestra afinou seus instrumentos e começou a tocar em conjunto. Melodias diferentes, talvez desiguais no início, mas inconfundivelmente novas. E o público — as nações do Sul Global — está ouvindo.
O que isso significa para pessoas comuns? Para você e para mim, significa que o mapa está mudando. Não vivemos em um tempo de declínio, mas de rearranjo. A história dos BRICS mostra que a pressão pode criar possibilidades. Assim como sementes brotam nas rachaduras do concreto, as nações encontram força na adversidade. E os indivíduos também.
Quando uma porta se fecha, outras se abrem. Quando um mercado seca, outro é descoberto. Quando uma aliança termina, outra começa. Isolamento, guerra, solidariedade. Ao longo da história, um padrão se repete: tentativas de cortar, enfraquecer ou excluir um povo muitas vezes acabam aproximando-o ainda mais.
As nações, como os indivíduos, raramente aceitam o isolamento como destino. Elas se adaptam, buscam aliados e transformam adversidades em motivos para se unir. É isso que vemos acontecer em tempo real com a China e a aliança dos BRICS após as tarifas de Trump. O que era para criar divisão acabou por uni-los ainda mais.
Imagine um comerciante em um mercado de vila que, de repente, ergue muros ao redor de sua banca e declara: “Não vendo para você, a menos que seja nos meus termos.” Os clientes podem reclamar, mas não passam fome. Eles caminham até outras bancas, trocam entre si, criam novas receitas com ingredientes diferentes. Logo, a banca murada fica em silêncio, enquanto uma rede vibrante cresce ao seu redor. O ato de exclusão não cria dependência; cria engenhosidade.
É assim que o isolamento gera solidariedade. Quando uma porta se fecha, as pessoas naturalmente se reúnem em torno de outra. Em 2018, o governo Trump anunciou tarifas pesadas sobre produtos chineses. A ideia era simples, pelo menos no papel: tornar as importações chinesas mais caras, incentivar a produção americana e pressionar Pequim a fazer concessões. Mas a economia global não é um tabuleiro de xadrez com respostas previsíveis. É mais como uma floresta viva, com incontáveis conexões.
Corte um galho, e as raízes crescem mais fortes. Bloqueie um caminho, e os animais abrem outra trilha. Ao tentar isolar a China, os Estados Unidos não a encurralaram. Pelo contrário, empurraram-na a olhar com mais atenção para parceiros dispostos a negociar em outros termos, especialmente dentro dos BRICS. O Brasil ofereceu alimentos e matérias-primas. A Rússia compartilhou energia e cooperação militar. A Índia proporcionou um vasto mercado e uma presença equilibradora. A África do Sul serviu como ponte para o continente africano. Em cada relação, a necessidade levou a China a aprofundar laços.
As tarifas sobre o aço incentivaram empresas chinesas a investir em novas ligas e tecnologias, que encontraram compradores no Brasil. As restrições à exportação de tecnologia motivaram a China a acelerar o desenvolvimento de semicondutores em casa, ao mesmo tempo em que intensificava parcerias de pesquisa com a Rússia. O isolamento forçou a busca por alternativas e, nesse processo, a solidariedade cresceu onde antes havia hesitação.
Isso não é apenas geopolítica; reflete a experiência humana. Quando alguém se sente excluído, geralmente recorre ao seu círculo mais próximo em busca de apoio, valorizando esses laços de novas formas. Pense em trabalhadores em greve, barrados nos portões da fábrica. Eles compartilham comida na linha de piquete, formam amizades mais fortes e até se educam mutuamente sobre direitos e estratégias. A tentativa de isolá-los fortalece sua união.
A China, enfrentando tarifas que fecharam portas tradicionais de comércio, tornou-se mais deliberada em abrir novas. Dentro dos BRICS, discussões sobre uma moeda comum ganharam força. Acordos comerciais começaram a contornar o dólar em favor de moedas locais. Projetos de infraestrutura, como ferrovias e portos, receberam financiamento conjunto. Esses não foram movimentos cosméticos, mas de sobrevivência, feitos sob pressão, que revelaram oportunidades antes ocultas.
Assim como o ferro sob calor se transforma em aço, nações sob pressão podem forjar alianças mais fortes e duradouras. A ironia é poderosa. Ao tentar isolar a China, Washington forneceu, sem querer, o argumento mais forte para a solidariedade: a sobrevivência em um sistema hostil. Parceiros que antes viam os BRICS como um grupo frágil de debates começaram a perceber seu valor como escudo e plataforma para um tipo diferente de globalização — uma nascida não da dominação, mas da necessidade.
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