Militares Brasileiros

 **Os Militares Brasileiros e a Democracia: Uma Análise Crítica das Contribuições de Maria Celina D'Araujo e Celso Castro**


**Introdução**


A relação entre os militares e a política no Brasil é um tema central para compreender a dinâmica geopolítica do país, especialmente no contexto da redemocratização pós-1985 e das tensões que persistem na consolidação democrática. Maria Celina D'Araujo e Celso Castro, renomados pesquisadores do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC/FGV), oferecem contribuições fundamentais para essa análise, examinando o papel das Forças Armadas na política, na sociedade e na defesa nacional. Este artigo, fundamentado em suas obras, adota uma abordagem científica e crítica para explorar como os militares brasileiros têm se posicionado na democracia, os desafios do controle civil e as implicações geopolíticas de sua influência, com ênfase em uma perspectiva dissertativa e formal.


**O Papel dos Militares na Transição Democrática**


A transição do regime militar (1964-1985) para a democracia, iniciada com a eleição indireta de Tancredo Neves em 1985, marcou um momento crucial na história brasileira. Em *Democracia e Forças Armadas no Cone Sul* (1999) e *Militares e Política na Nova República* (2000), D'Araujo e Castro analisam como as Forças Armadas se adaptaram a um contexto de crescente controle civil. Os autores argumentam que, embora a redemocratização tenha estabelecido um governo civil, a ausência de uma política de defesa robusta e a fragilidade das instituições civis permitiram a persistência de uma influência militar significativa. A criação do Ministério da Defesa em 1999, sob a presidência de Fernando Henrique Cardoso, foi um marco para subordinar os militares ao poder civil, mas sua implementação enfrentou resistências culturais e estruturais dentro das próprias Forças Armadas.


Essa análise revela uma tensão central: a dificuldade de consolidar o controle civil em um país onde os militares historicamente exerceram papéis políticos. D'Araujo e Castro destacam que, na ausência de uma doutrina clara de defesa nacional, os militares frequentemente preencheram lacunas deixadas pelo poder civil, o que levanta questões sobre a autonomia das Forças Armadas em um regime democrático. Essa dinâmica tem implicações geopolíticas, pois a influência militar pode afetar a formulação de políticas externas e a percepção do Brasil como uma democracia consolidada no cenário internacional.


**Memória e Repressão: A Ditadura Revisitada**


A trilogia organizada por D'Araujo, Castro e Gláucio Soares – *Visões do Golpe* (1994), *Os Anos de Chumbo* (1994) e *A Volta aos Quartéis* (1995) – oferece uma análise profunda da memória militar sobre o regime de 1964. Por meio de entrevistas com oficiais, os autores exploram como os militares percebem o golpe, a repressão e a abertura política. Um exemplo notável é a entrevista com o ex-presidente Ernesto Geisel, publicada em *Ernesto Geisel* (1997), na qual ele critica a politização de militares, como Jair Bolsonaro, a quem qualificou como “mau militar” por sua indisciplina institucional. Essa crítica reflete uma tensão interna nas Forças Armadas entre a lealdade à hierarquia e a tentação de intervenção política.


Os autores argumentam que a memória militar sobre a ditadura é marcada por uma visão ambivalente: de um lado, a justificativa do golpe como uma resposta à ameaça comunista; de outro, o reconhecimento de excessos durante a repressão. Essa dualidade tem implicações geopolíticas, pois a ausência de um enfrentamento claro dos crimes da ditadura – como a tortura e as violações de direitos humanos – compromete a legitimidade do Brasil em fóruns internacionais de direitos humanos. Além disso, a persistência de narrativas militares que glorificam o regime autoritário alimenta tensões domésticas, especialmente em momentos de polarização política.


**Cultura e Identidade Militar**


Celso Castro, em particular, oferece uma perspectiva antropológica sobre os militares brasileiros, como em *O Espírito Militar* (1990) e *Antropologia dos Militares* (2009, com Piero Leirner). Ele examina a construção da identidade militar, marcada por valores como hierarquia, disciplina e patriotismo, que moldam a visão de mundo dos oficiais e praças. Essa cultura, segundo Castro, cria uma separação entre os militares e a sociedade civil, o que dificulta a integração das Forças Armadas em um projeto democrático inclusivo. Por exemplo, a percepção de que os militares são “guardiões da nação” pode levar a uma visão de superioridade em relação às instituições civis, com reflexos em sua atuação política.


