OS BRICS AVANÇAM

 Os países do BRICS e os países do sul global estão desenvolvendo seus próprios sistemas financeiros e bancários, utilizando suas próprias finanças, dólares e euros, para financiar grande parte de seus comércios e até mesmo projetos de infraestrutura. Esse esforço é liderado principalmente pela China, que possui enormes reservas de câmbio estrangeiro e grandes superávits comerciais com os Estados Unidos e a Europa.  


Todos os dias, eles acumulam novos e significativos volumes de capital que podem investir, pagar ou utilizar internamente na China. Essa foi uma notícia pouco divulgada na maioria dos lugares, com exceção da Nigéria, mas serve como um exemplo claro do que está ocorrendo atualmente em diversas regiões da África, Ásia e América do Sul. O tema ganhou destaque nas redes sociais.  

O projeto ferroviário da Nigéria recebeu uma infusão de US$ 250 milhões do Banco de Desenvolvimento da China. O projeto total deve gerar cerca de US$ 973 milhões, segundo a Reuters. O *China Morning Post* investigou a origem e os motivos por trás do financiamento.  

Trata-se de um modelo de contratação e pagamento, então destacaremos os pontos principais:  

- O projeto foi suspenso em 2020 pelos bancos chinesas, mas retomado com novos recursos.  

- A ferrovia Kaduna-Kano será financiada em 85% pela China e 15% pela Nigéria, integrando-se às redes ferroviárias chinesas já existentes no país.  

O Banco Exim da China inicialmente planejava fornecer materiais para a linha Kaduna-Kano, mas reconsiderou devido a incertezas sobre o pagamento. A solução encontrada foi utilizar um empréstimo do Banco de Desenvolvimento da China, que considera o projeto comercialmente viável. A pergunta é: por que o Banco Exim não fechou o acordo? A resposta está nas moedas utilizadas.  

O Banco de Desenvolvimento da China emitirá o empréstimo em **euro**, não em renminbi (moeda chinesa). Isso ocorre porque as taxas de juros em euro estão abaixo de 4%, enquanto as em renminbi são mais altas. A construção será realizada pela China Civil Engineering Construction Corp, hoje uma das maiores empresas de engenharia do mundo.  

Há, porém, uma inconsistência: as taxas de juros na União Europeia (3,8%) estão subindo desde 2022, enquanto as da China (3,5%) estão em queda. Bancos chineses têm custos menores para captar recursos em renminbi do que em euro. A decisão de usar euros se explica pelo fluxo comercial: diariamente, mais de US$ 1 bilhão em euros chega à China devido ao superávit comercial com a UE.  

Em 2023, a UE registrou um déficit comercial de US$ 387 bilhões (≈ € 380 bilhões) com a China. Os US$ 250 milhões enviados à Nigéria equivalem ao que a China obtém em comércio com a UE a cada **6 horas**. Ou seja, a China pode financiar toda a ferrovia nigeriana com apenas **um dia** de superávit comercial com a Europa.  

A China evita utilizar reservas internas, preferindo reinvestir os recursos obtidos no exterior (como euros em Hong Kong) em infraestrutura na África ou América do Sul, em vez de repatriá-los ou investir em títulos europeus.  

No caso nigeriano:  

- A ferrovia fortalecerá as redes logísticas chinesas na África.  

- A obra será executada por empresas chinesas, gerando empregos locais durante a construção.  

- Após a conclusão, a China terá acesso a fábricas, minas e hubs logísticos essenciais para suas operações globais.  

A Nigéria, por sua vez, ganha uma ferrovia de passageiros praticamente **grátis**. Se o país não quitar o empréstimo, a China pouco se importará: o valor equivale a um dia de comércio com a UE. O foco chinês está na estabilidade geopolítica e no acesso a recursos, não no retorno financeiro imediato.  

Os países do BRICS e aliados produzem commodities a custos significativamente menores que Europa e EUA. Exemplos:  

- **Rússia**: maior exportador de grãos.  

- **Brasil**: líder em alimentos e açúcar (US$ 339 por tonelada, contra US$ 458 na Tailândia e US$ 470 na Índia).  

Investimentos chineses em infraestrutura (ferrovias, portos) ampliaram a produtividade dessas economias. Contratos de longo prazo garantem preços estáveis aos produtores, desviando commodities dos mercados ocidentais. Enquanto isso, a escassez eleva preços na Europa e EUA, mas os consumidores chineses e do BRICS pagam menos.  


Açúcar

- **EUA**: Preço subiu 70% desde 2019 (importação majoritária do México, com safras ruins).  

- **China**: Preço estável desde 2019, com queda de 20% em 2023 (importação do Brasil, maior produtor global).  

O Brasil exportou 31,7 milhões de toneladas de açúcar em 2023, com compradores como Indonésia, Índia e Egito — todos membros ou parceiros do BRICS.  

A mensagem é clara:  

1. **Preços baixos**: Compre commodities e energia de membros do BRICS.  

2. **Infraestrutura**: Receba investimentos chineses em troca de acesso a recursos.  

3. **Independência financeira**: Negocie sem depender de bancos ocidentais.  

Se fosse um "vendedor do BRICS", a proposta seria:  

*"Junte-se a nós para obter infraestrutura, mercados garantidos e preços competitivos. Assine aqui e transforme sua economia."*

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