OURO E PETRÓLEO

A China e a Rússia têm utilizado o ouro como instrumento de proteção contra sanções ocidentais, transformando o petróleo em uma oferta estratégica que eleva seu preço relativo no mercado global. Recentemente, a Índia também começou a adotar esse mesmo mecanismo.


Diferentemente de ciclos históricos, a relação entre ouro e petróleo não apresenta sinais de reversão à média histórica, uma vez que o mercado de petróleo, cuja dimensão é de 10 a 20 vezes maior que o do ouro, está direcionando investimentos diretos ao ouro como reserva neutra.


Frequentemente, questiona-se por que a relação ouro-petróleo, ou seja, a quantidade de barris de petróleo necessários para adquirir uma onça de ouro, tende a aumentar significativamente, em vez de retornar à média histórica de 40 a 50 barris por onça, como observado em períodos anteriores. A seguir, esclarece-se a relevância dessa dinâmica, especialmente para os membros do Grupo dos 50, destacando os fatores estruturais que sustentam essa tendência.


### A centralidade do petróleo na economia global

O petróleo é um recurso fundamental, pois a energia é a base de qualquer atividade econômica. Sem energia, não há produção, transporte ou funcionamento de sistemas econômicos. O mercado de petróleo, cuja produção física anual, em termos de valor, é de 10 a 20 vezes superior ao do ouro, constitui um fluxo econômico de grande magnitude. Esse fluxo está sendo crescentemente canalizado para o ouro, que atua como reserva de valor neutra.


A China, como principal importadora de petróleo, tem desempenhado um papel crucial ao precificar o barril marginal em yuan, com liquidação final em ouro. Essa estratégia visa reduzir a dependência do dólar, que está sujeito a sanções geopolíticas e pressões inflacionárias. Esse processo cria um ciclo de retroalimentação, no qual o preço do petróleo eleva o valor do ouro, oferecendo proteção aos exportadores, como a Rússia, contra riscos geopolíticos, ao mesmo tempo em que estabiliza os preços para a China. Essa dinâmica acelera a transição de um sistema financeiro global centrado no dólar para um modelo alternativo.


### A singularidade do ouro como reserva de valor

A relação entre ouro e petróleo, em detrimento de outros metais ou ativos, é explicada pelas características únicas do ouro. Diferentemente de outros metais, como prata ou platina, que possuem amplas aplicações industriais (como em eletrônicos ou catalisadores), o ouro é um ativo puramente monetário, com baixa volatilidade associada a usos industriais. Essa característica o torna ideal como reserva neutra, especialmente em contextos de crises globais de dívida soberana, nas quais ativos como títulos ou moedas fiduciárias, como o dólar, podem ser confiscados ou desvalorizados.


Exportadores de commodities, como a Rússia, preferem o ouro como forma de pagamento residual, após a aquisição de produtos chineses, uma vez que a China busca evitar a flutuação do yuan ou o desenvolvimento de uma indústria offshore. Ativos alternativos, como o Bitcoin, são considerados especulativos e suscetíveis à centralização, enquanto o ouro mantém sua confiabilidade histórica para bancos centrais em um sistema financeiro multimoeda.


### Fatores estruturais da valorização da relação ouro-petróleo

A tendência de aumento da relação ouro-petróleo (medida em barris de petróleo por onça de ouro) é impulsionada por mudanças estruturais no sistema monetário global, que incluem:


1. **Adoção do ouro como ativo de reserva neutro**: Países estão recorrendo ao ouro para proteger suas reservas contra instabilidades geopolíticas e econômicas.

2. **Precificação do petróleo em yuan pela China**: A transição para o yuan como moeda de referência no mercado de petróleo reduz a dependência do dólar.

3. **Liquidação em ouro**: A utilização do ouro como forma de liquidação final reforça seu valor como reserva.


Esses fatores indicam que o aumento da relação ouro-petróleo não é um fenômeno cíclico temporário, sujeito à reversão à média, mas sim uma expansão estrutural e permanente. O mercado de petróleo, devido à sua escala, atua como um "balão" que infla o valor do ouro, consolidando sua relevância em um sistema financeiro global em transformação.


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