Dois fatores geoeconômicos importantes contribuíram para a guerra do genocida israelense Netanyahu contra o governo islâmico do Irã: as rotas ferroviárias que conectarão Pequim a Teerã e Pyongyang a Moscou.
Em meio à fumaça espessa da guerra, Genevieve Donnellon-May (GDM) opinou no SCMP sediado em Hong Kong em 18 de junho que os “bombardeios israelenses são mais um desafio ao novo corredor ferroviário China-Irã, quando “semanas antes dos ataques aéreos, uma nova rota comercial terrestre foi lançada para ajudar o Irã a contornar sanções e promover suas ambições regionais”.
O novo corredor ferroviário China-Irã tem 10.400 km de extensão, partindo da cidade chinesa de Xi'an — nota: uma cidade predominantemente islâmica que conheço muito bem e onde estão localizadas as famosas estátuas dos Guerreiros de Terracota — e isso reduz a duração logística para 15 dias, em comparação aos 40 dias do transporte marítimo.
O GDM comenta que “esta é uma rota ambiciosa” que atravessa “Cazaquistão, Uzbequistão e Turcomenistão”.
Além disso, “poderia eventualmente conectar-se com a África, os países do Golfo Pérsico e a Europa(sic)”.
O GDM conclui que “para os EUA e Israel, a crescente profundidade e integração do Irã na infraestrutura eurasiana é alarmante”.
Um dia após o cessar-fogo imposto por Trump a Israel e Irã, o @SprinterObserver expõe que o novo trem entre China e Irã contribuiu muito para o ataque de Israel e EUA contra o Irã, cuja característica é “evitar os mares, sanções e bases militares dos EUA.
Além da China fornecer ao Irã máquinas, eletrônicos e outros bens, o Irã está se tornando o novo centro de trânsito no mapa da Eurásia.
Já disse isso inúmeras vezes: o Irã é a força vital dos corredores geoeconômicos das três potências do BRICS na Eurásia.
De acordo com o SprinterObserver, a nova rota ferroviária China-Irã "quebra o monopólio marítimo dos EUA" quando "o Estreito de Ormuz e o Canal de Suez não são mais as únicas artérias de transporte".
Para o SprinterObserver, a guerra entre os EUA e Israel contra o Irã não é apenas sobre plutônio, urânio ou mudança de regime, mas sim "principalmente uma luta por rotas de transporte".
Ele afirma que ninguém entende isso melhor do que os estrategistas: "Se o Irã conseguir escapar de seu isolamento logístico, ele se tornará uma ponte entre dois centros de poder global".
Não se trata apenas de reatores: "trata-se de logística e controle" e "mina a 'dependência marítima' dos EUA", ao mesmo tempo em que "fortalece o relacionamento China/Irã/Rússia" e "cria uma alternativa terrestre à logística ocidental" quando "a guerra não é travada apenas nos céus, mas também nas ferrovias".
Três dias antes do ataque de Israel ao Irã, a Russia Today anunciou que “Moscou e Pyongyang (nota: capital da Coreia do Norte) retomarão a rota ferroviária direta mais longa do mundo”, cuja distância é de mais de 10.000 km e duração de 8 dias.
É impressionante que as duas rotas ferroviárias — a nova rota China-Irã e a relativamente antiga rota Moscou-Pyongyang, que, na minha opinião, estendem a lendária Ferrovia Transiberiana — tenham surgido em paralelo antes, durante e depois da "guerra dos 12 dias" entre Israel, os EUA e o Irã. Será muito esclarecedor ver como o papel da Índia será moldado.
Extensão
O corredor ferroviário China-Irã. Inaugurado em maio de 2025, esse corredor conecta a China ao Irã em apenas 15 dias, desafiando rotas marítimas tradicionais e contornando sanções ocidentais.
O corredor ferroviário China-Irã é uma nova rota de transporte de carga que liga Xi’an, no centro da China, ao porto seco de Aprin, perto de Teerã, no Irã. O trajeto atravessa Cazaquistão, Uzbequistão, Turcomenistão e Turquia, cobrindo milhares de quilômetros em cerca de 15 dias — metade do tempo necessário para a rota marítima pelo Canal de Suez, que leva 30 dias. Esse projeto é parte da Iniciativa Cinturão e Rota, a estratégia chinesa para integrar a Ásia, o Oriente Médio e a Europa por meio de infraestrutura.
