A LIGA MUNDIAL ANTICOMUNISTA


**A Liga Mundial Anticomunista (WACL) e a Gênese da Operação Condor**


A Liga Mundial Anticomunista (WACL, do inglês *World Anti-Communist League*) foi uma organização influente durante a Guerra Fria, desempenhando um papel central na articulação de redes repressivas globais, incluindo o embrião da Operação Condor. Sua história conecta regimes autoritários, ex-colaboradores fascistas e ditaduras latino-americanas em uma cruzada anticomunista.


### 1. Origens e Fundação (1966-1967)

A WACL foi criada em 1966, em Taipei, ou 1967, em Seul, dependendo da fonte, a partir da fusão de ligas anticomunistas regionais, especialmente a Liga Anticomunista dos Povos da Ásia (APACL). Suas raízes remontam à vitória comunista na China (1949) e à Guerra da Coreia (1950-1953), com forte influência de regimes conservadores como o Kuomintang de Taiwan e o governo sul-coreano. No contexto da Guerra do Vietnã e da doutrina de contenção dos EUA, a WACL surgiu para coordenar esforços anticomunistas transnacionais.


### 2. A Conexão com o Fascismo

Um dos aspectos mais controversos da WACL foi sua integração de figuras da extrema-direita europeia com históricos ligados ao nazismo e fascismo, sob a lógica de que "o inimigo do meu inimigo é meu amigo". Entre os envolvidos estavam:

- **Theodor Oberländer** (Alemanha Ocidental): Ex-membro do Partido Nazista, acusado de crimes de guerra.

- **Hjalmar Hérnandez** (Suécia): Líder neonazista.

- **Veteranos do Exército de Libertação Russo (ROA)**: Russos anticomunistas que colaboraram com os nazistas.


Esses grupos viam no anticomunismo uma oportunidade de reabilitação, trazendo sua experiência em contrainsurgência para a luta global contra o comunismo.


### 3. O Protótipo Asiático

A APACL, precursora da WACL, foi um laboratório de repressão. Regimes autoritários de Taiwan, Coreia do Sul e Vietnã do Sul desenvolveram a doutrina de "segurança nacional", que tratava comunistas e simpatizantes como ameaças existenciais. Métodos brutais, como tortura e esquadrões da morte, foram testados na Ásia e depois exportados para a América Latina.


### 4. Expansão para a América Latina e a Operação Condor

Nos anos 1970, a WACL encontrou terreno fértil nas ditaduras militares latino-americanas. Figuras-chave incluíam:

- **Mario Sandoval Alarcón** (Guatemala): Líder do Movimento de Liberação Nacional e vice-presidente da WACL, conectando a América Latina a redes asiáticas e europeias.

- **João Baptista Figueiredo** (Brasil): Ex-chefe do SNI e presidente do capítulo brasileiro da WACL, antes de assumir a presidência do Brasil.


Embora a WACL não tenha criado diretamente a Operação Condor, ela forneceu:

- **Espaço de articulação**: Um fórum onde militares e serviços de inteligência das ditaduras latino-americanas estabeleciam contatos e coordenavam ações fora de canais diplomáticos.

- **Doutrinação**: A ideia de uma luta global contra "subversivos", sem barreiras nacionais.

- **Troca de táticas**: Conhecimento sobre tortura, desaparecimentos forçados e assassinatos políticos.


### 5. A WACL como Eixo Global

A WACL uniu três mundos:

- **Ex-fascistas europeus**, com sua experiência repressiva e ódio ao comunismo.

- **Regimes asiáticos**, que serviram como laboratório de métodos brutais.

- **Ditaduras latino-americanas**, que adotaram essas práticas em suas "Guerras Sujas".


Assim, a WACL foi um dos principais veículos para a globalização da extrema-direita anticomunista, criando o ambiente para a repressão transnacional da Operação Condor.


**Leituras recomendadas**:

- Anderson, Scott e Jon Lee. *The World Anti-Communist League: Inside the Secret Global Terror Network*.

- Dinges, John. *The Condor Years*.

- Gonzalez, Eduardo. “A Liga Anticomunista Mundial: nazistas, asiáticos e a gênese da Operação Condor”. *Revista Espaço Acadêmico*, nº 230.

- *Los Archivos del Terror del Paraguay* (documentos que conectam as ditaduras à WACL).


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