O DECLÍNIO DA DOUTRINA MONROE

A Nova Ordem Multipolar e os Corredores Geoeconômicos: O Declínio da Doutrina Monroe


O cenário geopolítico contemporâneo, também profundamente geoeconômico, reflete a ascensão de uma ordem mundial multipolar, conforme destacado pelo *Financial Times*. Novos corredores econômicos, que conectam a Ásia Central à América do Sul, simbolizam essa transformação, desafiando paradigmas tradicionais de poder global.


Um dos fatores que alimentam as tensões regionais, como o recente conflito de 12 dias entre Israel/União Europeia e o Irã, está relacionado ao corredor geoeconômico liderado por Rússia e Irã, com acesso ao Oceano Índico. O Irã, peça central na arquitetura econômica dos BRICS, fortalece sua relevância com a recente conectividade ferroviária com a China, consolidando sua posição como eixo estratégico do bloco.


Na América do Sul, as dinâmicas geopolíticas também se intensificam. As críticas públicas do ex-presidente norte-americano Donald Trump ao presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, centradas na desdolarização e nas decisões do último encontro dos BRICS no Rio de Janeiro, bem como a imposição de tarifas de 50% a partir de 1º de agosto, sinalizam um divisor de águas. Nesse contexto, o acordo para o corredor ferroviário bioceânico Brasil-China emerge como um marco estratégico.


A inauguração do porto de Chancay, no Peru, construído pela China, representa uma ruptura com a Doutrina Monroe, que por quase dois séculos bloqueou influências externas no continente americano em favor do unilateralismo dos Estados Unidos. A conexão ferroviária-marítima entre o Brasil, potência do Atlântico Sul, e a China, potência do Pacífico, sepulta essa doutrina anacrônica, conforme já apontado há mais de uma década por análises sobre a ascensão chinesa na América Latina, descrita como um "dragão ou panda" em sua integração econômica.


O portal *Apocalypseos* destaca que o corredor bioceânico, ligando o porto de Ilhéus, no Atlântico brasileiro, ao mega-porto de Chancay, no Pacífico peruano, reduz o tempo de transporte para a Ásia de 40 para 28 dias. Mais do que eficiência logística, esse projeto representa a consolidação de uma nova soberania econômica. Pela primeira vez, o Brasil integrará suas linhas ferroviárias Norte-Sul, Oeste-Este e Centro-Oeste em uma única artéria transcontinental, atravessando estados como Mato Grosso, Rondônia, Acre e a Bolívia.


Esse corredor insere-se no âmbito do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC), pilar do desenvolvimento industrial brasileiro, articulado com a Nova Indústria Brasil, a Transformação Ecológica e as Rotas de Integração Sul-Americanas. O acordo entre os presidentes do Brasil e da China reforça esses quatro eixos, redesenhando o mapa logístico da região em um contexto de pós-dolarização.


Paralelamente, a Rússia e o Paquistão também avançam na criação de um corredor geoeconômico pós-dólar, sinalizando a consolidação de uma rede logística global que desafia a hegemonia financeira tradicional. Esses desenvolvimentos serão abordados em análises futuras.


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