Por que isso importa? Primeiro, eficiência. A ferrovia reduz custos logísticos e acelera o transporte de mercadorias, como eletrônicos chineses e petróleo iraniano. Segundo, geopolítica. O Irã, sob sanções dos EUA, usa o corredor para se conectar ao mercado asiático e contornar restrições ocidentais. É um passo ousado na estratégia iraniana de “olhar para o leste”, priorizando parcerias com a China e outros países não alinhados com o Ocidente.
Vamos aos números. A China é o maior comprador de petróleo do Irã desde 2018, e o comércio bilateral cresceu 12% em 2024, chegando a US$ 38 bilhões. Esse corredor reforça um acordo de 25 anos assinado em 2021, que prevê US$ 400 bilhões em investimentos chineses no Irã, em setores como energia e transporte.
O porto seco de Aprin, o maior terminal ferroviário do Irã, é o coração logístico dessa operação. Ele permite que mercadorias sejam transferidas rapidamente para outros destinos, como a Europa, sem depender de portos marítimos. Além disso, o corredor faz parte do Corredor Internacional de Transporte Norte-Sul, o INSTC, que conecta o Sul da Ásia à Europa, competindo diretamente com rotas controladas pelo Ocidente, como o Canal de Suez.
Países como Cazaquistão, Uzbequistão e Turquia também estão na jogada, trabalhando juntos para padronizar tarifas e operações. Isso cria uma rede integrada que pode transformar a Eurásia em um hub comercial mais independente do Ocidente. Mas nem tudo são flores — já vamos falar dos desafios.
O corredor China-Irã é mais do que trilhos e trens; é uma peça no xadrez geopolítico. Para o Irã, ele é uma tábua de salvação contra sanções americanas, permitindo que o país se posicione como um hub logístico entre Ásia e Europa. Para a China, é uma forma de expandir sua influência na região e garantir rotas comerciais seguras, longe do controle ocidental, como o Estreito de Malaca.
Mas isso gera tensões. O corredor desafia iniciativas apoiadas pelos EUA, como o Corredor Econômico Índia-Oriente Médio-Europa, o IMEC. Além disso, a inauguração em maio de 2025 coincidiu com ataques de Israel ao Irã, o que levantou especulações em redes como o X sobre uma possível reação ocidental ao projeto. Embora essas alegações não sejam confirmadas, elas mostram como o corredor pode ser visto como uma ameaça aos interesses dos EUA e de seus aliados.
A ferrovia também fortalece os BRICS, grupo que busca um sistema comercial multipolar. Com a China e o Irã no centro, o corredor pode ser um passo para reduzir a dependência do dólar e das rotas marítimas dominadas pelo Ocidente.
Apesar do potencial, o corredor enfrenta obstáculos. O principal é a segurança. O conflito entre Israel e Irã é uma ameaça constante. Ataques à infraestrutura iraniana poderiam interromper o funcionamento da ferrovia. Além disso, há rumores — ainda não confirmados — de que a China estaria fornecendo materiais para mísseis iranianos, o que poderia escalar tensões com o Ocidente.
Do lado econômico, a China tem seus próprios desafios. A operadora ferroviária chinesa, China Railway, carrega uma dívida de quase US$ 1 trilhão, e projetos da Cinturão e Rota nem sempre dão retorno rápido. No Irã, a infraestrutura, como o porto de Aprin, precisa de modernização para suportar um volume maior de carga. Por fim, os impactos nas comunidades locais ao longo do trajeto ainda são pouco conhecidos, o que pode gerar resistência.
Olhando para frente, o corredor China-Irã pode ser apenas o começo. Há planos para expandi-lo até a Europa, criando um megacorredor leste-oeste. Projetos como a ferrovia Rasht-Astara e a integração com a rede elétrica russa via Azerbaijão mostram que o Irã quer ser um hub de transporte e energia. Se bem-sucedido, o corredor pode redefinir o comércio na Eurásia e fortalecer a influência da China e do Irã, mas o caminho é cheio de incertezas.
O corredor ferroviário China-Irã é um projeto ambicioso que une economia e geopolítica. Ele promete reduzir custos, acelerar o comércio e desafiar a ordem global liderada pelo Ocidente. Mas os riscos — de conflitos regionais a desafios financeiros — não podem ser ignorados. Será que esse corredor vai transformar a Eurásia em um novo centro de poder?
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