Os alemães e os reichs

Os alemães sob o Terceiro Reich não devem ser vistos como assassinos fanáticos que apoiaram a ditadura de Hitler por desejarem ver os judeus confinados ou como aqueles que rejeitaram radicalmente o Tratado de Versalhes, com todas suas implicações como o rearmamento e o retorno a hegemonia militar na Europa Central.

A maioria dos veteranos e paramilitares, nacionalistas, tinham demandas semelhantes a certas premissas dos nazistas, contudo o grosso da população priorizava, sobretudo, a estabilidade econômica e política, ausentes durante todos os 15 anos da isentona República de Weimar.

O Segundo Reich (Bismarck) apostou tudo na vitória na I Guerra. Mas, as dívidas na Primeira Guerra se tornaram incomparavelmente maiores do que as receitas. Esperavam que, com a vitória, pudessem anexar territórios a leste, contudo, a Alemanha perdeu e teve que pagar, inclusive, a dívida dos outros.

Como resultado disso e de políticas econômicas absurdas, nos primeiros anos do pós-guerra, os alemães sofreram a maior depreciação econômica da história. A inflação era tanta que no final de 1923 seriam necessários 1 trilhão de marcos alemães para trocar por um dólar. Uma fatia de pão custava 428 milhões de marcos. Uma xícara de café, numa cafeteria, por 5 mil marcos, uma hora depois já estaria valendo 8 mil marcos! Os estivadores iam para o cais roubar as cargas que deveriam transportar, milhares de jovens se juntaram em gangues armadas para roubar fazendas e depósitos de colheitas. A perspectiva da anarquia total e da fome generalizada parecia cada vez mais iminente. Todo esse desespero traumatizou uma geração inteira de alemães.

A inflação foi extinta após o governo alemão fazer uma reforma monetária em 1924, trocando o marco pelo reichsmark, atrelado ao padrão-ouro.

Com o crash de 1929, o pior da história, a situação voltou a piorar, e, desde então, o Partido Nazista saiu da irrelevância para se tornar uma potência eleitoral. O programa econômico de Hitler estabilizou a economia alemã, mas a população civil ficou cativa do seu programa maciço de rearmamento (em 1936, Goebbels anotou no seu diário que a insatisfação por conta disso era grande).

Em 1939, os alemães, inclusive o alto oficialato militar, receberam a guerra com pessimismo. Uma série de generais já tentavam dissuadir Hitler das suas intenções desde, pelo menos, a anexação dos Sudetos na Tchecoslováquia, no ano anterior. Tudo em vão. Os alemães haviam conhecido em 1918 o pior lado da guerra: a humilhação total, a miséria e a fome, agora temiam que os Aliados, mais numerosos e poderosos, ocupassem o seu país, o que os prussianos conseguiram evitar com uma rendição rápida na Primeira Guerra.

Mesmo com a surpreendente vitória na França, em 1940, a atmosfera de mau agouro entre a população civil continuava presente e indissipável, com parcas e constrangedoras manifestações de júbilo pela conquista na Alemanha (adaptado de artigo de Nicolas Carvalho de Oliveira)

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