Tiradentes, o herói dos quatro quintos.

A Minas Gerais do século XVIII foi RICA, próspera, cidades fervilhando de vida, de arte, música, levantando igrejas, formando corais, pequenas orquestras, produzindo mestre-escolas, criando irmandades, ensinos, asilos, bibliotecas, orfanatos, prefeituras, organizando guardas, bandas, bombeiros, mineiros e regimentos. Foi uma incrível autonomia política, sob um ativismo municipal independente, local, provincial, livre de intervenções federais (sobretudo se compararmos com o Brasil de hoje).

A pujança intelectual e a ascenção social foi ampla, natural, constante. Aleijadinho, Lobo de Mesquita, Chica da Silva, não são figuras isoladas, mas regra geral. Negros trabalhadores conquistavam a alforria, às centenas, faziam pequenos negócios, fabriquetas, empreendiam, enricavam, viravam gente do leite, do queijo, da banha, da goiabada, partes significativas de um sistema produtivo em ascenção, sob um raro equilíbrio, pouco conhecido em outras paragens. Quase não havia crimes. Todos se ocupavam, se encaravam, se entendiam e seguiam suas vidas, e eram boas.

Como explicar tantos mulatos e negros artistas excepcionais? A classe em maior número, os escravos nas fazendas ou no serviço das casas grandes, tinham suas próprias roças no entorno, constituíam famílias, eram bem-tratados, vestidos, alimentados. O 'negrinho do pastoreio' jogado no formigueiro é história gaúcha, cruel, inusitada, horror que não penetrou as Minas Gerais. Não que fosse um mar de rosas, mas era um mar onde você podia nadar e não se afogar.

A classe dominante, fazendeiros e coronéis, gente branca, donas do ouro, das casas de fundição, chefes das minas, traziam geólogos e naturalistas do reino. Acatavam, respeitavam uma cultura superior, monárquica, ultramarina, discreta, estranha. Seus FILHOS foram a 'esquerda-caviar' da época, literatos ociosos, revolucionários afrancesados, juventude abastada, viajada, mimada, cheia de idéias 'progressistas', libertárias. Esses, que vão clamar contra o 'quinto dos infernos', nunca não tiveram o olho gordo nos outros quatro quintos, no grosso da riqueza real, das próprias Minas Gerais.

OS INCONFIDENTES FORAM CONSPIRADORES, chiques, secretos e articulados, socialistas de uma era idílica, simbólica, perdida nas eras. No fim, meteram a culpa no mais fraco, esquartejado, e saíram todos, quase que ilesos. Mas voltarão muito mais fortes em 1822, para separar o brasileiro do português do reino, e dividir o império ultramarino cristão.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Wall Street e a 'revolução' russa

Israel FORJOU o ataque do 07 de outubro

IA determina a destruição em Gaza