Essa análise é relevante para a geopolítica, pois a identidade militar influencia a formulação de políticas de defesa e a postura do Brasil em questões estratégicas, como a segurança na Amazônia ou a participação em missões de paz. A resistência à subordinação civil, enraizada na cultura militar, pode limitar a capacidade do Brasil de projetar uma imagem de potência democrática no cenário global.


**Gênero e Modernização nas Forças Armadas**


Outro aspecto abordado por D'Araujo e Castro é a inserção de mulheres nas Forças Armadas, analisada em *Pós-modernidade, Sexo e Gênero nas Forças Armadas* (2002). Os autores destacam avanços, como a abertura de carreiras militares às mulheres, mas também apontam desigualdades persistentes, como barreiras à ascensão a cargos de comando e preconceitos de gênero. Essa questão reflete um desafio mais amplo de modernização das Forças Armadas, que precisam se alinhar aos valores democráticos de igualdade e inclusão.


Do ponto de vista geopolítico, a incorporação de gênero nas Forças Armadas brasileiras é um indicador de alinhamento com normas internacionais, especialmente em organizações como a ONU, que valorizam a participação feminina em operações de paz. Contudo, as resistências internas revelam um atraso em relação a países com forças armadas mais inclusivas, o que pode afetar a soft power do Brasil.


**Defesa e Política Externa**


Em *O Brasil e as Forças Armadas na Percepção dos Oficiais da Marinha* (1998), D'Araujo e Castro analisam como os militares, especialmente da Marinha, enxergam a defesa e a política externa. Os autores identificam um diálogo crescente entre militares e diplomatas na Nova República, mas também uma visão tradicionalista que privilegia a soberania nacional e a proteção de recursos estratégicos, como o pré-sal e a Amazônia. Essa perspectiva tem implicações diretas para a geopolítica brasileira, pois influencia decisões sobre parcerias internacionais, aquisição de equipamentos militares e participação em alianças regionais, como o Mercosul.


**Considerações Finais**


As contribuições de Maria Celina D'Araujo e Celso Castro oferecem uma análise crítica e multifacetada do papel dos militares brasileiros na política e na sociedade. Seus estudos revelam que, apesar dos avanços na redemocratização, persistem desafios significativos para o controle civil das Forças Armadas, a reconciliação com o passado ditatorial e a modernização institucional. Do ponto de vista geopolítico, essas questões impactam a capacidade do Brasil de se posicionar como uma democracia consolidada e uma potência regional. A influência militar, se não adequadamente subordinada às instituições democráticas, pode comprometer a estabilidade política interna e a projeção internacional do país. Assim, as obras de D'Araujo e Castro são essenciais para compreender as tensões entre poder militar e democracia, oferecendo subsídios para um debate informado sobre o futuro do Brasil no cenário global.


**Referências**


- D'Araujo, M. C., & Castro, C. (1999). *Democracia e For_APPLICATIONS Armadas no Cone Sul*. Rio de Janeiro: FGV.

- D'Araujo, M. C., & Castro, C. (2000). *Militares e Política na Nova República*. Rio de Janeiro: FGV.

- D'Araujo, M. C., Soares, G. A., & Castro, C. (1994). *Visões do Golpe*, *Os Anos de Chumbo*, *A Volta aos Quartéis*. Rio de Janeiro: Relume-Dumará.

- D'Araujo, M. C., & Castro, C. (1997). *Ernesto Geisel*. Rio de Janeiro: FGV.

- Castro, C. (1990). *O Espírito Militar*. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

- Castro, C., & Leirner, P. (2009). *Antropologia dos Militares*. Rio de Janeiro: FGV.

- D'Araujo, M. C., & Castro, C. (2002). *Pós-modernidade, Sexo e Gênero nas Forças Armadas*. Rio de Janeiro: FGV.

- D'Araujo, M. C., & Castro, C. (1998). *O Brasil e as Forças Armadas na Percepção dos Oficiais da Marinha*. Rio de Janeiro: FGV.


*Nota: Este artigo foi elaborado com base nas obras e temas centrais dos autores mencionados, adaptados para um canal de geopolítica com tom científico e crítico, conforme solicitado.*

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